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Ele recusou um salário de R$ 45 mil no Google para empreender

Edmar Bulla tinha uma carreira de sucesso. Porém, a naturalização da politicagem empresarial fez com que ele decidisse abrir seu próprio negócio.

Edmar Bulla, CEO da Croma: ele resolveu abrir seu próprio negócio - e já atende dezenas de grandes empresas (Croma/Divulgação)

Edmar Bulla, CEO da Croma: ele resolveu abrir seu próprio negócio - e já atende dezenas de grandes empresas (Croma/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 10 de dezembro de 2017 às 08h00.

Última atualização em 10 de dezembro de 2017 às 08h00.

São Paulo – O que separa um empreendedor de um sonhador? Além de ter uma real capacidade de execução, os futuros donos de negócio devem superar o medo de todo funcionário: perder boas oportunidades de carreira em prol de uma visão ainda incerta de sucesso.

Para o executivo Edmar Bulla, a vontade de empreender falou mais alto. Ele recusou ofertas de emprego em empresas como Google e Microsoft, com salários bem atrativos, para investir no seu próprio empreendimento: uma consultoria de soluções ágeis, inovadoras e personalizadas para grandes empresas.

“Coloquei no negócio tudo que eu queria ter tido de uma consultoria, quando era cliente, e não me foi entregado”, resume Bulla.

Hoje, a Croma atende gigantes como Carrefour, Claro, CVC, Danone, Grupo GPA, Hershey’s, Kroton, MasterCard, McDonald’s, Mitsubishi, Mondelez, Natura, Netshoes, Nextel, Pepsico, Petrobras, TIM e Via Varejo. Para 2018, o negócio pretende chegar a novos setores – e novos países.

Decisão por empreender: recusando propostas irrecusáveis

Bulla nasceu no interior do estado de São Paulo e foi para a capital paulista aos 17 anos de idade. Com graduação em cursos como marketing e filosofia e especialização em marketing digital pela Universidade de Harvard (Estados Unidos), atuou em empresas como Nokia e Pepsico.

Sua carreira era um sucesso – mas Bulla estava infeliz. “Quando eu comecei minha trajetória como executivo, sempre perguntava por que as coisas eram daquela forma e não de outra. E esse não é o modo de operação das empresas: na maioria das vezes, a politicagem se sobrepõe às questões técnicas.”

Cansado da priorização de aspectos internos em detrimento dos benefícios ao consumidor final, o empresário sentia que não conseguia fazer seu trabalho de inovação nas companhias. Tal transformação deveria acontecer por alguém de fora das empresas, como um consultor.

“Queria ter não só liberdade para pensar, mas liberdade para ser quem eu era. Em 2010, enquanto trabalhava na Pepsico, já comecei a engendrar essa ideia do que seria uma boa consultoria de mercado”, conta Bulla.

Enquanto finalizava seu projeto e marcava a data de lançamento do que viria a ser a Croma, porém, o empreendedor recebeu propostas tentadoras: ótimas vagas de emprego na Microsoft e no Google.

Na empresa de Bill Gates, Bulla afirma que chegou até o fim do processo e desistiu de última hora. Dois dias depois, teria recebido uma ligação de um grande executivo do Google com uma proposta de emprego que envolvia um salário mensal de 45 mil reais, para empacotar soluções comerciais de produtos Google e oferecê-las a clientes.

Bulla novamente recusou a oportunidade de emprego e fez o lançamento da Croma em 2011, para a surpresa de todos os seus conhecidos – com exceção de seu pai, que o apoiou no projeto. No primeiro mês de empresa, já tinha três grandes clientes no portfólio, como a companhia de celulares Nextel.

Edmar Bulla no escritório da Croma

Edmar Bulla no escritório da Croma (Croma/Divulgação)

Croma: de consultoria até solucionadora de problemas

A Croma começou apenas como consultoria e agência de pesquisas na área de inovação empresarial. Em 2013, porém, o negócio começou a ganhar contornos mais personalizados e decidiu divulgar uma proposta mais diferenciada aos seus clientes.

