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Como separar os gastos pessoais dos gastos da empresa

A planejadora financeira Paula Bazzo separou as principais dicas para empreendedores que precisam separar as contas da pessoa física e da pessoa jurídica

Gestão financeira para empreendedores: como separar as contas da empresa das contas pessoais? (Marko Geber/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 24 de agosto de 2021 às 13h00.

Última atualização em 25 de agosto de 2021 às 10h32.

Por Paula Bazzo, planejadora financeira

Uma das primeiras empreendedoras que atendi quando comecei a trabalhar com organização financeira para pequenos negócios foi uma dentista de 58 anos, que estava extremamente confusa com as contas do seu consultório. Dizia-me constantemente que trabalhava muito e não ganhava nada.

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Recordo que dedicamos um tempo significativo na primeira etapa do trabalho: separar as contas da pessoa física e da pessoa jurídica. Usando os dados dos extratos bancários, organizamos e classificamos de uma forma que fosse de fácil compreensão para ela. Foi, então, que ela se surpreendeu: os (aparentemente poucos) pagamentos de sua vida pessoal realizados através da conta da empresa totalizavam R$ 7.000 mensais em média.

Eram contas de condomínio e aluguel residencial, plano de saúde, celular, internet de casa e outros gastos pessoais “irrelevantes”. Ela ficou chocada com a baixa consciência de seu consumo e não foi difícil transformar o sentimento de frustração com seu trabalho e remuneração em uma motivação de se aperfeiçoar.

Como ela, muitos outros empreendedores que atendi desde 2016 manifestam características muito semelhantes: carregam um sentimento de trabalhar muito e ganhar pouco. Consideram o caixa da empresa uma extensão da conta pessoal. Sacrificam o crescimento do negócio, que parece nunca ter recursos para reinvestir, por consumos irresponsáveis dos sócios.

Ao invés de nutrir a fonte de renda, secam-na e não alcançam objetivos pessoais, nem empresariais. A origem de muitos desses problemas podem estar nessa confusão entre finanças pessoais e empresariais. Aqui estão alguns motivos para dar um basta nesta situação.

Tenha clareza

Clareza não é algo que simplesmente temos, é algo que conquistamos a partir do momento que jogamos luz sobre uma situação. O processo de separar as contas nos conduz a ter claro (1) quanto custa a vida pessoal do empreendedor e, portanto, qual a expectativa de remuneração que possui, e (2) quais as despesas fixas do negócio.

As despesas fixas devem prever um “salário” ao dono negócio, tecnicamente chamado de pró-labore. Mesmo que você argumente que o negócio não tem capacidade de lhe remunerar, perceba que isso já é retirado do caixa da empresa: então, dê o nome devido e trace limite para essa retirada. Se não estabelecer claramente quanto ganha, a consequência será um acesso ilimitado ao caixa da empresa. Além do saldo sempre negativo, outro efeito será precificar equivocadamente seus produtos e serviços.

Naturalmente que é preciso considerar a maturidade do negócio, pois há uma renda pessoal desejada e há uma remuneração possível de ser paga. Recordo o que já falamos em outras colunas, que o empreendedor não é remunerado apenas pelo pró-labore. Há a possibilidade do ganho fixo mensal e o adicional vir decorrente do lucro da atividade. Então, é necessário que este empreendedor ou grupo de sócios seja responsável com a gestão financeira e avalie uma remuneração que mantenha a dignidade individual, mas que os luxos decorram da abundância dos resultados empresariais.

Controle

Sem uma separação é difícil controlar o que é seu e o que é da empresa. Fica chato e complicado fazer a gestão da sua vida e do seu negócio. É mais fácil cuidar de duas contas simples, do que de uma conta complexa. Atualmente existem alternativas de contas digitais que isentam ou tem taxas favoráveis para MEI e pequenas empresas. Mesmo que esteja iniciando no empreendedorismo e ainda não tenha constituído uma personalidade jurídica, tenha ao menos duas contas: uma só para movimentar a atividade empresarial, outra apenas para a pessoal.

Planejamento

Além disso, ao separar PF da PJ, a empresa deixa de ficar à mercê da vida do empreendedor: bateu o carro? Pegou dinheiro da empresa. Tem que pagar a escola do filho? Pegou dinheiro da empresa...

Como a empresa terá previsibilidade no seu fluxo de caixa se é constantemente “assaltada” pelo seu proprietário? O que você faria se seu funcionário fizesse isso em seu lugar?

Como poderá estimar sua capacidade de reinvestimento ou de entrar de forma mais competitiva para atrair um novo cliente?

Do lado do empreendedor, se ele não estabelece o limite de retiradas, dificilmente adaptará o custo de vida à realidade possível e, ou ficará com a sensação de não ser capaz de fazer coisas que seus amigos fazem, como uma viagem, ou o fará em prejuízo da saúde do negócio. Em resumo: Não planeja nem a empresa, nem sua vida!

Colocar este limite é um caminho sadio para resolver esse dilema.

E você? Quer ser um empresário ou quer apenas ter uma empresa? Se quer ser empresário, tem que assumir esse compromisso e as responsabilidades que essa escolha implica.

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