Empreendedores: o Brasil ainda figura nas piores posições quando se considera o ambiente para fazer negócios e atrair investimentos (SARINYAPINNGAM/Thinkstock)
Mariana Desidério
Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 15 de fevereiro de 2018 às 06h00.
São Paulo – Que tal entrar para um clube de empreendedores em que, em vez de colocar a mão no bolso para comprar, você pode trocar o seu produto pelo produto de outros empresários?
Essa é a proposta do Clube de Permuta, negócio que nasceu em Belo Horizonte e hoje já está presente cinco estados do país, com um total de 576 empresas associadas.
A ideia surgiu em 2012, de uma prática comum ao empreendedor Leonardo Bortoletto. Ele tinha uma empresa de tecnologia e conta que costumava fazer permuta com fornecedores.
“Eu trocava serviço meu por serviços ou produtos de outras empresas. Só que eu sempre tinha uma sobra para usar e comecei a passar essa sobra para outros parceiros. Isso começou a ficar frequente, até que vi que havia ali uma oportunidade”, conta.
Bortoletto então decidiu profissionalizar e melhorar seu sistema de trocas. “Fizemos um ambiente de troca multilateral. Ou seja: a empresa A pode comprar da empresa B independentemente se a B comprou da A”.
O modelo da plataforma digital foi criado pela equipe do empreendedor em sua empresa de tecnologia e apresentado aos parceiros que já trabalhavam com ele. A ideia foi bem recebida por eles, que criaram um grupo inicial de 12 empreendedores em Belo Horizonte.
A partir daí, cada integrante poderia indicar outros empresários e o clube foi crescendo: hoje o grupo tem 184 na capital mineira.
Para dar certo, cada novo integrante passa por um rigoroso processo de seleção, que começa com um longo questionário, com perguntas sobre o tipo de produto ou serviço que consome; quanto costuma gastar em média por mês com esses fornecedores; que produtos e serviços ele tem a oferecer etc.
O objetivo é saber se aquela empresa poderá contribuir com o ambiente de negócios do clube, com sua oferta e demanda.
A partir dessa avaliação, cada empresa recebe um tanto de crédito que pode ser gasto dentro do clube. O valor recebido é calculado com base nos números de compra e venda da empresa. Com isso, ela pode adquirir qualquer item oferecido na plataforma.
É possível assim fazer as trocas mais inusitadas. “Se eu vendo imóveis, mas quero comprar bolos, vou ter que comer muito bolo para fazer essa troca. No sistema multilateral posso comprar 50 mil de um advogado, 10 bolos de 200 reais, e outro tanto em uma campanha com uma agência de publicidade. Essa é a grande diferença da plataforma multilateral”, explica Bortoletto.
Cinco anos depois de sua fundação, o Clube de Permuta já movimentou mais de 70 milhões de reais em negociações. Em 2017, a empresa faturou 6 milhões de reais e a expectativa é terminar 2018 com um faturamento de 14 milhões de reais.
O Clube fatura com cada transação feita pelas empresas associadas, através de uma taxa de 10% para maioria dos negócios (há setores como o de supermercados com taxas mais baixas).
Em 2014, o negocio tornou-se uma franquia, e já tem oito unidades em funcionamento. Segundo o fundador, é permitida apenas uma franquia por cidade.
Quem tiver interesse em abrir uma unidade da marca deve estar preparado para desembolsar entre 110 mil reais e 400 mil reais, dependendo do porte da cidade. A taxa de franquia pode chegar a 350 mil reais – segundo Bortoletto, o valor se justifica pelo investimento em tecnologia feito pela franqueadora.
O retorno do investimento ocorre em 13 meses e o faturamento médio mensal começa na faixa dos 30 mil reais, chegando a 90 mil reais ao final de 12 meses. A lucratividade é de 32% a 39%.
O negócio não exige que o empreendedor invista em um espaço físico, como uma loja, pois os encontros do clube são feitos em restaurantes ou hotéis, apropriados para receber um grande número de pessoas.
Para ser franqueado, o interessado deve provar que conhece e tem bom relacionamento com empreendedores de diversos setores na cidade onde deseja instalar a unidade do Clube de Permuta.
A prova final de que o candidato tem o perfil certo para entrar na franquia é o evento de inauguração do clube, no qual o futuro franqueado deve conseguir reunir 150 empresários da região.
Bortoletto explica ainda que cada unidade do clube se relaciona somente com os empresários locais – ou seja, não há trocas entre empresários de cidades diferentes.
“Nosso objetivo é fomentar a economia local. Por isso reunimos um mix mais variado possível de prestação de serviços e produtos que interessem ao mundo corporativo”, diz o empreendedor. Para 2018, a meta da rede é ter 20 unidades pelo país.