Desde 2015 (prevendo as dificuldades que a recessão econômica traria a um negócio de capital intelectual), o empreendimento trabalha por meio de planejamento e execução de projetos individuais, que são divididos em três áreas da empresa: consultoria, pesquisa e capacitação.

A consultoria faz a formulação e implementação de soluções personalizadas para cada empresa, de forma ágil – os projetos costumam ter semanas ou poucos meses de duração – e usando técnicas como design thinking, lean e scrum. Algumas áreas trabalhadas são modelo de negócios, comunicação, transformação digital, marcas e produtos, governança e inovação.

Reunião no escritório da Croma com o público-alvo de um dos projetos da consultoria

Reunião no escritório da Croma com o público-alvo de um dos projetos da consultoria (Croma/Divulgação)

Um exemplo de projeto da área de consultoria ocorreu com a empresa Pepsico, que precisava reformular sua abordagem aos consumidores quanto a seus produtos de “indulgência” (refrigerantes e salgadinhos, por exemplo).

A Croma, então, fez uma pesquisa sobre o índice de permissibilidade de preços e de consumo dos clientes brasileiros, envolvendo desde conceitos de estatística até de marketing.

Após dois meses e meio de projeto, o resultado foi uma nova definição do público-alvo da Pepsico e de qual seria o alimento ideal na visão de seus consumidores. Já há um cronograma de inovação dentro da Pepsico e a estratégia elaborada pela Croma será replicada em outros três países, além do Brasil.

Já a área de pesquisa da Croma elabora estudos pontuais para as empresas, como pesquisas de clima, de neuromarketing, de análise do ponto de venda e de acompanhamento da comunicação e da satisfação do cliente. Um dos diferencias da Croma nessa área, segundo Bulla, é unir técnicas tradicionais de pesquisa quantitativa com estudos antropológicos, psicológicos e semióticos.

A empresa de cosméticos Natura, por exemplo, realizou um teste piloto em cinco praças de negócio. Usando onze técnicas diferentes (como antropologia visual, filmagem oculta, pesquisa quantitativa e semiótica), a Croma redefiniu a aparência do catálogo de produtos em tais praças e treinou os consultores.

Além de economizar milhões por ano com a impressão de papel, o trabalho também gerou 23% a mais de receita incrementável em comparação com o desempenho usual das praças, afirma Bulla.

Por fim, a área de conhecimento tem como objetivo fazer a capacitação dos funcionários da empresa, com foco no amanhã. São feitos estudos de tendências em recursos humanos, eventos, treinamentos e workshops, por exemplo.

Um dos clientes dessa área foi a Coca-Cola, que queria um planejamento mais multidisciplinar na empresa: o time não conseguia entregar. A Croma conduziu um estudo na empresa e percebeu que o problema não estava nos processos, e sim na falta de líderes com perfil executor.

Então, o empreendimento conduziu imersões com os maiores executivos da empresa e realizou ondas de treinamento com 200 funcionários por rodada, incluindo técnicas de design thinking e lean. Com essa capacitação, o trabalho de integração das equipes foi concluído oito meses antes do previsto pela Coca-Cola. Ao todo, foram 66 mil funcionários capacitados.

Funcionários fazem planejamento em escritório da Croma

Funcionários fazem planejamento em escritório da Croma (Croma/Divulgação)

Ao todo, a Croma atende 70 empresas, com projetos de verba bem variável. O negócio tocou 48 projetos neste ano, sendo que já teve 15 projetos sendo tocados simultaneamente – vale lembrar que nenhuma solução consegue ser replicada entre empresas. A empresa não divulga números de faturamento.

Para 2018, o negócio quer crescer em setores como o automotivo, o bancário e o farmacêutico. Também pretende aumentar sua atuação além do Brasil, indo para outros países da América Latina.

 

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