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Alívio no caixa

O paulistano Lico Moreira, de 42 anos, dono da Sammer Bike, rede de quatro lojas de montagem de bicicletas em São Paulo e em Diadema, já se acostumou com a correria de dezembro. Desde que fundou a empresa, em 1995, 80% do faturamento anual vem das vendas de fim de ano. "Os pais até conseguem […]

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O paulistano Lico Moreira, de 42 anos, dono da Sammer Bike, rede de quatro lojas de montagem de bicicletas em São Paulo e em Diadema, já se acostumou com a correria de dezembro. Desde que fundou a empresa, em 1995, 80% do faturamento anual vem das vendas de fim de ano. "Os pais até conseguem enrolar os filhos no dia do aniversário", diz Moreira. "Mas não resistem quando as crianças pedem uma bicicleta ao Papai Noel."

Como muitos outros empreendedores, ele tem dificuldade para lidar com esse tipo de sazonalidade. Por isso, nessa época, Moreira costuma recorrer a linhas de capital de giro específicas para pequenas e médias empresas. "Em outubro já começo a bater às portas dos bancos para organizar as contas", diz. Os recursos são usados para compor o estoque de rodas, selins e guidões necessários para a montagem de mais de 600 bicicletas que geralmente saem entre novembro e dezembro. Uma parte do dinheiro foi destinada ao pagamento do 13o salário e de horas extras para seus 17 funcionários. "As vendas são parceladas", diz. "A Sammer Bike recebe as primeiras prestações somente em meados de janeiro e, nesse meio tempo, o empréstimo foi bem-vindo."

No ano passado, ao procurar os bancos no auge do aperto de crédito por causa da crise mundial, Moreira encontrava linhas de financiamento com juros de até 5% ao mês e, no máximo, dois meses de prazo para quitar a primeira parcela. Neste ano, surgiu um alívio. Ele obteve um empréstimo com juro mensal de 1,28%. Ficou combinado que a primeira parcela será paga em março, seis meses depois de a Sammer Bike ter recebido da Nossa Caixa os 70 000 reais solicitados.

Moreira é um dos muitos pequenos e médios empresários brasileiros que começam a perceber alguma melhora no crédito para seus negócios. Quem percorresse os principais bancos nos primeiros dez dias de dezembro, poderia achar linhas de financiamento para capital de giro com taxas de juro menores em relação a dezembro de 2008 e prazos de pagamento de até 60 meses -- bem mais que os 18 encontrados naquela ocasião (e, ainda assim, com alguma sorte). "Os bancos estão mais capitalizados e loucos para emprestar", diz o consultor Fabiano Guasti Lima, do Assaf, instituto de análise que acompanha o setor financeiro.

Diversos fatores estão fazendo com que isso aconteça. O mais evidente é a expectativa de que a economia do país vá continuar crescendo. "Economia aquecida significa mais vendas e, portanto, mais geração de caixa nas empresas", diz Marcio Iavelberg, da Blue Numbers, consultoria financeira especializada em negócios de pequeno e médio porte. Como os bancos agora trabalham com um cenário em que aumentou a probabilidade de a empresa do cliente gerar receitas suficientes para pagar o empréstimo, o risco de inadimplência diminuiu. Com isso, os juros também caíram. "Os bancos que ainda não reduziram suas taxas já têm todas as condições para isso", diz Iavelberg.

Entre as instituições financeiras que melhoraram as condições nas linhas de capital de giro para pequenas e médias empresas está a Nossa Caixa. De julho a outubro, a concessão desses empréstimos aumentou 312%, em relação ao mesmo período do ano anterior. Para negócios com faturamento anual de até 15 milhões de reais, a mudança foi expressiva. "Em alguns casos, os juros caíram até 64%", diz Demian Fiocca, presidente da Nossa Caixa.

A variação mais forte aconteceu nas operações feitas com o Fundo de Garantia de Operações (FGO). Criado em agosto deste ano, o FGO funciona como um fiador das empresas cujas receitas não ultrapassam 15 milhões de reais ao ano. Se, por algum motivo, o pagamento atrasar, o FGO garante ao banco até 80% da dívida, diminuindo significativamente o risco embutido nessas operações. De novo: menos risco significa juros mais baixos. "Os juros das operações com FGO são, em média, 30% menores", diz Sérgio Rau, gerente executivo do Banco do Brasil para as micro e pequenas empresas. "O FGO também amplia o acesso ao crédito, pois isenta as empresas de apresentar garantias como imóveis ou máquinas."

O Banco do Brasil é o responsável por administrar os recursos do FGO, mas suas garantias estão abertas a qualquer instituição que contribuir com o fundo, depositando nele 0,5% do montante previsto para empréstimo nas linhas cobertas. Por enquanto, apenas o Banco do Brasil, a Nossa Caixa e a Caixa Econômica Federal aderiram. Mesmo assim, o crédito para capital de giro vem aumentando também em outras instituições. No banco Prosper, braço financeiro do grupo industrial Peixoto de Castro, por exemplo, as taxas dessas linhas caíram até 20% em relação há um ano.

Segundo muitos analistas, a competição no mercado de crédito às pequenas e médias empresas deve aumentar -- o que é ótimo para elas. "Conquistar novos clientes entre as pequenas e médias empresas será cada vez mais estratégico para os bancos", diz Lima, do Assaf. Depois de conseguir seu empréstimo de fim de ano, Moreira, da Sammer Bike, recebeu um telefonema totalmente inesperado. Era o gerente de um banco privado, que queria lhe oferecer um empréstimo. "Quando expliquei que não precisava mais, ele ficou muito desapontado", diz Moreira. "Achei que o gerente fosse depositar o dinheiro à força na minha conta."

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