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Empreendora brasileira fatura na crise com papinha gourmet

Empório da Papinha deve fechar o ano com mais de 10 milhões de reais e faturamento e 109 pontos de venda

Maria Fernanda Rizzo, da Empório da Papinha: crescimento de 70% em 2016 e faturamento de 10 milhões de reais (Divulgação)

Maria Fernanda Rizzo, da Empório da Papinha: crescimento de 70% em 2016 e faturamento de 10 milhões de reais (Divulgação)

RK

Rafael Kato

Publicado em 21 de dezembro de 2016 às 12h08.

Última atualização em 21 de dezembro de 2016 às 13h50.

Reportagem publicada originalmente em EXAME Hoje, app disponível na App Store e no Google Play.

Para combater o estresse da crise, o Brasil está mais natural. Enquanto setores importantes da economia acompanham a economia em queda livre, os produtos naturais devem fechar 2016 com um crescimento de 30%. A cifra deve ficar em torno dos 2,5 bilhões de reais, conforme o Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis). Como costuma acontecer em períodos de forte crescimento, nichos inexistentes há pouco tempo estão despontando.

Uma das empresas mais promissoras desse fenômeno é o Empório da Papinha, criada em 2007 pela professora de Educação Física Maria Fernanda Rizzo. Com um filho recém-nascido, ela se deu conta de que as alternativas de alimentação saudável para crianças não estavam disponíveis nas prateleiras dos principais supermercados do país. Com um investimento de 600.000 reais na primeira cozinha, Fernanda começou a produzir uma série papinhas orgânicas para bebês. Conseguiu, assim, abraçar ao mesmo tempo outro mercado promissor — o de produtos e serviços para bebês.

Desde 2014, quando a empresa faturou seu primeiro milhão de reais, o crescimento foi exponencial. Em 2016, as vendas devem chegar a 10,2 milhões de reais entre as atividades da nova fábrica e os 109 pontos de venda da marca, um acréscimo de 73% em relação a 2015. “No ano passado, recebemos um investimento de 1,6 milhão para a nova unidade de produção, localizada no bairro do Socorro, zona sul de São Paulo. Este aporte nos deu segurança financeira até 2018”, revela Dias. A empresa vende seus produtos em grandes redes varejistas como Pão de Açucar e Hirota e também em 36 lojas próprias, espalhadas entre São Paulo, Sorocaba, São José dos Campos, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre e Manaus.

A principal característica do produto é a ausência de conservantes. Por isso, para que os prazos de validade sejam estendidos, as misturas saem do forno a uma temperatura de 100ºC e são congeladas a -30ºC em menos de quarenta minutos. Após este procedimento, vêm o rótulo e a embalagem. Fernanda afirma que o processo garante uma comida fresca e que pode durar até seis meses se conservada corretamente.

O sucesso do negócio incentivou a empresa a expandir seu terreno de atuação. Recentemente, foi lançada uma linha de produtos focada na alimentação após o para as crianças com mais de um ano, a “Emporinho”. São 36 pratos, como risoto de carne com abóbora e linguado com quinoa e arroz negro. De acordo com Dias, a inciativa gerou resultado nos últimos seis meses e representa 45% do faturamento nas lojas do Empório da Papinha. As porções custam, em média, 20 reais, enquanto as papinhas são vendidas numa faixa de preço que vai de 9 a 20 reais. No caso das papinhas, cerca de 30 sabores compõe o portfólio, que inclui banana, manga, cenoura, maçã, mamão e beterraba. Todos os meses, a empresa vende cerca de 55.000 porções.

Em tempos de discussão de reforma da Previdência, todo brasileiro está careca de saber que a população está envelhecendo. Mas isso não significa que faltem oportunidades para os pequenos. Pelo contrário. A cada minuto, nascem em média cinco brasileiros, e o varejo para bebês e crianças chega a 50 bilhões de reais anuais. Só no primeiro ano de vida dos pequenos, os pais têm um gasto médio de 5.000 reais com produtos e serviços. “Os pais buscam o nosso produto porque ele traz praticidade. Muitos não têm tempo de cozinhar para os filhos”, explica Dias.

Além disso, a busca por uma alimentação balanceada nos primeiros anos de vida é uma preocupação cada vez maior. Uma das explicações para o fenômeno é o aumento da obesidade infantil, cujo ranking coloca o Brasil próximo do topo.

Neste contexto, o Empório da Papinha trabalha com um público-alvo que envolve mulheres de classe A e B. Dias ressalta que, cada vez mais mães precisam aliar a rotina de trabalho à criação dos filhos. Ao considerar um cenário de retração da atividade econômica, o orçamento das famílias não comporta luxos como babás e empregadas domésticas. Consequentemente, comida pronta e congelada, mesmo que a preços de comida de gente grande, vira uma opção. “Como temos lojas em diversas regiões, viramos uma referência até para quem está viajando e longe de casa”, diz.

Com o sucesso da Empório, outras marcas de papinha orgânicas pipocaram nos últimos anos. Em 2014, Amilcar Azevedo, chef do restaurante paulistano Nou, e sua mulher, Karol Azevedo, lançaram a Gourmetzinho, que tem uma loja física em São Paulo e também entrega na região metropolitana. O cardápio é bolado por Azevedo junto com pediatras e nutricionistas, e inclui pedidas pratos como ossobuco com feijão fradinho e agrião.

Também em 2014, foi inaugurada a Cumbuca, com um investimento inicial de 200.000 reais. O diferencial da marca, criada por três mães, é que ela serve papinhas frescas -- e não congeladas, como a maioria dos concorrentes. No ano passado, outras três mães se juntaram para criar a Papababa, que possui uma loja no Itaim Bibi. Outros exemplos vêm surgindo Brasil afora.

Tem mercado para todos? Mesmo com o crescimento do mercado de alternativas naturais, as opções naturais ainda representam um nicho da economia do país. A busca pelas papinhas orgânicas faz parte do cotidiano de um consumidor já acostumado com os hábitos saudáveis e com dinheiro para pagar mais.

Mas o mercado tende a crescer – e a concorrência ficar bem mais pesada. Uma papinha industrializada de marca conhecida pode ser encontrada nos mercados a partir de 5 reais, menos da metade do preço de uma orgânica. Nos Estados Unidos, uma gigante das papinhas, a Gerber, que pertence à Nestle, passou a oferecer uma linha orgânica para competir com marcas que já nasceram orgânicas, como a Ella's Kitchen e a Earth Best, ambas da Hain Celestial, que oferece diversos produtos naturais, e a Plum, líder no mercado. O risco, para a Empório da Papinha e as outras novatas, é que o mercado mude para continuar exatamente igual – dominado pelas gigantes. Seja como for, os pais e mães, com mais opções para escolher, agradecem.

*Com reportagem de Isabel Seta

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