PME

De olho em crescimento estilo unicórnio, Contabilizei recebe R$ 75 mi

Startup de contabilidade online planeja crescer 200% anualmente até 2021 em um dos piores países para cumprir obrigações fiscais do mundo

Vitor Torres e Fabio Bacarin, da Contabilizei: startup acumula 10 mil clientes e 500 milhões de reais em impostos recolhidos (Marcelo Almeida/Exame)

Vitor Torres e Fabio Bacarin, da Contabilizei: startup acumula 10 mil clientes e 500 milhões de reais em impostos recolhidos (Marcelo Almeida/Exame)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 16 de janeiro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 16 de janeiro de 2019 às 08h18.

Startups que apostam nas ineficiências brasileiras para crescer já viraram rotina, passando por setores como finanças, locação de imóveis e logística. Poucas delas se tornaram unicórnios, ou negócios inovadores avaliados em um bilhão de dólares ou mais, como o aplicativo de mobilidade urbana 99 e o quase banco digital Nubank. A depender das metas agressivas do negócio curitibano Contabilizei, dono de uma plataforma online de contabilidade automatizada, e das quase 2.000 horas por ano gastas por empresários apenas para cumprir obrigações fiscais, em poucos anos o negócio fará parte do clube.

A startup anunciou um aporte de 75 milhões de reais, liderado pelo fundo americano Point72 Ventures. Por trás do investimento estão dados bilionários e milionários sobre o impacto que o negócio gerou em seis anos de atuação. A Contabilizei auditou mais de dois bilhões de reais em faturamento de empresas, gerando 500 milhões de reais em impostos ao governo e uma economia de 250 milhões em serviços contábeis aos seus clientes. O negócio possui 245 funcionários em seus escritórios de Curitiba e São Paulo, atendendo 10 mil clientes ativos por mensalidades que vão de 89 a 289 reais.

A Contabilizei não abre números de faturamento, mas divulga projeções percentuais para lá de ambiciosas. O negócio cresceu entre 100 e 200% de 2016 a 2018. Entre 2019 e 2021, projeta repetir a proporção.

Oportunidade de mercado

Segundo o ranking Doing Business, o Brasil está na 184ª posição de 190 quando o assunto é pagar impostos. Para atender as cerca de 6,4 milhões de micro e pequenas empresas brasileiras, o Brasil possui 66 mil escritórios de contabilidade, de acordo com o Conselho Federal de Contabilidade. Um estudo do Sebrae mostrou que 65% dos donos de negócio no Brasil esperam que o contador seja o principal aliado do negócio, mas o cofundador da Contabilizei, Vitor Torres, estima que apenas 1% dos escritórios tenha soluções que também podem ser acessadas pela internet.

Torres e o empreendedor Fabio Bacarin criaram a Contabilizei em 2013. Por meio da computação em nuvem e processos automatizados por algoritmos, os clientes veem balanços e relatórios em tempo real e contam com suporte adicional de alguns contadores e especialistas. É possível gerar alertas de vencimentos de obrigações financeiras, guias de impostos online e notas fiscais eletrônicas.

A Contabilizei foi considerada uma das 10 empresas mais inovadoras da América Latina em 2017, segundo ranking da revista americana Fast Company. “Eles mapearam toda a jornada do cliente-empreendedor. Com isso, usaram a escala por meio da automatização, a facilidade de uso e o atendimento qualificado como forma de tirar todo o trabalho do pequeno e médio com contabilidade”, analisa Luís Gustavo Lima, sócio na aceleradora brasileira ACE.

Além da tecnologia, outro diferencial da startup é oferecer gratuitamente o serviço de abertura de empresas. Com cinco mil CNPJs criados, a ferramenta é uma forte estratégia de captação de futuros clientes pagantes. Com a estrutura de nuvem, a Contabilizei afirma atender 60 vezes mais PMEs do que a média dos escritórios de contabilidade do Brasil.

Como uma empresa de software como serviço (SaaS), a Contabilizei se monetiza por mensalidades. Elas vão de 89 (prestadores de serviço) a 289 reais (empresas de maior porte). Por conta do quadro mais enxuto de contadores do que o comum, esse pagamento seria até 90% mais barato do que o relatado por clientes que migraram para a Contabilizei vindos de um atendimento tradicional. A startup começou a atender negócios maiores no ano passado e, até o final de 2019, espera que eles representem 27% da base. Com isso, o tíquete médio e o faturamento da startup devem aumentar.

Mercado quente e futuro endinheirado

O mercado de contabilidade é promissor, mas há outras startups no ramo. A Conta Azul, por exemplo, trabalha com contadores desde 2015 e recentemente lançou uma ferramenta para incluir esses profissionais na computação em nuvem. O negócio possui “dezenas de milhares” de empreendedores-clientes ativos e obteve em abril do ano passado um investimento de 100 milhões de reais do conhecido fundo novaiorquino Tiger Global Management. No Brasil, o Tiger já investiu em empresas como 99 e Nubank.

Para Luís Gustavo Lima, da ACE, as empresas possuem missões de negócio, ou jobs to be done, muito diferentes. “Enquanto a Contabilizei se propõe a desburocratizar a contabilidade, a Conta Azul faz a gestão financeira do negócio. São empresas que não se anulam”. Os reais concorrentes da Contabilizei, na visão de Lima, são os próprios contadores, que são realocados diante da automatização progressiva. “São duas propostas diferentes no mercado e acho que há público para as duas. Nós defendemos que temos um negócio inovador, com ganhos de escala por meio de automatização”, complementa Torres.

O aporte de 75 milhões de reais liderado pelo Point72 Ventures foi preenchido também pelo Internacional Finance Corporation (IFC), braço de investimentos em startups do Banco Mundial; pelos fundos americanos Quona Capital, focado em startups de mercados emergentes e aportador em negócios como Creditas e Neon, Quadrant e FinTech Collective. Outras instituições que já investiram na Contabilizei foram os fundos Kaszek Ventures, e.Bricks, Endeavor Catalyst e Curitiba Angels.

O investimento será usado para desenvolver mais automatizações para a plataforma, melhorando o serviço e agilizando processos. Para atingir esse objetivo, a Contabilizei quer contratar mais 50 desenvolvedores neste ano. Até 2021, a equipe total do negócio de 245 para 380 funcionários. Esse dinheiro será fundamental para a Contabilizei continuar crescendo a uma média de 200%, ou o triplo, por ano.

Se cumprir suas projeções, a Contabilizei deverá estar perto de se tornar um unicórnio. Há uma regra conhecida por investidores em startups SaaS chamada T2D3: depois que a receita anual do negócio atingir dois milhões de dólares (ou 7,4 milhões de reais) por ano, esta deve triplicar, triplicar, duplicar, duplicar e duplicar. Em cinco anos, a startup valerá um bilhão de dólares.

Pensando em 10.000 clientes que paguem ao menos 89 reais por mês, a Contabilizei já passou do valor mínimo de receita anual necessário para o T2D3. Agora, resta saber se a conta irá fechar.

Acompanhe tudo sobre:Computação em nuvemContabilidadeInovaçãoPequenas empresasStartups

Mais de PME

ROI: o que é o indicador que mede o retorno sobre investimento nas empresas?

Qual é o significado de preço e como adicionar valor em cima de um produto?

O que é CNAE e como identificar o mais adequado para a sua empresa?

Design thinking: o que é a metodologia que coloca o usuário em primeiro lugar