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CEO do South Summit: O mundo quer conhecer startups do Brasil

A espanhola Marta Del Castillo é CEO de um dos principais eventos de inovação no mundo dá detalhes de como será a primeira edição do festival no Brasil, prevista para maio, em Porto Alegre

Marta Del Castillo, do South Summit: "Primeiro vimos uma onda de unicórnios dos Estados Unidos, Europa e Ásia. Daqui pra frente a nova fronteira para unicórnios vai ser da América Latina" (Divulgação/Divulgação)
LB

Leo Branco

Publicado em 22 de março de 2022 às 09h30.

Última atualização em 22 de março de 2022 às 09h33.

A espanhola Marta Del Castillo é uma entusiasta das startups brasileiras. O currículo dela confere às opiniões dela um peso especial. Formada em administração pela IE Business School, uma das escolas de negócios mais prestigiadas do mundo, em Madri, e com pós-graduação em empreendedorismo na Universidade Stanford, no berço do Vale do Silício, Del Castillo passou a década passada conversando com empreendedores e donos de fundos de investimento em países da América Latina.

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Entre 2009 e 2020, ela morou em Assunção, no Paraguai,organizando ecossistemas de inovação nos países do Conesul, numa agência de desenvolvimento de negócios ligada ao governo espanhol e depois em aceleradoras de negócios conectadas ao Banco de Desenvolvimento Interamericano (IDB).

Há dois anos, Del Castillo assumiu o posto de CEO do South Summit, um dos principais festivais de inovação do mundo. Realizado uma vez por ano no La Nave, um ginásio para 20.000 pessoas em Madri, o evento está de malas prontas para estrear uma edição no Brasil. Prevista para 3 a 6 de maio, em Porto Alegre, o evento será o primeiro fora da Espanha.

Na agenda da edição brasileira estão previstas palestras de gente com alguma relevância para startups dos dois países — lideranças de fundos como Softbank, Redpoint e.ventures, General Atlantic, além de fundadores de unicórnios como Ebanx e Contabilizei estão entre as atrações.

Na entrevista a seguir, Del Castillo conta os diferenciais do festival de inovação que preside, além de argumentar por que o Brasil (e, por extensão, a América Latina) serão os principais berços de unicórnios nos próximos anos.

Qual é a história do South Summit?

Sou a CEO do South Summit, o festival que é um sonho de Marta Benjumea, uma executiva espanhola apaixonada pelo ecossistema de inovação. Em 2011, ela vislumbrou que a saída para o grave problema de desemprego vivido na Espanha na ocasião, durante a Grande Recessão mundial, estava no fomento de startups. A Espanha então tinha companhias muito grandes e competitivas não só no mercado doméstico como no mercado global, mas havia novos entrantes em várias cadeias de produção mundo afora, que estavam mudando a maneira de fazer negócios em vários setores, e também o comportamento dos consumidores. A Espanha não era tão aberta a esses negócios ou não estava se mexendo com a rapidez necessária para oferecer um bom espaço a essas startups. Daí que veio a ideia de criar um espaço, uma plataforma, para conectar os atores tradicionais, as grandes empresas, às pessoas com boas ideias de negócios, como fundos de venture capital, startups e outros atores que estavam propondo essa nova maneira de fazer negócios. Assim, South Summit começou em 2012, no pior momento da crise da Espanha. Começou de maneira pequena e, de lá para cá, se mostrou ser uma ferramenta poderosa para conectar todos os atores da cadeia de inovação.

O que um evento como South Summit traz de diferente em relação a outro modelo de interação entre startups, grandes empresas e fundos de investimento?

A gente almeja ser o lugar mais desejado para alguém de inovação estar presente. Não somos só um evento, embora o evento presencial seja uma parte relevante do nosso negócio. Não somos um marketplace, embora todos os participantes possam mostrar seus produtos ou serviços e fazer negócios através da nossa plataforma. Não é um show, nem um programa ou conferência, embora haja vários palcos com pessoas-chave para o empreendedorismo mundial. A ideia é ter tudo isso junto. O evento funciona quando todo mundo tem a possibilidade de conhecer um ao outro. As oportunidades de negócios aparecem quando as pessoas têm a chance de ficar cara a cara e interagir umas com as outras. No South Summit a ideia é misturar CEOs de grandes empresas, fundadores de startups, fundos etc. Isso constrói relacionamentos.

É possível medir o impacto de um evento como o South Summit para um ecossistema de inovação?

