Tamy Lin, da moObie: statrup já captou 15 milhões de reais em aportes de quatro investidores-anjo (moObie/Divulgação)
Mariana Fonseca
Publicado em 24 de março de 2019 às 08h00.
Última atualização em 26 de março de 2019 às 14h38.
Compartilhar o próprio carro ainda é um costume para poucos -- mas plataformas como a moObie não só acreditam na tendência, como se preparam para expandir o serviço pelo país. Após um investimento de 15 milhões de reais, a startup paulistana que conecta donos de automóveis subutilizados a motoristas que não podem ou querem adquirir o próprio carro liberou seu aplicativo para os mais de 5.000 municípios brasileiros.
Até o final do ano, a moObie planeja mais uma rodada de captação de investimentos para consolidar a expansão de sua solução de compartilhamento de carros, ou car sharing. Com o pé no acelerador, projeta dobrar o número de usuários e carros cadastrados.
No meio dessa estrada, porém, estão competidores de todos os lados e uma batalha para convencer os donos de automóveis a compartilhar.
Ao criar a moObie, a empreendedora Tamy Lin lembrou de uma de suas primeiras experiências de trabalho, ajudando na elaboração de um plano diretor para a mobilidade de passageiros no Departamento de Estradas e Rodagem de São Paulo. “Minha vontade vem daí, associada a uma longa experiência no setor empresarial”, afirma. Lin fez um estágio de verão na sede do Google, em Mountain View, e depois trabalhou como analista e diretora em multinacionais como Telefônica, Boston Consulting Group e Smiles.
Como inspiração, Lin cita as plataformas americanas de compartilhamento de carros entre usuários Getaround e Turo. A Getaround já recebeu 403 milhões de dólares em investimentos (na cotação atual, cerca de 1,5 bilhão de reais), enquanto a Turo recebeu 187,4 milhões de dólares (711 milhões de reais).
Até o momento, a moObie captou 15 milhões de reais em aportes de quatro investidores-anjo. Alguns de seus competidores brasileiros são a Zazcar (7,5 milhões de reais em aportes) e a Turbi (4,9 milhões de reais).
Outra frente de competição são montadoras como BMW, Nissan e Volskwagen, interessadas em terem seus próprios serviços de carsharing diante da competição de empresas oferecendo a mobilidade como um serviço, e não como um produto. A moObie já realizou um piloto com a montadora Toyota, com 12 veículos.
Ainda há obstáculos mentais para que as pessoas queiram compartilhar seus automóveis. Segundo um estudo da consultoria PwC, 53% das pessoas entrevistadas reconhecem que poderiam ter menos preocupações usando um automóvel compartilhado do que tendo o próprio. Mesmo assim, 73% prefere pagar pelo próprio veículo. Fora do peer to peer, a competição talvez mais conhecida sejam as locadoras de frota própria, como Localiza e Movida.
Um aplicativo de compartilhamento de carros pode ser feito tanto pelo modelo de locadoras, com frotas próprias, ou pelo modelo peer to peer, em que se usam os carros dos próprios usuários. A moObie opera da segunda forma.
“Estimamos que há mais de 150 milhões de carros particulares no Brasil, sendo que em 90% do tempo eles são subutilizados. Para mim, o modelo de usuário para usuário fazia muito mais sentido no país”, diz Lin.
Pelo aplicativo da moObie, o dono do veículo pode cadastrar seu carro na plataforma e decidir quanto quer cobrar pela diária de aluguel. O veículo passa por uma validação que verifica sua situação no Detran e Denatran e critérios como menos de 100 mil quilômetros rodados e não ter sido lançado antes de 2008.
Já o condutor deve cadastrar seu cartão de crédito e sua CNH. O pagamento é feito na confirmação da reserva via cartão do usuário motorista e entra na conta do proprietário do carro cadastrada na moObie em datas pré-definidas.
Quem dirige paga o valor da diária escolhido pelo proprietário do carro e uma taxa fixa de 10 reais para operação e entre 20 e 59 reais para o seguro. A moObie fica com 20% do valor da diária, enquanto o proprietário fica com 80%. Se houver sinistro, a seguradora da moObie é a responsável e não a do proprietário. Caso haja infração de trânsito, os pontos vão para o usuário e não para o dono do carro. É obrigatório que o usuário entregue o carro nas condições que o recebeu, inclusive em nível de combustível.
Os clientes costumam alugar de duas a três diárias por locação de veículo, a um tíquete médio de 120 reais (incluindo o seguro). Dependendo da frequência de uso, a startup defende que a opção é mais econômica do que investir na compra de um automóvel próprio.
Na outra ponta, os locadores conseguem uma renda extra sem precisar dirigir. Segundo a startup, um proprietário de veículo costuma ganhar 800 reais por mês na plataforma, mas há quem tire dois mil reais.
A moObie está com 270 mil usuários e 17 mil carros cadastrados. Há um ano, tinha 75 mil usuários e 4 mil carros cadastrados. Uma das principais razões para o crescimento foi uma parceria com a Liberty Seguros, no segundo semestre de 2018, que permitiu oferecer carsharing para pequenas empresas com carros parados em seus escritórios. A startup não abre quantos usuários são ativos.
A moObie está presente em mais de 100 cidades, incluindo as capitais de todos os estados brasileiros. Com seu novo plano de expansão, o aplicativo estará disponível para todos os municípios -- o Brasil possui 5.570 deles atualmente. Segundo Lin, há 500 cidades mapeadas com carros interessados, propriedades de usuários que tentaram se cadastrar anteriormente na startup e não conseguiram. Agora, eles serão notificados da abertura do app em sua região.
A moObie projeta dobrar seu cadastro de carros e usuários na comparação anual, chegando a 500 mil pessoas cadastradas e cerca de 30 mil veículos no fim de 2019. Proporcionar ganhos tanto para o usuário que dirige quanto para o que aluga é a fórmula do modelo peer to peer -- e a aposta da startup contra locadoras e montadoras que participam da mesma corrida.