Depois dos 60 é tempo de empreender: SP tem 120 mil MEIs da terceira idade
Eles já são quase 120 mil Microempreendedores Individuais (MEIs) no Estado de São Paulo e representam 6,1% do total; participação cresce ano a ano
Mariana Fonseca
Publicado em 30 de dezembro de 2018 às 08h00.
Última atualização em 30 de dezembro de 2018 às 08h00.
Foi-se o tempo que aposentadoria significava inatividade. Seja pela necessidade de complementar de renda ou a vontade de atuar com algo prazeroso e oportuno, pessoas com mais de 60 anos escolheram o caminho do empreendedorismo . Só no estado de São Paulo são quase 120 mil Microempreendedores Individuais (MEIs) com 61 anos ou mais. Eles representam 6,1% dos mais de 1,9 milhão de MEIs. No ano passado, essa participação era de 5,7%. Há três anos era de 4,3%.
De acordo com o consultor do Sebrae-SP Ruy Barros, os empreendedores mais velhos, até por terem mais experiência, não se arriscam tanto e procuram identificar uma oportunidade de negócio promissor e também ligado a uma área que eles gostam. “Apesar de estarem ansiosos pelos resultados rápidos, eles assimilam as orientações e fazem a lição de casa e o plano de negócios. Eles planejam mais”, destaca.
Pesquisa do Sebrae-SP sobre empreendedorismo na terceira idade mostra que a principal motivação para abrir o negócio de 36% dos entrevistados foi ter uma fonte de renda ou complementar a renda familiar. Foi o caso do casal que mora em São Paulo, Vicente e Eliane Guimarães, de 64 e 66 anos, respectivamente.
A situação apertou e os ganhos como vendedor de Vicente não estavam fechando as contas. Foi então que surgiu a ideia de comercializar molhos de pimenta, geleias, pastas e conservas. A receita do molho é de Vicente e as outras criações e adaptações são da Eliane, que chegou a trabalhar como professora de informática e antes de empreender era dona de casa. “Hoje sou uma dona de casa tentando ser uma empreendedora”, diz.
A rotina de cuidar da casa e da produção da Vi Pimenteiro é puxada. Comprar os vidros, esterilizar, produzir artesanalmente, etiquetar e vender em eventos. “Minha maior recompensa é essa: ficar feliz. É loucura, tem horas que fico extremamente cansada, mas é compensador. Você se sente útil, se sente capaz. Saímos felizes dos eventos, é muita energia boa. O mais gostoso de tudo não é só vender. É quando a pessoa chega para degustar e elogia. Não tem dinheiro no mundo que pague”, conta Eliane.
As vendas começaram em um bazar no condomínio de uma amiga há um ano. Desde então, não pararam mais. Entre tropeços e acertos, o casal encontrou seu público-alvo: os produtos são vendidos em feiras veganas e vegetarianas. “Nós participávamos de tudo quanto é feira e eventos e aprendemos que não é bem assim. Fiz cursos do Sebrae pela internet, participei de várias oficinas e do projeto de alimentação fora do lar. Aprendi muita coisa. Não consegui colocar tudo em prática ainda. Mas uma das coisas mais importantes que aprendi é que você precisa descobrir quem é o seu público-alvo. Hoje eu sei qual é e é nele que focamos. Na verdade, não temos clientes, temos amigos”, conta Eliane, que está começando a fazer parcerias para ganhar mercado.
Planos futuros
O casal Mauro Imperatori e Ana Maria Pollastrini Imperatori, também de São Paulo, está em busca de uma oportunidade no mercado. Ambos advogados e aposentados, ela com 65 e ele com 84 anos, esperam abrir o negócio com um dinheiro previsto para receber até o fim do ano. “Apesar da idade, estamos com vitalidade para desenvolver uma atividade porque só ser aposentado é muito chato”, afirma Mauro.
Amante da culinária, Mauro tinha o plano inicial de abrir uma empresa de alimentos congelados. Mas, depois do curso Canvas no Sebrae, eles repensaram o projeto e ainda estão decidindo no que investir. “Eu avaliei muito bem que o investimento que terei que fazer exige um prazo de maturação muito grande. Por outro lado, eu, com 84 anos, ainda tenho vitalidade cerebral para fazer alguma coisa. Mas não terei condições físicas de tocar uma empresa de culinária, que é muito cansativa e trabalhosa”, pontua Mauro. Ruy Barros, do Sebrae-SP, lembra que os riscos de abrir um negócio são os mesmos independentemente da idade do empreendedor.
Por isso, ele ressalta a importância do planejamento. “É importante fazer o que gosta. O dinheiro vem em consequência. E não esquecer do planejamento. É preciso identificar três aspectos: quem será o cliente, quem são os concorrentes e quem será o fornecedor ou parceiro”, destaca. Outro ponto de atenção mencionado pelo consultor é a tecnologia, que muitas vezes é um desafio para os mais velhos. A pesquisa do Sebrae-SP mostra que os parentes
são acionados por 44% dos empreendedores quando precisam de alguma informação.
De olho nessa barreira, o protético aposentado Tomaz Vicente da Costa, de 71 anos, procurou ajuda do Sebrae no Alto Tietê para fazer um curso sobre o tema de internet. “Sou leigo nessa área e busquei ajuda para ampliar meu conhecimento”, conta Costa, que vai buscar qualificação para tirar o registro de
corretor de imóveis. “Amo conversar com as pessoas, amo vender. E ser um corretor sem conhecer essa área não vai funcionar”, diz.
Capacitação para quem tem mais de 60 anos
Quem tem mais de 60 anos e está disposto a obter novas fontes de renda pode participar das trilhas de capacitação promovidas pelo Conselho Estadual do Idoso (CEI-SP) e pela Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado em parceria do HCor - Associação Beneficente Síria e apoio do Sebrae-SP. Neste ano, foram realizadas duas turmas em outubro e estão previstas mais quatro turmas com 20 participantes cada no primeiro trimestre de 2019. O curso “Capacitação de idosos para o empreendedorismo” apresentará ferramentas e oportunidades para o desenvolvimento do seu próprio negócio. Informações no e-mail empreendedores@hcor.com.br ou pelo telefone (11) 3053-6611 (ramal 3559).