Com 19 prêmios mundiais, a Bodebrown é a cervejaria antiescala
Companhia curitibana cresce 200% ao ano e lança um novo rótulo por mês. Uma nova fábrica está a caminho, para continuar diversificando
Da Redação
Publicado em 9 de julho de 2018 às 06h00.
Última atualização em 9 de julho de 2018 às 16h59.
Seis cervejarias do mundo se uniram para criar uma edição especial da bebida para a Copa do Mundo da Rússia. A representante brasileira desse time é a curitibana Bodebrown, fundada em 2009 e com mais de 100 prêmios na bagagem.
Os cervejeiros da New Belgium Brewing, a maior cervejaria artesanal dos Estados Unidos, acompanharam as consecutivas premiações dos rótulos da empresa brasileira pelo mundo e convidaram o fundador da Bodebrown, Samuel Cavalcanti, para passar uma semana na empresa, localizada no Colorado (EUA). A visita aconteceu em fevereiro de 2017 e, em abril do mesmo ano o contrato de colaboração foi assinado.
Com sede em Curitiba (PR), a cervejaria tem rótulos eleitos 19 vezes os melhores do mundo, foi campeã duas vezes em competições na Inglaterra e uma vez na Austrália. A Bodebrown também ganhou duas edições do prêmio realizado durante o Festival Brasileiro de Cerveja, que acontece em Blumenau (SC). “Estamos entre as cinco cervejarias mais premiadas do Brasil”, comemora o fundador.
Na empreitada da Copa, criou a Biclycle Kick Kölsch (gol de bicicleta, em inglês) junto com a New Belgium Brewing, a inglesa de 150 anos Adnams, a japonesa Baird, a sul-africana Devil’sPeak e a mexicana Primus. A cerveja está sendo vendida em 40 países. Por aqui pode ser encontrada em mais de mil pontos de venda em São Paulo, no Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em bares como o Soul Botequim, Artesanato da Cerveja, Fish & Chips e o The Book and Beer.
Para estar nessa seleção, concorrendo em um setor amplamente dominado pela Ambev, Heineken e Itaipava, a Bodebrown inova sem parar. É uma escolha que envolve riscos. As grandes, afinal de contas, ganham dinheiro na escala. A Bodebrown, por sua vez, aumenta seu portfolio sem parar. Já são 90 e um novo a cada mês. “O consumidor quer experiência, esse modelo de escala de um produto só está ultrapassado, por isso criamos novos produtos e acreditamos que isso só beneficia o nosso negócio”, diz.
200% ao ano
Nascido em Recife, Cavalcanti é o terceiro de seis filhos de um engenheiro e de uma música. A família se mudou para Curitiba durante sua adolescência, quando o pai foi iniciar a venda de equipamentos médicos na região sul pela empresa onde trabalhava. Meio sem saber o que cursar na faculdade, Cavalcanti escolheu Química. Só no terceiro ano da graduação é que ele teve certeza de que futuro passava pela área escolhida. “Fiquei encantado com a matéria de fermentação, aquilo era incrível.”
A partir daí, visitou cervejarias em todo o mundo. Em 2009, abriu as portas da Bodebrown, que hoje fatura 15 milhões de reais e cresce 200% ao ano. A primeira inovação veio da vontade de ensinar as pessoas a fazer cerveja. Ele tentou se associar ao Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), mas não deu certo e, por isso, a cervejaria abriu uma escola ao lado da fábrica logo depois do início das operações.
“E eu acredito que quanto mais pessoas envolvidas no processo, entendendo como acontece a preparação da cerveja, mais vão apreciar bons produtos”, explica Cavalcanti. A escola contribui com 5% de receita da empresa e, nesses quase 10 anos, já recebeu mais de 6 mil alunos.
“Cavalcanti fez uma boa comunicação depois das premiações e, junto com uma boa identidade visual, conseguiu transformar os consumidores em fãs”, diz o presidente da Associação de Cervejarias Artesanais, Carlo Lapolli,
Além dos sentidos apurados – que fazem Cavalcanti sentir o sabor de uma cerveja antes de prová-la, apenas conhecendo os ingredientes – ele tem bom tino comercial. A loja, que funciona na entrada da fábrica, é responsável por 13% do faturamento da companhia e comercializa todo o tipo de produto para quem quer produzir cerveja em casa, os mesmos que a Bodebrown usa em sua produção.
Ele também criou a Tap House, um ambiente ao lado da fábrica em que os consumidores usam um cartão pré-pago e, diretamente das biqueiras, passam esse cartão no leitor, leem a descrição da cerveja e a válvula abre. “Montamos um forno de pizza, porque procuro pensar não só em cerveja quando planejo um negócio, mas em todas as tendências, como a de alimentação mais saudável”, diz.
A filosofia de Cavalcanti também pode ser vista no quadro de funcionários. A Bodebrown tem 50 funcionários, a maioria beirando os 30 anos e quase todos com formação superior. São 10 químicos, um farmacêutico, dois engenheiros de biotecnologia e bioprocessamento, um engenheiro eletrônico e dois técnicos em química. “Nosso maior segredo é esse: combinar informação com arte, história, muito controle de qualidade para poder reproduzir em grande quantidade e proporcionar uma boa experiência de consumo aos clientes.”
Uma nova fábrica da cervejaria está em fase final de construção e deve aumentar a produção de 36,7 mil litros por mês em 300%. “Não é impossível para a Ambev vir aqui com interesse de comprar a nossa operação, mas a Bodebrown é exótica, tem um quebra-cabeça que forma a receita, é difícil despertar o interesse porque será difícil padronizar e escalar a produção”, diz.