Como a ideia deste pai para sua filha já ajudou diversas crianças
Mario Alvitti criou uma cadeira de rodas especial para sua filha, de oito meses. Sua ideia acabou virando um projeto para incluir crianças com deficiência
Mariana Fonseca
Publicado em 22 de fevereiro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2017 às 06h00.
São Paulo – Muitos projetos empreendedores nascem de uma necessidade. No caso do casal Mario Alvitti e Fernanda Teixeira, tal dificuldade ia muito além de mera insatisfação com o trabalho ou aperto nas contas: sua filha passava por problemas sérios. E a solução encontrada acabou ajudando várias outras crianças .
Ana Paula, aos oito meses de idade, teve um sangramento na medula que a deixou sem os movimentos nas pernas. Então, seus pais começaram a pensar em como fazer com que a paraplegia não a impedisse de continuar brincando como antes.
A resposta não estava aparente no que já existia por aí. Usando uma cadeira de rodas comum, havia uma grande chance de os brinquedos de Ana caírem no chão - e ela não teria como pegá-los sem pedir ajuda. Já se não usasse nenhuma cadeira de rodas, ela teria de se arrastar para brincar.
“No Brasil, não encontramos nenhum produto que proporcionasse um desenvolvimento normal, com proximidade aos brinquedos. Olhamos para fora do país e havia produtos mais adequados, mas sempre faltava algum item de conforto ou de segurança. Então, em 2015, resolvemos criar um projeto adaptado para nossa filha”, explica Alvitti.
O empreendedor deu uma entrevista a EXAME.com na Feira do Empreendedor 2017, um evento organizado pelo Sebrae.
A criação da Fly Children
O empreendedor trabalha no ramo imobiliário e nunca havia tido experiências em prototipagem de produtos para crianças com necessidades especiais. Arregaçou as mangas e resolveu aprender mais sobre o tema.
“Quando surge a necessidade, especialmente quando é de um filho seu, a gente vira especialista de todas as áreas que possam contribuir para solucionar o problema. Não tinha conhecimento mesmo, mas sempre fui ‘fuçador’. Eu e minha esposa olhamos produtos similares, coletamos orientações de amigos da saúde e fomos adaptando.”
Após um ano de prototipagem, o casal criou uma cadeira de rodas especial para sua filha. A invenção é mais baixa do que as cadeiras comuns (confira a foto abaixo), o que permite que ela brinque perto do solo e explore os ambientes. O design é colorido e lúdico, o que acaba com o medo de usar o produto.
“Ela teve um grande avanço. A cadeira normalizou o seu desenvolvimento cognitivo, que ficou como o de qualquer coleguinha seu”, explica o empreendedor. “Minha filha teve inclusão na escola, e isso é muito difícil quando falamos de crianças com deficiência.”
Vendo o impacto que o produto teve na vida de Ana Paula, Alvitti e Teixeira decidiram expandir a produção para outras crianças alguns meses depois, em fevereiro de 2016. O produto, chamado de Fly Children, é adequado para crianças de até quatro anos de idade – crianças maiores podem usar a cadeira, desde que ainda caibam confortavelmente.
Como a ideia era ter um produto fornecido para diversas crianças, novas adaptações tiveram de ocorrer – especialmente em padrões de segurança. Em novembro de 2016, a Fly Children finalizou seu protótipo e entrou em processo de registro de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).
“Infelizmente, hoje em dia a aprovação desse registro pode demorar até dez anos. Mas, no caso de um inventor, não há outro caminho para garantir a proteção legislativa”, explica Silvia Martins, diretora da Martins & Fernandes Marcas e Patentes. “Não é uma questão apenas de proibir que outras pessoas façam o mesmo produto. Com a patente, será preciso respeitar os estudos que foram feitos, e isso mantém a qualidade e a segurança para as crianças.”
Vendas e doações
O negócio ganhou mais projeção só após a virada de ano: os sócios fizeram uma campanha com amigos e familiares para arrecadarem 40 mil reais e produzirem as primeiras cadeiras, que foram para doação.
Hoje, a Fly Children realiza vendas exclusivamente pelo seu e-commerce. A cadeira custa dois mil reais. Porém, o negócio se esforça para realizar doações a famílias que não possuem condições de comprar o produto. Nos dois meses de 2017, 16 cadeiras foram doadas e duas foram vendidas.
“O objetivo principal não é ficar rico, e sim ver que outras crianças estão felizes e se desenvolvidos. Já estamos colhendo esse tesouro”, diz Alvitti. “Agora, estamos procurando mais investidores e pessoas que se identifiquem com a causa, além de pessoas que tenham condições de comprar a cadeira e ajudar outras crianças com essa aquisição própria.”