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As fórmulas do Boticário

Miguel Krisgner, criador da empresa e presidente da rede, contou um pouco de sua história -- e suas principais idéias a EXAME PME

Krisgner, de O Boticário: a embalagem tradicional dos perfumes foi por causa de Sílvio Santos (--- [])

Krisgner, de O Boticário: a embalagem tradicional dos perfumes foi por causa de Sílvio Santos (--- [])

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Uma das maiores companhias do mercado de cosméticos do Brasil, o Boticário, começou em 1977 como uma pequena farmácia de manipulação em Curitiba, no Paraná. O empreendedor por trás do negócio era o farmacêutico Miguel Krigsner, então com 27 anos. De lá para cá, Krigsner conduziu a empresa a um crescimento estrondoso. Hoje, a rede Boticário possui 2 400 lojas no Brasil e mais de 60 espalhadas em 20 países. No ano passado, seu faturamento foi de 2 bilhões de reais. A experiência de Krigsner, que começou o negócio com 3 000 dólares emprestados de um tio, fornece algumas lições para pequenas e médias empresas. Ele diz, por exemplo, que o empreendedor deve passar anos sem tirar dinheiro da empresa para si próprio. "O ideal é tirar uma soma para comer e, eventualmente, tomar um cafezinho", diz Krigsnser. O empresário falou hoje (4/9) no Fórum EXAME PME.

O sacrifício necessário

"O empreendedor deve fazer um juramento - o de que não vai tirar dinheiro da empresa para si mesmo por vários e vários anos. O ideal é tirar uma soma para comer e, eventualmente, tomar um cafezinho. Sua vida deve ser bastante espartana. O grande pecado de vários empresários é deixar a empresa pobre e a pessoa física com toda riqueza. Eu fiquei dez anos sem tirar dinheiro da empresa. Tinha um pró-labore mínimo. Em 1982, quando construímos a nossa fábrica, houve um momento em que acabou todo o meu dinheiro. Para terminar as obras, eu paguei o empreiteiro com o meu Alfa Romeo usado".

Mudar o foco

Chegou uma hora em que senti que não teria sucesso apenas com a farmácia de manipulação. Comecei a desenvolver uma pequena linha de cosméticos. Coloquei em um canto do balcão e deixei lá. As pessoas iam buscar encomendas e ficavam curiosas com aqueles produtos. Acabavam gostando, afinal, era feitos com extratos vegetais, matérias-primas de primeira qualidade. Aquela lojinha que vendia ótimos produtos e poucas conheciam virou um segredo feminino. Começou uma propaganda boca-a-boca e fomos ganhando mercado.

Silvio Santos

Antes de se tornar famoso como apresentador, o Silvio Santos pretendia criar uma grande empresa de cosméticos, que competiria com a Avon, umas das líderes da época. Chegou a comprar um galpão, onde seria a fábrica e produziu toda uma linha de frascos e embalagens para os futuros produtos. Porém, conseguiu a concessão e criou a, então, TVS. Precisava se desfazer urgentemente do estoque de embalagens, para transformar o galpão em estúdio de televisão. Eu soube disso e fui atrás desta mercadoria. Não precisava de uma quantia tão grande, que daria para cerca de quatro ou cinco anos da minha produção naquele momento. Mas o gerente da extinta fábrica disse que era tudo ou nada. Resolvi arriscar e pedi para pagar em dez vezes. Senti que aquilo poderia alavancar o negócio. O design daqueles frascos acabou sendo utilizado por muito tempo no Boticário.

Gestão a portas abertas

"O empreendedor não tem o direito de andar de salto alto. Ele tem de estar muito próximo do mercado e dos seus colaboradores. O verdadeiro empreendedor é muito parecido com o comandante de um navio. Às vezes, ele tem de sujar a sua roupinha branca para saber o que se passa na sala das máquinas. Ele não pode esperar que o mecânico fale a língua dele, mas ele tem de saber falar a língua do mecânico e conhecer cada peça do navio. Muitas vezes a pessoa fica enclausurada, encastelada, e esquece tanto do consumidor quanto dos colaboradores".

O valor do risco

"O fundamental é não ter medo. Correr riscos. Se você quiser ser empresário, você tem que arriscar, e arriscar de acordo com o seu tamanho e o passo que se quer dar. Quando se está numa pequena ou média empresa, esse é um luxo que o empresário deve se permitir. Haverá momentos de decisão em que nem todas as informações estarão na mesa e será preciso dar um salto no escuro. Esse é o momento de se jogar no desconhecido e acreditar na própria idéia. No começo do Boticário, pensar assim me ajudou muito a tomar decisões que pareciam muito difíceis".

 

As relações humanas

"O mais importante dentro de uma empresa e de uma vida empresarial está nas relações humanas que você constrói. Você tem de construir relações nas quais prevaleça a confiança. Elas também têm de ser relações em que todo mundo ganha, porque se você constrói relações desarmônicas nas quais apenas alguns poucos se beneficiam, os laços não são duradouros e acabam prejudicando o negócio. É necessário, na minha opinião, que as pessoas que trabalham para você vejam na empresa uma forma de realizar os seus sonhos pessoais, e não apenas o sonho do dono da empresa. Essa é uma filosofia que nós temos até hoje e que é a base do sucesso do Boticário" .

O preço da expansão rápida

"O crescimento tem que ser lento e, para isso, o empreendedor tem que aprender a dizer não em certas ocasiões. Às vezes o crescimento extremamente acelerado pode gerar gastos muito grandes e levar a empresa a fazer empréstimos bancários, daí surge um problema porque os ganhos não são suficientes para remunerar o negócio e os juros do banco. O melhor crescimento é aquele lento, que é muito mais centrado e harmônico. No caso do Boticário, nós tivemos fases de crescimento muito rápido e tivemos que arrumar a casa durante o trajeto. Era uma situação parecida com uma troca de pneus que acontece com o carro em movimento" .

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