Exame Logo

Escritório de advocacia cria moeda própria para atender startups

Muitos negócios embrionários não possuem dinheiro para arcar com atendimento jurídico. Um escritório achou a solução para esse problema

Escritório da BNZ for startups, no WeWork Faria Lima: área nasceu neste ano e já tem mais de 25 clientes (BNZ for startups/Divulgação)

Mariana Fonseca

Publicado em 30 de agosto de 2017 às 06h00.

Última atualização em 21 de março de 2018 às 11h42.

São Paulo – O setor de advocacia é um dos mais tradicionais do país – e, na hora de negociar com escritórios jurídicos que possuem décadas de história, as startups costumam enfrentam dificuldades até para de cotar preços.

O velho sistema de pagamento de honorários por hora é financeiramente inviável para muitos negócios inovadores e embrionários. Cada serviço jurídico pode se estender ao longo do tempo e, com isso, o pagamento também será maior.

Veja também

Para as startups, essa impossibilidade de contratar assistência jurídica é catastrófica: a falta de suporte pode gerar complicações legais no futuro (e até levar ao fechamento da empresa).

Então, como as startups podem ter um atendimento jurídico acessível? Foi o que indagou Arthur Braga Nascimento, do escritório de advocacia Braga Nascimento e Zilio. Ele queria mudar a mentalidade do escritório aos poucos e inovar nos serviços oferecidos.

Por isso, o empreendedor criou uma área de inovação interna: a "BNZ for startups". Hoje, o departamento já atende mais de 25 clientes – e tem até uma startup em estágio de incubação.

Inovação dentro de um escritório

Filho de um dos criadores desse escritório de advocacia, Arthur Nascimento teve a ideia de criar um atendimento personalizado para startups quando fazia uma pós-graduação em administração de empresas no Insper.

“No decorrer do curso, tive aulas de empreendedorismo e aprendi muito sobre o ecossistema de startups. Vi que faltavam escritórios jurídicos que pudessem oferecer um serviço acessível a esse público”, conta. "A maioria dos escritórios tradicionais tem uma atuação consolidada, com clientes grandes e uma grife reconhecida. É muito difícil eles mudarem seu núcleo de atuação e oferecem um serviço mais acessível e para startups.”

Segundo Nascimento, a situação no Braga Nascimento e Zilio é um pouco diferente: o escritório nasceu em 1990 e possui poucos sócios, o que facilita a tomada de novas decisões. Por isso, no final de 2016, ele apresentou um projeto de criação de uma área de inovação dentro do escritório. Em janeiro deste ano, o novo braço começou a operar.

Hoje, Nascimento é diretor da área de inovações e startups do escritório, chamada de “BNZ for startups”. “A gente tem uma forma tão diferente de atuação que tem gente que acha que somos uma startup dentro do escritório, mas somos apenas mais uma área com um modelo diferenciado de atuação.”

Moedas pré-pagas

Segundo Nascimento, a "BNZ for startups" foi desenhada com base nos desafios enfrentados pelas startups todos os dias.

“O principal ponto que vimos é o custo dos serviços jurídicos. Por isso, fizemos uma solução diferenciada e independente da relação que elas tenham com aceleradoras, incubadoras e fundos de investimento – já que muitos escritórios que também atendem negócios inovadores operam em esquema de parceria exclusiva”, conta.

Também não há restrições quanto ao estágio em que a startup se encontra - a maioria dos clientes da BNZ são as startups em estágio inicial.

“Você, tendo uma ideia e um plano de negócios, pode ter uma assessoria nossa a preço competitivo. Trabalhamos com startups de todas as fases – desde early stage até mais maduras, captando uma rodada com fundos de venture capital. É mais um ponto de diferenciação em relação a escritórios concorrentes.”

O ponto mais curioso, porém, está no fato de que a "BNZ for startups" opera por meio de um atendimento pré-pago: o cliente já sabe quanto vai gastar para contratar serviços como consultoria tributária, desenvolvimento de contratos societários, memorandos de entendimentos para constituir a startup, registro de marca e de softwares e termos de uso e de privacidade.

O pagamento pré-pago é feito por meio de uma moeda criada pelo escritório, chama BNZ Points. O cliente adquire um pacote mínimo de 2000 BNZs e, a cada serviço, poderá saber de antemão quantos BNZs ele irá custar.

“O modelo tradicional, que funciona por hora, não tem transparência. Você nunca sabe quanto irá gastar no serviço, e geralmente sai mais caro do que o planejado”, afirma Nascimento.

“Transformando em moeda, vimos que poderíamos trazer mais transparência: é um sistema pré-pago em que você usa as moedas de acordo com suas necessidades ao longo do tempo. É uma forma diferente de trabalhar, que as startups enxergam bem.”

O escritório não revela quanto um BNZ vale em reais, por motivos estratégicos. Mas, afirma Nascimento, com o pacote mínimo uma startup pode fazer os principais trabalhos jurídicos a um custo 75% mais barato do que o visto em grandes escritórios.

A "BNZ for startups" também trabalha com serviços avulsos, que custam cerca de 30% a mais do que no esquema de compra de pacotes de BNZs. Cerca de 90% das mais de 25 startups atendidas usam esse modelo de moeda própria.

Planos para o futuro

Enquanto o Braga Nascimento e Zilio está sediado no tradicional bairro do Jardim América, em São Paulo, a "BNZ for startups" se mudou para o espaço de coworking WeWork Faria Lima no mês passado. Até o fim de 2018, a meta é atender mais de 100 clientes.

No momento, a "BNZ for startups" está até incubando uma lawtech, startup do setor jurídico, dentro de seu espaço. “Ela vai ficar seis meses dentro do escritório, pivotando o produto. No final, os empreendedores lançarão no mercado um sistema de busca de correspondências formatado já com a estrutura e os processos do Braga Nascimento e Zilio. Essa solução irá agregar velocidade ao nosso trabalho nessa área.”

Segundo Nascimento, abrir uma área de inovação dentro de um escritório tradicional possui duas grandes vantagens. A primeira é a fidelização de clientes. “Ajudando as startups desde sua fase de construção, elas podem se desenvolver e virarem clientes fiéis nossas, inclusive do escritório tradicional.”

Além disso, o próprio Braga Nascimento e Zilio pode se reinventar a partir do contato com os clientes – o que é visto no caso da incubação da lawtech. “Por conta desse departamento, mudamos a cabeça de quem trabalha aqui – e isso é difícil de acontecer em um escritório de advocacia. É um valor que entregamos ao escritório não apenas em receita, mas em acompanhamento de mercado, inovação e velocidade.”

Acompanhe tudo sobre:EmpreendedorismoEscritórios de advocaciaInovaçãoStartupsWeWork

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de PME

Mais na Exame