A hora de passar o bastão
Pequenas e médias empresas familiares enfrentam dificuldades na sucessão dos herdeiros. Mas também há vantagens nesse modelo de negócios
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Quando entrava na Di Cunto, empresa familiar de panificação, Marcos Di Cunto Júnior ia logo dizendo: "Vamos trabalhar, porque o chefe chegou". A frase soaria autoritária se não partisse de um menino que, à época, tinha três anos. "Eu achava muita graça", diz o pai, Marcos Di Cunto, que ontem, foi à Escola Superior de Propaganda e Marketing especialmente para assistir à palestra do filho. Marcos Júnior, 26 anos, hoje é responsável pelas áreas de comunicação e marketing da empresa. Ele falou sobre sua experiência de dar continuidade ao negócio que começou como uma padaria de seu tataravô, imigrante italiano, e hoje conta com 180 funcionários e 1mil produtos de fabricação própria. "Somos uma média empresa, e reconheço a cultura de minha família em cada canto do negócio", diz Marcos.
Histórias bem sucedidas de continuidade empresarial parecem ser exceções diante dos muitos casos de empreendimentos que afundam assim que chegam às mãos de herdeiros - especialmente os de terceira geração. Para especialistas, a passagem da segunda para a terceira geração costuma ser problemática, porque a empresa não cresce na mesma velocidade da família, e porque os sócios - normalmente, primos - não foram criados juntos e não compartilham da mesma cultura. Mas, hoje, as sucessões são cada vez mais planejadas. "Por um tempo, empresa familiar foi sinônimo de falta de profissionalismo, mas isso vem mudando", diz Eduardo Najjar, professor da ESPM. "Se um empreendimento familiar fizer tudo certo, ele tem vantagens competitivas". Isso porque, segundo Najjar, os laços de confiança são mais fortes nesse tipo de empreendimento. Além disso, sócios com relação de parentesco estão mais dispostos a abrir mão de ganhos pessoais em nome do crescimento do negócio.
"Mesmo quando a empresa começou a crescer, meu pai continuou andando com um fusca", diz Mario Ceratti, dos Frigoríficos Ceratti, surgida em 1932 e hoje com faturamento de 63mil reais. "Lembro que ele chegava com um molho de chaves gigante. Aos poucos, ligava as luzes, e os funcionários, com suas marmitas enroladas no jornal, entravam. Era quando a empresa tomava vida", diz Ceratti. "Esse tipo de memória renova a vontade de continuar a história da família".Ceratti, Di Cunto e também herdeiros de empresas como Lupo, de meias, Dedini, de equipamentos industriais, e da extinta loja de departamentos Casa José Silva falaram ontem no I Encontro de Famílias Empresárias, do Núcleo Family Business da ESPM. Os principais temas foram os erros e acertos administrativos, sucessão familiar e a fusão entre relacionamento pessoal e profissional.