Coronavírus: metade da arrecadação do Sebrae nos próximos meses será usada para ampliar o acesso ao crédito para pequenas empresas (Amanda Perobelli/File Photo/Reuters)
Carolina Ingizza
Publicado em 10 de abril de 2020 às 06h00.
Última atualização em 10 de abril de 2020 às 06h00.
Conseguir um empréstimo nos bancos não é fácil: seis em cada dez empreendedores que buscaram crédito no sistema financeiro desde o começo da crise do coronavírus tiveram o pedido negado. Muitas vezes, uma das principais dificuldades do pequeno negócio ao solicitar crédito é a falta de bens ou recursos para deixar como garantia às instituições.
Para tentar minimizar esse problema, o Sebrae anunciou no começo de abril que iria destinar 50% de sua arrecadação nos próximos meses para alavancar o acesso ao crédito de micro e pequenas empresas brasileiras durante a crise.
Os novos recursos, na casa de 500 milhões de reais, serão alocados no Fundo de Aval para as Micro e Pequenas Empresas (Fampe), que já tinha 470 milhões. A expectativa da instituição é que o Fampe alavanque empréstimos em até 12 vezes o valor de seu patrimônio. Mas o que as pequenas empresas precisam fazer para acessar os 12 bilhões de reais de crédito?
O Fampe é um “salvo-conduto” que permite aos pequenos negócios, incluindo os MEIs, obterem capital de giro com os bancos, como afirma o presidente do Sebrae, Carlos Melles. Já que a entidade não pode emprestar dinheiro diretamente aos empreendedores, o fundo foi criado para complementar a garantia das pequenas empresas para os bancos. Na prática, ele pode suprir até 80% do valor da operação financeira de crédito.
Em abril, além do maior repasse ao fundo, o Sebrae se propôs também a ajudar a mitigar o risco da operação dos bancos ao se comprometer a orientar os empreendedores que tomarem crédito usando o fundo. Os bancos irão repassar a lista das empresas para a instituição, que irá abordar os empresários que ainda não tiverem sido capacitados por ela. “O banco dá o dinheiro e o Sebrae pega na mão do tomador de crédito”, afirma Márcio Montella, gerente de Serviços Financeiros e Capitalização do Sebrae.
O Sebrae já está pronto para ajudar os empreendedores com o Fampe, mas o crédito não é solicitado a ele. As pequenas empresas e MEIs que quiserem usar o fundo como garantia precisam primeiro procurar os bancos brasileiros com linhas de crédito voltadas para esse tipo de negócio.
Cada banco decide internamente se vai operar utilizando o fundo do Sebrae como garantia ou não. De acordo com Montella, poderão acessar esse tipo de crédito as empresas que faturam até 4,5 milhões de reais por ano e os microempreendedores individuais, com faturamento de até 80 mil reais.
Cabe a cada instituição financeira fazer a análise de crédito de cada um dos solicitantes e definir as taxas de juros, prazos e carência do empréstimo. A empresa que estiver buscando o crédito não precisa contatar diretamente o Sebrae para nada, é o banco que comunica o Fampe sobre a operação.
No assinatura do empréstimo, o cliente só precisa pagar ao banco o valor da taxa de concessão de aval, que é calculada multiplicando o número de meses do pagamento vezes o valor da garantia vezes 0,1%.
Depois, para fazer o acompanhamento do crédito, o Sebrae recebe a lista de tomadores de empréstimo do banco e procura ativamente os empreendedores que precisará prestar assistência. “Nós acompanhamos com nosso portfólio de produtos, serviços e consultoria”, afirma Montella.
O gerente diz também que o Sebrae também está disposto a operacionalizar modelos similares com outras instâncias de governo e empresas privadas. Assim, um governo estadual, por exemplo, poderia destinar um valor para ser usado como complemento da garantia somente das empresas do estado. “Ou, se uma empresa privada quiser fazer financiamento para franqueados e clientes, o Sebrae operacionaliza também”, afirma.