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Empreendedora com Down monta cafeteria e emprega seus amigos

Jéssica Pereira sempre gostou de cozinhar. Juntando cursos na área, sua poupança e o apoio da família, a empreendedora abriu um café inclusivo

Jéssica Pereira, do Bellatucci: empreendedora abriu seu próprio café-bistrô neste mês (Bellatucci/Divulgação)

Mariana Fonseca

Publicado em 29 de julho de 2017 às 08h00.

Última atualização em 29 de julho de 2017 às 08h00.

São Paulo – O bairro do Cambuci, em São Paulo, acaba de ganhar uma nova cafeteria com pitadas de bistrô. Mais do que apenas oferecer um bom café ou um bom nhoque de mandioquinha, o Bellatucci estampa nas paredes o ensinamento que motivou sua criação: nada pode parar nossos sonhos.

A dona do local é a empreendedora Jéssica Pereira, de 25 anos. Ela sempre gostou de cozinhar e, após ter lições com grandes chefs , decidiu abrir seu próprio negócio. E a síndrome de Down não seria uma limitação para isso.

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Com a ajuda dos familiares e com a contratação de amigos que também possuem Down, Jéssica inaugurou o Bellatucci este mês. Apenas no dia de abertura, mais de 200 pessoas foram prestigiar o local – e, de lá para cá, o movimento tem sido bom e há planos de trazer ainda mais atrações ao café-bistrô.

Jéssica Pereira na fachada da cafeteria Bellatucci, no bairro do Cambuci (Bellatucci/Divulgação)

Primeiro emprego e o desejo de cozinhar

“Eu sempre gostei de cozinhar, desde criança. Comecei ajudando a minha mãe, colocando a mesa, fazendo saladas e sucos, essas coisas”, conta Jéssica.

Porém, a vida continuou e o primeiro emprego foi em uma farmácia. “Não gostei porque eu ficava muito parada. Diziam: ‘ah, arruma a prateleira’. Eu arrumava e ficava em pé só. Ficava cansada”, explica.

Com a decepção no emprego, a futura empreendedora decidiu retomar sua paixão por cozinha há cerca de três anos. Fez alguns cursos no Instituto Chefs Especiais. Teve aulas com chefs como Carlos Bertolazzi, Claude Toisgros e Henrique Fogaça e lá aprendeu a fazer alguns carros-chefes do Bellatucci. “Aprendi a fazer bombom, lasanha e nhoque de mandioquinha”, enumera a empreendedora.

Juntando a habilidade na cozinha com as economias vindas de alguns trabalhos com o próprio instituto e com cachês das peças de teatro no Grupo ADID, Jéssica sentou para conversar e contou à família que queria abrir seu restaurante em janeiro deste ano.

“Coloquei meu dinheiro na poupança e falei que meu sonho era abrir meu próprio restaurante”, conta Jéssica. A irmã Priscila Della Bella e o cunhado Douglas Batetucci decidiram abraçar a ideia e se tornaram sócios no que viria a ser o Bellatucci.

“O restaurante, além de ser um investimento grande, pede um ritmo que não combina muito com ela. Então, a gente sugeriu abrir um café bistrô, com alguns pratos”, conta Priscila.

Com pouca verba, toda a família se mobilizou – tanto em boa parte do investimento inicial quanto na reforma do imóvel e pesquisa de fornecedores. O sonho de Jéssica era que seu empreendimento fosse como uma “casa de boneca”: as paredes cor-de-rosa combinam com as cadeiras azuis, e uma lousa no fundo do restaurante possui mensagens inspiracionais.

Parte do interior do café-bistrô Bellatucci (Bellatucci/Divulgação)

O trabalho feito pelos familiares cortou os custos iniciais pela metade, segundo os sócios, ficando em um total de 70 mil reais. Após seis meses de preparação, o café-bistrô abriu as portas, no dia 15 de julho.

O Bellatucci

No Bellatucci, o cardápio vai desde o café e suas combinações até bolos, massas, panquecas, quiches, salgados e tortas. O café abre de segunda a sexta, das 8h às 18h, e de sábado, das 9h às 14h.

A família toda ajuda no restaurante: além da irmã e do cunhado como sócios, a mãe e o pai de Jéssica trabalham na cafeteria.

Os outros quatro funcionários do Bellatucci são amigos de Jéssica, que também possuem Síndrome de Down: eles são contratados em regime freelancer e se revezam em dias e turnos. A amiga Cibele, por exemplo, gosta muito de café e fez um curso para ser barista. Portanto, é responsável pelas bebidas durante seu turno.

Café do Bellatucci (Bellatucci/Divulgação)

“Todos eles têm compromissos e não têm o horário inteiro para trabalhar. A gente conversou com as mães e vimos que o melhor era não trabalhar o dia todo, e sim fazer um rodízio de acordo com a agenda deles”, completa a sócia Priscila.

Além do próprio serviço de cafeteria, o Bellatucci quer trazer outras atividades para o local e transformá-lo em um ponto de encontro: por exemplo, apresentações de dança e teatro e exposições de artesanato e quadros. Especialistas das mais diversas áreas também serão convidados a utilizar o espaço para fazer palestras e orientar parentes de pessoas com Down.

Com poucas semanas de abertura, a casa já está cheia. “Agora de manhã é mais tranquilo, mas na hora de almoço e na tarde a casa enche e muitos pedidos chegam”, diz Priscila.

A ideia para o futuro é oferecer novas porções, com mais cara de bar, e caldos. Também serão feitos eventos temáticos: atualmente já acontece o "dia do nhoque da sorte", seguindo a tradição italiana. No futuro, os planos são abrir durante a noite e também abrir o segundo andar do sobrado para colocar mais mesas.

“Acho tudo isso muito bom para mim. Estou ótima, estou muito feliz. Tenho uma família que me ajuda, eles são minha vida, eles fizeram isso por mim. Só tenho a agradecer meu pai, minha mãe, minha irmã, meu cunhado. Eu nunca vou esquecer isso”, completa Jéssica.

Parte da equipe do Bellatucci, entre familiares e amigos (Bellatucci/Divulgação)

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