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Cuidado com o PowerPoint

O americano Christopher Witt, especialista em oratória, alerta sobre os riscos que empreendedores correm ao abusar do PowerPoint para falar com clientes, fornecedores e investidores

"Um líder de verdade não pode confiar apenas no PowerPoint para sustentar os seus argumentos"

"Um líder de verdade não pode confiar apenas no PowerPoint para sustentar os seus argumentos"

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

Agora, o americano Christopher Witt, especialista em oratória, lança uma nova acusação sobre o programa. Em Real Leaders Don't Do PowerPoint ("Líderes de verdade não usam PowerPoint", sem publicação no Brasil), ele afirma que abusar das apresentações com o software pode trazer riscos a qualquer um que precise conduzir um empreendimento - inclusive pequenos e médios empresários à frente de negócios em crescimento.

Witt, que nos últimos 30 anos se dedicou a ensinar empresários, executivos e políticos a falar em público, afirma no livro que o PowerPoint é a perdição para quem pretende se tornar um verdadeiro líder - o que requer permanentemente comunicar-se bem com clientes e fornecedores e motivar funcionários. "Em momentos de crise, de mudanças ou de grandes oportunidades, as pessoas se voltam para os líderes em busca de inspiração, segurança e direcionamento", escreve Witt. "Um líder de verdade não pode confiar que o PowerPoint sustente seus argumentos."

Nessas horas, diz ele, alguém precisa mostrar a cara, pedir a palavra e transmitir a mensagem de forma simples e objetiva. Witt afirma que nada disso é possível na penumbra e atrás de um projetor, como costumam ser as apresentações em PowerPoint. Alguém já viu Bill Gates, criador da Microsoft, dona do software, dizer algo muito importante escondido pelo projetor?

No livro, Witt dá o diagnóstico do que teria se tornado uma espécie de pandemia das apresentações com o programa. Segundo ele, o preço da popularização do PowerPoint foi transformá-lo na muleta favorita de quem vai falar em público, mas não tem muita clareza do que pretende transmitir. Tem-se a (falsa) impressão, diz Witt, de que a pobreza do discurso ficará disfarçada com palavras-chave, frases de efeito, gráficos ilustrativos e imagens.

Witt afirma que atrás de todo negócio bem-sucedido está a figura de um empreendedor que soube compartilhar suas ideias. O mesmo vale para governantes e figuras públicas que conseguem mobilizar pessoas. O livro está cheio de exemplos de excelentes comunicadores, como Steve Jobs, da Apple, Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, e o cantor Bono Vox, da banda irlandesa U2, em suas defesas pelos direitos humanos.


O que funciona? Quase tudo o que Witt recomenda tem sido usado pelos bons oradores há séculos. A principal inspiração do livro é justamente o pai da oratória, o pensador grego Demóstenes, que há 2 500 anos já ensinava os atenienses a falar em público. Witt coloca essas lições numa roupagem moderna, adaptada às ferramentas computadorizadas, mídias digitais, ensino a distância e outras possibilidades de comunicação oferecidas pelas novas tecnologias.

Um ensinamento do livro é que toda mensagem tem até três propriedades fundamentais: criar identidade, influenciar o comportamento das outras pessoas ou inspirá-las. É muito difícil colocar as três juntas no tempo que normalmente se tem para falar em ocasiões de negócios. Portanto, deve-se ter claro qual delas é a mais importante para a situação.

E o que fazer com o PowerPoint, que, segundo uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas, vem embutido em 94% dos microcomputadores no Brasil? É para jogar fora? Bem, nem tanto. Witt acaba absolvendo a ferramenta e admitindo que, eventualmente e no caso de precisar passar informações objetivas e simples, usar o PowerPoint por alguns minutos pode ajudar. O que ele faz questão de deixar claro em seu livro é que informar não é o mesmo que comunicar. E que líderes são aqueles que comunicam - eles deixam que o papel de informar seja assumido por outros talentos da empresa.

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