Escola de inglês foge das aulas chatas com app, realidade virtual e robôs
A rede de escolas franqueadas Beetools nasceu a partir de um professor de inglês, uma startup e o desejo de dar aulas de idiomas de forma diferente
Mariana Fonseca
Publicado em 29 de junho de 2018 às 06h00.
Última atualização em 29 de junho de 2018 às 06h00.
São Paulo - Na maioria das escolas de idiomas , a realidade é a mesma: os alunos ficam sentados em horários fixos, escutando o professor falar. De vez em quando, realizam conversas em grupo. Mais raramente ainda, levam alguma pesquisa ou exercício para casa, a serem feitos com a ajuda da internet.
Menos de 3% dos brasileiros dominam o inglês - e isso diz muito sobre a ineficiência dos modelos atuais de ensino. Mesmo com anos de democratização dos smartphones, poucas escolas de idiomas aplicam de fato a tecnologia em sua metodologia de ensino.
Fabio Ivatiuk foi franqueado no ramo por dez anos, além de professor de inglês , e sentiu o desinteresse dos alunos na pele. Para ele, era preciso mudar a forma que as classes eram dadas - e radicalmente. A partir da associação com uma startup surgiu a Beetools, uma escola de idiomas que aplica conceitos como inteligência artificial e realidade virtual às aulas.
O modelo de negócio faz sua estreia na ABF Franchising Expo , a maior feira de franquias do Brasil, que ocorre até o próximo sábado (30).
Ideia de negócio
O grande impulso de Ivatiuk para abrir sua própria rede de escola de idiomas foi ver o desânimo em seus estudantes - e prever que sua unidade franqueada não iria para a frente desse jeito.
“Não acho que faz sentido ficar preso em uma classe para aprender inglês, como se faz há décadas, ao mesmo tempo em que a rotina das pessoas mudou completamente. Por isso, me inspirei em negócios de fora do mercado de escolas de idiomas.”
Em seus estudos sobre o mundo de inovação, olhando para empresas como Netflix e Nubank, o educador topou com uma startup chamada Beenoculus, criada em 2015 e especializada em realidade aumentada e virtual. Alguns dos clientes do negócio sãoBraskem, Embraer, Itaú e Renault.Na hora, veio a ideia de usar os equipamentos para provocar uma imersão nos estudantes, fazendo-os ter “um intercâmbio a cada nova aula”, nas palavras de Ivatiuk.
O projeto da escola de idiomas Beetools foi finalizado neste mês e lançado nesta semana. Ivatiuk possui 50% da franqueadora, enquanto a Beenoculus possui a outra metade. Na lista de inovações aplicadas na escola, há vários termos técnicos e difíceis de serem vistos aplicados às salas de aula tradicionais: big data, flipped classroom, inteligência artificial e realidade virtual.
Apps, óculos e robôs
As aulas na Beetools começam antes mesmo de o aluno chegar à sala de aula. O estudante precisa estudar o conteúdo por meio do aplicativo da escola e resolver alguns exercícios. Por meio de big data, a Beetools coleta o desempenho de todos os estudantes e avalia quais são as partes mais fáceis e difíceis das lições virtuais, além de ponderar possíveis mudanças na apresentação das aulas no app (caso a maioria dos alunos tenha errado questões sobre algum conceito).
Na classe, o aluno faz uma nova bateria de exercícios, chamada BeeReady, em um tablet. A resolução costuma levar poucos minutos. Quem dá o feedback da lição não é o professor, mas o Watson, tecnologia de inteligência artificial criada pela gigante IBM. Os relatórios gerados são repassados ao educador.
“Achamos que o Watson é mais exigente do que o professor, que muitas vezes não corrige vícios de pronúncia, como a diferença entre pronunciar head e red ”, afirma Ivatiuk.
Após os exercícios com inteligência artificial, o aluno veste os óculos de realidade virtual da Beenoculus, criados em parceria com a Qualcomm, e pode fingir que está, por exemplo, pegando um táxi ou fazendo um pedido de restaurante em Nova York (Estados Unidos).
Interagindo com as personagens, o aluno se sente como o personagem de um seriado, pondera Ivatiuk.Segundo o sócio, em uma sala de aula com 10 alunos, o estudante fala cerca de cinco frases por classe. Na Beetools, cada um dos seis alunos fala de 20 a 50 frases.
Cada aluno só senta com o educador humano no final da aula, já sabendo quais exercícios acertou ou errou no app, nos exercícios com inteligência artificial e no “seriado” com os óculos de realidade virtual - um conceito conhecido como flipped classroom, ou “sala de aula ao contrário”. Para o sócio da Beetools, isso faz com que o atendimento seja mais individualizado e que as perguntas sejam mais focadas nas dificuldades pessoais do estudante.
Após os esclarecimentos, o professor aproveita para introduzir o conteúdo da aula seguinte, como uma nova lista de vocabulários ou um novo verbo. Os ensinamentos se tornarão uma nova bateria de exercícios no app da Beetools - que o aluno deve resolver até a aula seguinte.
O público-alvo da rede são adolescentes a partir de 13 anos de idade e adultos.Diferentemente de escolas tradicionais, não há taxa de matrícula, custo com materiais didáticos e contratos de fidelidade. “Ninguém mais quer assinar um documento garantindo lealdade. Basta olhar para modelos como o Netflix”, diz Ivatiuk.
O usuário baixa o aplicativo da Beetools e compra quantas aulas quiser na unidade de sua escolha. Quanto maior o pacote, maior o desconto. Com os créditos comprados, ele agenda pelo próprio app a aula no horário desejado, das 9h às 19h40. Os alunos podem assistir a quantas classes desejarem por dia - e aprenderem o idioma no seu ritmo.
Para duas aulas por semana, o custo de um semestre fica em 2,1 mil reais. Nesse ritmo, o curso da Beetools dura de dois anos a dois anos e meio.
Expansão
Além de possuir uma sede própria, o negócio abrirá suas cinco primeiras unidades franqueadas na próxima semana em conteineres, em Curitiba (Paraná). Nesse modelo, o tempo de implementação da unidade é de 60 dias. Outras 15 escolas já estão com contrato fechado e serão abertas até o fim deste ano, em estados como Minas Gerais, Paraná e São Paulo.
O investimento inicial para uma unidade franqueada da Beetools é de 300 mil reais, seja no formato de container ou de loja padrão. Com faturamento médio mensal de 100 mil reais, a taxa de lucratividade fica entre 30% e 45% sobre esse valor. O prazo de retorno vai de 12 a 24 meses.
Em 2019, a Beetools planeja implementar sua metodologia em escolas, reduzindo a idade mínima dos alunos para 10 anos.