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Com R$ 30 mil, ele levou o Vale do Silício para a Serra Gaúcha

Marcus Rossi é CEO da Gramado Summit, empresa responsável pela conferência anual de inovação no Rio Grande do Sul que vai reunir 6 mil pessoas em 2022

Marcus Rossi, CEO do Gramado Summit: evento quer ser "Web Summit" do Brasil (Gustavo Merolli/Divulgação)
MC

Maria Clara Dias

Publicado em 2 de abril de 2022 às 09h00.

A ida a um festival de inovação internacional e a experiência com uma startup mal-sucedida levaram Marcus Rossi a criar de vez seu próprio Web Summit, tradicional festival de tecnologia que reúne investidores em Lisboa, Portugal. O empreendedor está à frente do Gramado Summit, empresa responsável por realizar o festival de mesmo nome na cidade gaúcha há pelo menos cinco anos e que em 2022 deve reunir 6.000 pessoas.

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Nascido e criado em Gramado, uma cidade de 36.000 habitantes no interior do Rio Grande do Sul, Rossi sempre contrariou a lógica dos negócios de seus pais, que lideram diversas empresas no setor de eventos. A transformação de Gramado em um pivô turístico que atrai cerca de 9 milhões de viajantes fisgados pelo frio da serra gaúcha e arquitetura europeia, porém, logo o fez mudar de ideia.

Em 2014, ele decidiu abandonar a carreira como músico independente e abrir a sua própria startup no setor de tecnologia e hotelaria. Foi quando Rossi conheceu José Eduardo Mendes, um dos fundadores do Hotel Urbano, hoje um dos principais buscadores de viagens online do país. “Me apaixonei por aquilo: o modelo escalável e ágil de uma startup e vi que era o que queria fazer”, conta.

Com a mentoria pessoal de Mendes e de olho no potencial da cidade em atrair turistas, Rossi fundou em 2015 a Honey Dreams, um e-commerce para casais em busca de experiências em Gramado. Apesar de ter atraído investimentos logo de cara, a startup queimou o caixa em questão de meses, sem desenvolver o produto para lançamento.

Segundo Rossi, o erro foi trivial. “O engano foi tentar gerar renda com o empreendimento. Não é algo que faria hoje”. Com o pouco dinheiro que havia sobrado, ele embarcou para Dublin, onde acontecia a conferência Web Summit, para conhecer novos investidores e possíveis clientes. “Com aquele valor, ou sobrevivíamos mais um mês, ou íamos até lá”, relembra.

Mas a viagem acabou gerando o efeito contrário, pois foi onde Rossi teve a primeira ideia para a criação da Gramado Summit. “Quando vi aquela multidão de pessoas, eu sabia que meu sonho era um evento, e não uma startup”.

De volta ao Brasil, ele realizou a primeira edição do evento em 2017. Mesmo tímida e sem muitas conexões, a feira atraiu 800 visitantes. “Gramado atrai casais, famílias encantadas pelos festivais de inverno. Mas o que, como morador percebi, é que aqui teria a capacidade de se tornar a nova Austin, com pessoas dispostas a vir para o festival, mas depois aproveitar a estrutura da cidade”, diz.

A cidade a qual Rossi faz referência fica no estado do Texas, nos Estados Unidos. Austin é sede do festival de inovação South By Southwest (SXSW), evento que anualmente atrai executivos, investidores e empreendedores em busca de insights sobre o futuro dos negócios.

No ano seguinte, para formalizar o negócio, Rossi fundou a Gramado Summit, de mesmo nome, para organizar o evento anualmente e de forma estruturada. O pontapé para a criação do negócio veio com um empréstimo de R$ 30 mil de seus pais. “Disse à minha mãe: é aquilo ou nada. Mas te garanto que depois dessa edição, os recursos para a empresa estarão de volta. E retornei em dobro”.

Segundo Rossi, houve um grande engajamento de empreendedores e fundadores de startups na região que assim como ele, estavam em busca de mais visibilidade e não tinham nada a perder. A primeira startup a fechar contrato com a Gramado Summit foi a fintech de investimentos Warren. “Sem querer acertei na curva de difusão da inovação. Tenho certeza de que Gramado pode ser um novo Vale do Silício", brinca.

Sem abertura para falar com grandes empresas, a Gramado Summit focou em inovadores e jovens empreendedores e projetos. O resultado foi um evento que reuniu 2.500 pessoas em 2018 e, em 2019, 4.000 visitantes. “Passamos a ser reconhecidos como o primeiro evento de relevância fora do eixo Rio-São Paulo”.

Em plena pandemia, as edições seguintes foram mais desafiadoras. Em 2020, o evento aconteceu no ambiente digital, e o foco foi atrair grandes nomes do empreendedorismo, como Jordan Belfort, o lobo de Wall Street.

A visibilidade daquela edição levou a Gramado Summit a ser escolhida pelo governo do Rio Grande do Sul para testar os primeiros protocolos sanitários para o retorno de eventos presenciais daquele momento em diante.

Tudo isso despertou interesse dos primeiros investidores. No ano passado, a empresa recebeu seu primeiro investimento: R$1 milhão, vindo dos irmãos Peccin, empreendedores do ramo de turismo responsáveis pela organização do Natal Luz, em Gramado.

Agora, Augusto Rocha também decidiu investir na empresa. O fundador da Oto CRM e vice-presidente de vendas e marketing na empresa de software Pmweb depositou um cheque de R$ 400 mil na empresa.

Para este ano, o primeiro desde o retorno de eventos com grandes públicos, a Gramado Summit espera receber 6.000 pessoas. “Vamos voltar para onde jamais deveríamos ter saído: sermos ainda maiores do que fomos em 2019”. Com os novos recursos, a ideia é aumentar a equipe de funcionários e melhorar algumas tecnologias da porta para dentro.

O foco, daqui para frente, será o de transformar o evento em mais do que uma vitrine de boas ideias de negócio, mas em um grande polo de inovação que seja palco de discussões futuristas, explica o CEO. “Temos que fazer da Gramado Summit um lugar de conexão e de onde o futuro dos negócios é construído — de forma plural e diversa também”.

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