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Dinheiro sobrando? Startup troca limite no cartão de crédito por milhas

A Virtus Pay conecta usuários que possuem limite sobrando no cartão de crédito com quem não consegue parcelar compras. Ideia atraiu grandes empresas

Viagem e internet: segundo a Anac, 112 mil voos são cancelados por ano no Brasil, ou 11,6% do total (seb_ra/Thinkstock)

Mariana Fonseca

Publicado em 9 de dezembro de 2018 às 06h00.

Última atualização em 9 de dezembro de 2018 às 06h00.

São Paulo - Existem acumuladores de diversos tipos, dos selos e moedas até bonecos e quadrinhos. Gustavo Câmara foi além e criou uma startup para ajudar a manter sua obsessão viva: ser um “milheiro”, ou acumulador frenético de milhas . Como percebeu, ele não está sozinho no meio hobby, meio renda extra.

A Virtus começou a operar na virada de 2017 para 2018, com uma ideia de negócio que soa óbvia: é possível trocar seu limite no cartão de crédito por milhas. Esse limite, então, é cedido pela startup a quem não conseguiria parcelar compras, em troca de juros.

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Apesar da premissa simples, nos bastidores da Virtus não há sorte de principiante. Seus três fundadores, incluindo Câmara, possuem experiência no setor financeiro, enquanto empresas como BTG Pactual e Visa já apoiaram a startup.

Com quase um ano de operação, a Virtus possui 1.000 usuários, entre doadores de limite e tomadores de crédito. O dinheiro captado é suficiente para operar uma carteira de concessão de ao menos 10 milhões de reais.

Falhas de mercado

A ideia para a Virtus surgiu de um hábito que Câmara tinha há anos: emprestar seu cartão de crédito para a irmã, que queria fazer compras pela internet. “Tinha um bom programa de milhas e fazia de tudo para acumular. Em todo lugar passava compras no crédito”, conta o empreendedor.

Esse hábito de acumular milhas só virou ideia de negócio em 2016, após algumas pesquisas de mercado. Segundo Câmara, o Brasil possui 104 milhões de brasileiros com acesso restrito a crédito, desde os desbancarizados até os que possuem acesso restrito a cartões e financiamentos. Ao mesmo tempo, há 350 bilhões de reais em limites não utilizados nos cartões de crédito do país.

“Setores como o comércio eletrônico, em que metade das compras são parceladas, poderiam ganhar muito mais com o aumento dos usuários que podem dividir o pagamento das suas compras”, diz. Apenas em 2017, o e-commerce faturou 47 bilhões de reais.

Câmara foi um dos fundadores do aplicativo de mobilidade urbana 99 e trabalhou por mais de dez anos na indústria financeira, incluindo a estruturação de cartões de crédito para negócios como Lojas Americanas e Shoptime. Para abrir a Virtus, Câmara se uniu em fevereiro de 2017 aos sócios Fabio Colella, especializado em meios de pagamento e com 15 anos de experiência em bancos e varejo, e Lucas Vieira, com 15 anos de experiência em gestão e estratégia de crédito e cobrança em produtos massificados.

Gustavo Câmara, da Virtus (Virtus/Divulgação)

Para validar a ideia de trocar limites de crédito por milhas, os empreendedores passaram por uma aceleração na Startup Farm. Depois, participaram do programa global de inovação aberta Visa Everywhere Initiative, onde desenvolveram a estrutura jurídica necessária para tal operação, incluindo a possibilidade de oferecer os limites trocados por milhas como parcelamento para desbancarizados ou pouco bancarizados.

O mínimo produto viável (MVP) ficou pronto no final do ano passado e a startup começou a realmente operar em janeiro de 2018.

Como funciona?

Quem quiser ceder seu limite deve entrar no site da Virtus e fazer um cadastro, colocando informações pessoais, como o número do RG, e sobre seus cartões, como quanto limite será concedido e a data de vencimento da fatura (que é quando a Virtus irá fornecer suas milhas).

De acordo com Câmara, o perfil de “milheiro” hoje é o cliente de alta renda, com muito limite sobrando. Não há mínimo de limite concedido pela Virtus, mas o máximo fica em 30 mil reais por cartão.

Esse limite do usuário da Virtus fica congelado e vai para um outro usuário da startup, desta vez cadastrado como interessado em receber dinheiro para poder pagar compras online. A Virtus analisa bancos de dados estruturados, como bureaus de crédito (Serasa e SPC), e também outros seis bancos de dados não-estruturados, como redes sociais.

Após essa análise, o dinheiro é concedido a uma taxa que varia de acordo com o risco de crédito de cada usuário - em média, o juro é de 5% ao mês. Além dessa taxa, outra fonte de monetização para a Virtus são as lojas que venderam para os usuários da startup. Os estabelecimentos podem pedir a antecipação de recebíveis - receber à vista o dinheiro de uma compra que foi parcelada. A startup cobra das lojas juros sobre essa operação ( spread ).

A Virtus possui estabelecimentos parceiros, como a gigante de telefonia Claro, mas seus usuários também podem comprar de estabelecimentos não-parceiros. A diferença está na agilidade e qualidade da análise de crédito concedida, o que se reflete em maior potencial de venda aos parceiros.

Quando a fatura do usuário credor fechar, ele recebe de volta seu dinheiro junto de suas milhas. Em caso de inadimplência do tomador de limite, a Virtus se responsabiliza e cobre o valor usado.

Próximos passos

Neste semestre, a Virtus passou pela segunda turma do BTG Pactual boostLAB, um programa de potencialização para startups de alto crescimento (com inscrições abertas até janeiro de 2019). O objetivo da startup era fortalecer seu sistema de concessão de crédito, por meio do relacionamento com players financeiros.

Durante o boostLAB, a Virtus triplicou o número de emprestadores de limite e de volume de crédito disponível. Além disso, dobrou o número de tomadores e, com isso, as receitas para a startup também duplicaram.

Até o final de 2019, a Virtus projeta chegar a um total de 100 milhões de reais em limites captados e a 60 milhões em operações de crédito diretas ao consumidor. Nesse estágio da startup, de atração dos clientes mais aficionados por milhas, Câmara afirma que o mercado endereçável é de 1,75 bilhão de reais em limites. Se atingido tal valor, a solução pode gerar uma receita adicional de 12 bilhões de reais ao setor de e-commerce.

No futuro, a Virtus espera conquistar 10% do total de 350 bilhões de reais em limites não utilizados nos cartões de crédito do país, chegando a um mercado de 35 bilhões de reais.

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