Ela largou o emprego pela maternidade - e fatura R$ 18 mi com seu negócio
Vanessa de Oliveira teve de sair de um trabalho que a impedia de exercer a maternidade. Em sua licença, ideou um negócio remoto que virou rede de franquias
Mariana Fonseca
Publicado em 13 de maio de 2018 às 06h00.
Última atualização em 13 de maio de 2018 às 06h00.
São Paulo - Ser mãe ou crescer na empresa? Essa foi a difícil pergunta que Vanessa de Oliveira teve de responder em 2010, quando teve de escolher entre continuar em uma empresa terceirizada de gasodutos ou acompanhar o crescimento de sua filha.
O caso de Oliveira não é isolado. Infelizmente, muitas companhias ainda seguem uma mentalidade de que não é possível dar flexibilidade de trabalho para quem possui filhos. Com a maioria da responsabilidade pela criação das crianças sendo jogada para as mães, muitas mulheres têm de abandonar seus empregos.
Nessa triste história, porém, há um raio de luz. Cada vez mais elas ainda querem continuar a ter independência financeira - e veem o empreendedorismo como solução. Segundo pesquisa da Rede Mulher Empreendedora, 75% de 1.376 mulheres entrevistadas decidem empreender após se tornarem mães. Existem hoje cerca de 7,9 milhões de empreendedoras no país, de acordo com o Sebrae.
Oliveira, uma dessas mães, decidiu criar o próprio negócio. A Mídia Pane, empresa de publicidades em sacos de pão, faturou 18 milhões de reais em 2017. A empreendedora tem um salário cinco vezes maior do que quando era funcionária - e não voltaria atrás por nada.
Ser mãe ou crescer na empresa?
Vanessa de Oliveira trabalhava na área de comunicação de uma empresa terceirizada de gasodutos. Viajava constantemente para visitar obras em lugares distantes do interior de São Paulo, com difícil acesso à internet e ao telefone.
A funcionária engravidou e teve seu primeiro bebê em abril de 2010. Já na licença-maternidade pensava em investir em um negócio da área de comunicação. A pesquisa incluiu uma conversa com uma colega sobre um modelo de publicidade de sacos de pão que estava se popularizando na Europa.
Após o fim do benefício, Oliveira colocou a filha, com três meses e meio de idade, em um berçário. Quando o bebê ficava doente, tinha de carregá-lo até os locais de obras. Com o tempo, porém, viu que a rotina era insustentável.
“Existe uma pressão muito grande quando as mães retornam ao trabalho e o bebê ainda não está preparado para ser deixado em uma creche. Estava no estágio final de uma obra e novamente iríamos mudar de local. Vi que não haveria possibilidades de continuar no trabalho”, conta.
Dividida entre ser mãe e continuar a fazer carreira na empresa, que não ofereceu opções de trabalho mais flexíveis, a empreendedora abandonou o emprego - e viu no empreendedorismo uma possibilidade de ter uma vida mais equilibrada (e rentável).
Oliveira decidiu investir na ideia de trazer ao Brasil o modelo de publicidade em sacos de pão: chamou seu irmão, o designer Henrique de Oliveira, para ser sócio e criar a logomarca, enquanto ela elaborava o plano de negócio e cotava projetos gráficos. No final de 2010, a Mídia Pane já estava formatada para operar em São José dos Campos (São Paulo).
Crescimento e franqueamento
Oliveira acredita que a Mídia Pane cresceu organicamente, pela demanda por novas formas de publicidade.
“Meu irmão tinha acabado de montar uma empresa de marketing educacional e percebia que as escolas não tinham mais onde anunciar - as páginas de revista e os outdoors estavam todos ocupados na cidade. A mídia digital ainda não estava tão forte. Ele viu uma oportunidade muito grande, e foi isso que aconteceu.”
Os sócios investiram 5 mil reais no negócio. Enquanto Henrique cuidava do design e do site, Vanessa cuidava de produção dos textos publicitários.
O empreendimento fechou contratos com construtoras, escolas, laboratórios e empresas de telefonia. Essas empresas pagam para ter sua publicidade em sacos de pão impressos pela Mídia Pane, que os distribuía gratuitamente nas padarias.
“Porém, nossa quantidade não era suficiente para a demanda delas. Então, algumas padarias também se tornaram clientes e compram sacos de pão personalizados com suas próprias ofertas, oferecendo um valor agregado aos seus consumidores.”
Em seu primeiro ano de operação, a Mídia Pane faturou 300 mil reais. No segundo ano, faturou 600 mil reais. Em 2012, terceiro ano de operação, o desejo de crescer fez o negócio optar por virar uma rede de franquias.
Hoje, cada um dos 263 franqueados é responsável por prospectar clientes e rodar as publicidades da Mídia Pane. A expansão, claro, gerou mais concorrentes no mercado de publicidade em sacos de pão.
“Investimos em deixar nosso franqueado mais preparado para apresentar e vender. Além disso, estamos sempre mudando nosso branding e investindo em publicidade complementar nas redes sociais, fazendo com que o cliente nos perceba como um produto atual. Isso nos dá um maior retorno na ponta.”
Em 2017, a Mídia Pane faturou 18 milhões de reais. “Foi um ano de contenção, mas conseguimos nos sair bem. As empresas precisam continuar divulgando promoções se quiserem sair da crise, e focamos em alcance de consumidores e preços menores para atraí-las.”
Para este ano, as perspectivas são mais otimistas. O negócio continua investindo em marca e tentando conquistar novos clientes, como instituições públicas. A empresa acabou de publicizar campanhas contra a dengue e a febre amarela, por exemplo.
Oliveira conta que seu pró-labore é cinco vezes maior do que quando era funcionária - e isso porque boa parte do faturamento é reinvestida no crescimento da Mídia Pane.
Ela alerta para as mães que querem empreender que essa é uma tarefa exigente, especialmente no começo, em que o esforço é extra para fazer o negócio emplacar. Mesmo assim, Oliveira não teria feito diferente se pudesse voltar atrás.
“Se não tivesse escolhido o empreendedorismo, penso que estaria trabalhando como louca em troca de pouco. Sempre será trabalhoso conciliar família e negócio, mas é possível ver o crescimento do seu filho e ver, de fato, como sua dedicação impacta diretamente nos resultados.”