Quando o evento começou, Madri não era reconhecida como uma cidade boa para startups. Era considerado um lugar de segunda linha. Hoje em dia, é tida por muitos fundos de investimento como o principal lugar para fazer negócios de tecnologia na Europa. Agora, temos a visão de exportar o modelo que deu certo em Madri para outros países.

Como o Brasil surge na agenda do South Summit?

Sempre amamos o Brasil. O plano de ter um evento aí já vem de algum tempo, mas ficou em stand by por causa da pandemia. No ano passado, recebemos contato de autoridades da prefeitura de Porto Alegre interessadas num modelo de evento para dar visibilidade às startups locais e, de alguma maneira, promover o ecossistema do Rio Grande do Sul. Há a oportunidade de eles serem a nova São Paulo ou a nova Medellín — duas metrópoles que conseguiram firmar uma imagem positiva por causa da força do empreendedorismo. As autoridades do Rio Grande do Sul estavam buscando um modelo de evento porque já têm boa parte dos elementos necessários para criação de startups. Eles já têm bons parques tecnológicos, universidades de ponta, grandes empresas, interesse da mídia e algumas histórias de sucesso de startups pioneiras. Faltava um encontro, um evento para conectar todas essas pessoas. Convidamos uma delegação deles para nosso encontro no ano passado e fomos até lá também. Foi um match perfeito. Entramos no momento ideal e com um arranjo interessante. O evento está sendo realizado como uma parceria público-privada envolvendo a prefeitura de Porto Alegre, o governo estadual, as universidades e os parceiros da iniciativa privada.

O que esperar da edição brasileira do evento?

O desenho do evento no Brasil será muito parecido com o que se vê normalmente numa edição de Madri. Teremos um marketplace para produtos e serviços, um concurso de ideias de startups, muitas palestras com referências locais de empreendedorismo e por aí vai. Os ingredientes serão os mesmos, mas o bolo certamente será diferente. O desafio aqui será dar visibilidade internacional às startups brasileiras. Queremos conectá-las a investidores de outras partes do mundo convidados a participarem dos eventos.

As incertezas da economia brasileira afetam o interesse de estrangeiros nas startups daqui?

Muitas das incertezas do Brasil na verdade são incertezas do mundo. A pandemia e a guerra estão afetando todo mundo. É claro que há inquietações específicas sobre o Brasil, como a situação da macroeconomia ou a insegurança jurídica em muitas situações. Dito isso, os palestrantes convidados a falarem no South Summit estão muito curiosos para ver o que vão encontrar lá. O mundo quer conhecer as startups do Brasil.

O que falta para o ecossistema de startups do Brasil e dos países vizinhos?

É impressionante olhar para regiões com muitas empresas de tecnologia, como Israel ou o Vale do Silício, há 20 ou 30 anos. Toda essa agenda, de uma forma ou de outra, engatinhava nesses locais. Há dez anos, em Madri, estávamos começando a falar de startups e empreendedores com essa visão de crescimento e expansão global que é muito característico das empresas de tecnologia. A América Latina tem o benefício de aprender com a experiência de quem veio antes na construção desses ecossistemas. Dito isso, há países latinos que já saíram na frente. O Brasil, talvez, seja o exemplo mais bem acabado disso, mas há também uma boa quantidade de startups bem sucedidas na Colômbia e Argentina. O desafio está em países com mercados consumidores de menor porte, como Uruguai, Paraguai ou Bolívia. As startups nesses locais precisam nascer já com a mentalidade de serem globais. É um passo a mais que elas precisam ter para crescer rapidamente. O interessante é ver que boa parte delas já surgem dessa maneira nos países da América Latina. As perspectivas, nesse sentido, são muito positivas. Primeiro vimos uma onda de unicórnios dos Estados Unidos, Europa e Ásia. Daqui pra frente a nova fronteira para unicórnios vai ser da América Latina.

Como a pandemia mudou a organização do evento?

Mudamos muita coisa na organização. Estamos seguindo recomendações globais de segurança sanitária — muitas delas estão mudando constantemente. Estamos demandando vacinação das pessoas ou, então, testes negativos de RT-PCR. Diminuímos também a lotação de alguns eventos. Em algumas sessões antes da pandemia tínhamos até 7.000 pessoas num mesmo espaço. No ano passado, em Madri, tivemos no máximo metade disso. Costumávamos receber até 20.000 pessoas em alguns eventos. No ano passado, tivemos 10.000. No Brasil estamos esperando 3.000 pessoas, mas o espaço lá estará preparado para receber até 10.000. Então, teremos bastante espaço para manter distanciamento.

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