Com terapia e coach, esta startup quer ser referência em saúde emocional
A ZenKlub foi criada em 2016 para conectar profissionais de saúde mental com possíveis pacientes; desde 2019, a empresa oferece também planos corporativos
Carolina Ingizza
Publicado em 5 de fevereiro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 5 de fevereiro de 2020 às 07h00.
A plataforma de saúde mental ZenKlub nasceu de um questionamento: as pessoas estariam dispostas a agendar uma terapia online com alguém desconhecido? O faturamento anual de 4 milhões de reais e o crescimento de 15% ao mês da empresa indicam que sim.
A ZenKlub foi criada há quatro anos pelo médico Rui Brandão e o engenheiro José Simões. Os amigos portugueses se conheceram no Brasil em um período em que ambos buscavam um trabalho com mais propósito.
A ideia de trabalhar com saúde mental e emocional apareceu quando a mãe de Brandão foi diagnosticada com síndrome de burnout. Tendo que lidar com o problema dentro de casa, o médico se deu conta de que as pessoas não sabem aonde ir quando tem problemas de origem emocional.
“Se você tem uma doença física, olha o plano de saúde, vai ao hospital, existem marcas de referência. Queremos nos tornar essa referência para as pessoas que precisam de ajuda mental ou que querem se desenvolver”, diz o cofundador e presidente da startup .
Investigando o mercado brasileiro, os sócios perceberam que a principal dificuldade para obter ajuda psicológica no Brasil é o acesso, não a falta de especialistas — há mais de 350 mil psicólogos capacitados a realizar um atendimento no Brasil, segundo o Conselho Federal de Psicologia.
Juntos, decidiram criar uma plataforma para conectar psicólogos com possíveis pacientes, reduzindo assim os custos das sessões e poupando o tempo de deslocamento até o consultório. Para focar na startup, Brandão abandonou sua residência médica nos Estados Unidos e Simões deixou a diretoria de produto da empresa de e-commerce Dafiti .
De 2016 a 2018, a plataforma online da ZenKlub ofereceu sessões de “orientação psicológica”. A partir de meados de 2018, quando o Conselho Federal de Psicologia ampliou as possibilidades de atendimento psicológico por plataformas digitais, as sessões online passaram a ter o mesmo valor das presenciais.
Como funciona a sessão
Quando o cliente entra no aplicativo da ZenKlub, ele tem acesso a conteúdos de educação social, meditações guiadas, exercícios de foco e dicas para controlar a ansiedade. Se quiser marcar uma sessão com terapeuta, seleciona o motivo e pode buscar na base de profissionais até encontrar alguém com quem se identifica. Lá, é possível ver fotos, vídeos e currículo dos psicólogos.
Depois de selecionado o profissional, é só agendar um horário, realizar o pagamento e escolher se prefere ter a sessão por áudio, texto ou vídeo. “Muitas pessoas começam por chat, mas quando ganham confiança passam para áudio e depois para vídeo”, conta Brandão.
As consultas duram 50 minutos e custam, em média, 80 reais. Para economizar, é possível fechar pacotes mensais. O mais simples, com uma sessão de 50 minutos por semana, custa 216 reais por mês — mais baixo que o valor praticado no mercado tradicional.
O conselho de psicologia, por exemplo, estabelece como referencial um preço entre 160,50 e 275,15 reais por consulta.
Brandão justifica que preço mais baixo não é resultado de um serviço de qualidade inferior, mas sim do uso da tecnologia para simplificar processos. “Nosso sistema de pagamentos é automático, os profissionais não perdem tempo com deslocamento, aluguel de consultório. Além disso, o baixo custo de adesão aumenta o volume de pacientes”, diz o presidente da startup.
Ele diz que 25% dos profissionais que utilizam a plataforma recebem líquido mais de 5 mil reais por mês em troca de cerca de 100 sessões. A startup cobra uma taxa de 20% por cada sessão realizada via a plataforma.
Seleção de profissionais
No começo, a principal dificuldade enfrentada foi com os especialistas da área, que não acreditavam em terapia online. Os sócios apresentaram a proposta para dezenas de especialistas e lançaram a plataforma com 30 profissionais registrados.
“Queríamos ter uma base suficientemente grande para a pessoa poder escolher, mas que nos permitisse crescer junto”, conta Brandão.
Para cadastrar um psicólogo na ZenKlub, a empresa avalia aspectos técnicos além do currículo, como a aptidão digital do candidato. Hoje há mais de dez mil profissionais no banco da startup, mas só 200 estão ativos na rede, realizando um total de 10.000 sessões de terapia por mês.
Depois de dois anos de operação, a empresa percebeu que muitas pessoas procuravam seus serviços para melhorar seu autoconhecimento e auto-estima. Por isso, a startup decidiu adicionar a sua base outros tipos de profissionais, como facilitadores de meditação e coaches.
Gympass da saúde emocional
Com a regulamentação da terapia online, uma outra porta se abriu para a startup: o mercado corporativo. Com a chancela do conselho, as empresas passaram a considerar oferecer terapia como benefício para os funcionários.
A partir de março de 2019, a ZenKlub passou a oferecer um plano empresarial, que já conquistou cerca de 30 clientes corporativos, como as startups Gupy, Creditas e Revelo. Em geral, cada sessão custa 70 reais e a companhia só paga quando seus funcionários utilizam o benefício.
Além das sessões, a startup oferece um programa completo de educação emocional para os clientes corporativos, com testes online, dicas e workshops presenciais sobre temas como gestão de estresse e comunicação.
A empresa também compartilha alguns dados sobre o adoecimento dos funcionários com o departamento de recursos humanos, que pode usar as informações para direcionar melhor seus esforços.
“A empresa já tinha entendido que precisa colocar cadeira ergonômica, realizar ginástica laboral, mas agora percebeu que precisa focar também na mente dos trabalhadores”, diz Brandão.
Em abril do ano passado, para expandir a operação corporativa, a startup levantou 3 milhões de reais em uma rodada seed liderada pelo fundo Indico Capital Partners. Nesse mercado, startup disputa espaço com outras empresas, como a Vittude.
A empresa projeta que, em 2020, metade do seu faturamento seja com o mercado corporativo — hoje esse segmento contribuiu com 20% das receitas. Para isso, a startup aposta nos dados. “É preciso mostrar para as empresas que o investimento traz resultados práticos”, diz Brandão.
O presidente diz que muitas corporações ainda olham para saúde emocional como tabu. “É um pensamento retrógrado, estamos mostrando que esse tema, na verdade, é uma ferramenta importante de produtividade e engajamento”, comenta o cofundador.