Exame Logo

Cães de aluguel

O adestrador gaúcho Flávio Porto criou um negócio que fatura 20 milhões de reais ao ano com cachorros treinados para proteger o patrimônio de clientes como operadoras de telefonia, construtoras e shoppings

Flávio Porto: "Troquei a faculdade de veterinária pela de administração em finanças" (.)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h35.

Na empresa do gaúcho Flávio Porto, de 36 anos, um dos custos mais importantes é o preço da ração para cachorros - sua empresa, a Protecães, consome 40 toneladas de ração por mês para alimentar mais de 2 200 cães em 546 cidades brasileiras. No interior do Rio Grande do Sul ou nos confins de Rondônia, os rotweillers e pastores alemães da Protecães são alugados para empresas que os utilizam na estrutura de segurança que protege seu patrimônio. "São cachorros grandes e fortes, que comem bastante", diz Porto.

Em 2008, a Protecães faturou 20 milhões de reais - uma receita dez vezes maior do que a obtida apenas três anos antes. Construtoras à procura de proteção para canteiros de obra e shopping centers estão entre alguns dos principais clientes. O grande salto de crescimento aconteceu depois que Porto conquistou as operadoras de telefonia celular, que encontraram na cachorrada uma alternativa para proteger torres de transmissão muitas vezes situadas em locais de difícil acesso, como no alto de morros ou no meio de terrenos desocupados. "As telefônicas fizeram a Protecães deslanchar", diz Porto.

Veja também

Hoje, mais de 40% do faturamento da Protecães vem das empresas de telecomunicações, como Vivo, Claro, Embratel e TIM. Os cães costumam ficar soltos nos cercados em torno das torres de telefonia. "O custo dos cães representa um terço do que gastaríamos com vigilantes, e muitos desses locais nem têm estrutura para a permanência de pessoas", diz o executivo de uma grande empresa de telefonia que utiliza o serviço da Protecães em 16 estados brasileiros. A mais recente experiência dessa telefônica com os cães se deu em Mato Grosso do Sul. "Em cinco meses, tivemos um prejuízo de 750 000 reais, causado por vandalismo", diz o executivo. "Os cães acabaram com o problema."


Porto é um daqueles casos de empreendedor que transformou um prazer da juventude em oportunidade de negócios. Ele começou a adestrar cachorros aos 15 anos, depois de ganhar dos pais um pastor alemão. Batizou o cachorro de Baião e o ensinou a ser o guarda da família.

Com o tempo, passou a frequentar encontros da associação de criadores de pastor alemão do Rio Grande do Sul, onde deu aulas de treinamento e acabou sendo indicado para cuidar dos cães de uma empresa de vigilância. Dois anos depois, em 1992, abriu seu próprio negócio, com 30 cães - Baião entre eles.

Nos anos 90, o crescimento da Protecães foi ajudado pela onda de terceirização da área de segurança nas grandes empresas. Com o desenvolvimento do negócio, Porto parou de treinar e dar banho nos cães para se dedicar à gestão. "Troquei a faculdade de veterinária pela de administração", diz. Nos últimos anos, além da locação dos animais para segurança patrimonial, a Protecães passou a oferecer sistemas de alarme e monitoramento a distância - uma forma de complementar o serviço e aumentar a eficiência dos cães de guarda. "A tecnologia ajuda o cachorro a substituir o homem", diz Porto.


Alguns dos riscos de um negócio como a Protecães são os mesmos aos quais está exposta qualquer outra empresa de vigilância. Caso um dos cães alugados morda alguém, por exemplo, a Protecães pode ter de responder na Justiça pelos danos causados - da mesma forma que uma companhia de segurança precisa se responsabilizar se um de seus vigias ferir um invasor. Segundo Porto, até hoje ele enfrentou apenas um processo, movido pela dona de dois poodles feridos por um dos cães, que escapou do tratador enquanto era alimentado.

Outro aspecto importante num negócio desse tipo está nos custos fixos. Se a coleção de inverno de uma confecção não agrada, sempre é possível fazer uma liquidação. Mas cães não podem ser demitidos. Se um cliente não renova um contrato, eles precisam comer, receber vacinas e passear para não ficarem nervosos com a falta de ocupação.

Ainda pouco comum no Brasil, o cão de guarda é empregado na segurança patrimonial nos Estados Unidos. "Em algumas situações, é um substituto mais eficiente do que o homem", diz Gerson Borges, coordenador do MBA em gestão da segurança corporativa da Fundação Getulio Vargas.


Acompanhe tudo sobre:AnimaisEstratégiagestao-de-negociosPequenas empresas

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de PME

Mais na Exame