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Dono de rede com 600 unidades ensina como superar o fracasso

Levanta, sacode a poeira e… empreende de novo. Rogério Gabriel, fundador do Grupo Prepara, reagiu ao fracasso e teve forças para recomeçar 

Rogério Gabriel, fundador do Grupo Prepara, fala sobre os desafios de empreender (Endeavor/Reprodução)

Mariana Desidério

Publicado em 15 de novembro de 2016 às 08h00.

Última atualização em 15 de novembro de 2016 às 08h00.

Nos anos 80, em seu primeiro trabalho como trainee, Rogério Gabriel teve um chefe sensacional. Conversando um dia com sua namorada –hoje esposa–, compartilhou: “O cara é tão bom que, quando eu tiver minha empresa, vou contratá-lo.”

Sim, ele admite que tinha ali um quê de jovem sonhador. Mas é verdade também que, desde muito antes do episódio, Rogério já queria empreender.

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A inspiração veio primeiro do avô. Descendente direto de italianos analfabetos que imigraram para trabalhar na lavoura, foi o único dos 11 irmãos que deixou o campo para trabalhar na cidade, como mascate. Seu filho seguiu caminho parecido, comprando café do produtor e vendendo para o torrefador. Por toda a vida, os dois foram sócios e levavam o pequeno Rogério, na época com 9 ou 10 anos, para acompanhar as negociações.

“Não sei por que, mas isso me encantava… partiam de um preço, entravam em divergência, de repente saíam do assunto, começavam a falar da família e voltavam a negociar. Com certeza isso me influenciou na trajetória empreendedora.”

Um caminho de precisão

Na faculdade, Rogério optou por matemática e computação. Da Universidade Estadual de Campinas, foi direto para o mercado, trabalhar como trainee em São Paulo. Só que o conforto começou a incomodar:

“Estou muito bem aqui, então me demito”, avisou ao chefe, “minha hora de arriscar é agora”.

Preferiu arriscar no interior do estado, mas não sem antes ter mais uma experiência como funcionário. Ainda assim, tinha o tempo todo a clareza de que passaria apenas um período de aprendizado para poder construir sua própria história. Foi parar em uma indústria de suco de laranja, em um projeto de transição de um sistema da época para a plataforma de PC. A redução de custos da indústria com essa transição foi tão significativo que a lanterninha acendeu: decidiu que seu negócio seria vender computadores.

A Precisão Informática surgiu em 1990, em São José do Rio Preto, cidade escolhida por conta da menor concorrência. Rogério se inspirou em grandes cadeias de lojas norte-americanas, como a BestBuy, para aproximar do público um equipamento que era distante, “coisa de nerd”, ele brinca. Aproveitou até a lua de mel em Miami para fazer benchmark nas lojas gringas. Em pouco tempo, já representavam as melhores marcas no Brasil e estavam entre as 100 melhores e maiores empresas do segmento.

Até que aparece a correnteza

Você pode ser um excelente empreendedor, mas nunca vai poder controlar tudo. Antecipar, talvez, mas controlar jamais. O mercado, por exemplo, sofreu mudanças que atingiram a Precisão em cheio.

Muito rapidamente, o computador virou commodity, enquanto os e-commerces surgiam, impondo uma concorrência forte ao varejo físico.

“Lembro quando começou a chegar cliente na loja perguntando ‘mas vocês fazem que nem as pontocom, com preço mais baixo e em 10x sem juros?’”

Rogério e sua equipe entravam em uma curva descendente. Para completar, a alta do dólar e outras questões macroeconômicas agiram como a correnteza em um mar que já estava agitado.

A autoconfiança do empreendedor afundou junto. Ele já havia tentado de tudo e mesmo assim não conseguia aceitar que aquele negócio não podia ser salvo. “A BMW eu vendi sem remorso algum. A dor mesmo era a de estar perdendo a empresa que eu havia construído.”

Admitir a queda para se reerguer

Rogério conta que o sentimento de incompetência veio acompanhado também do orgulho. Seu pai poderia ter-lhe ajudado, mas não ficou sabendo de nada. Toda vez que perguntava ao filho onde estava o carro, escutava uma história inventada qualquer.

“Mas mãe é mãe, né?”, complementa, “Por mais que não tivesse muito estudo, tinha uma inteligência emocional apuradíssima.” Mesmo sem ter certeza do que estava acontecendo, ela presenteava Rogério com livros. O gesto ficou marcado na memória do empreendedor porque era a forma de ela ajudá-lo a recuperar a autoestima, que naquelas horas estava em baixa.

Algumas vezes, Rogério pensou em jogar o sonho para o alto. Como tinha boa formação, seria relativamente fácil arranjar um emprego. Começou a escrever o currículo e caiu a ficha: aquilo não o deixaria feliz.

Depois de um processo doloroso de aceitação, estava determinado a encontrar sua próxima grande oportunidade. Sem saber, estava debaixo do seu nariz. Apostou em um dos braços da Precisão, dedicada a treinamentos, e criou dela a Prepara Cursos, que acabou virando Grupo Prepara, uma rede que engloba cursos profissionalizantes, complemento escolar e ensino de idiomas com uso de tecnologia.

E aquele chefe que Rogério tanto admirava? Não foi contratado, mas (além de padrinho de casamento) se tornou franqueado. Hoje, o Grupo Prepara tem mais 600 unidades em mais de 400 municípios brasileiros e possui cerca de 200 mil alunos.

Texto publicado originalmente no site da Endeavor

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