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A franquia que funciona no presídio

Funcionário de uma grande indústria de tubos e conexões, Marcos Rossi perdeu o emprego no fim de 2014. O administrador de empresas, então com 48 anos, se viu diante de um dilema comum a trabalhadores de sua idade: esperar uma nova oportunidade de emprego — que, ante o recrudescimento da crise financeira, poderia durar meses […]

ÚNICO ASFALTO: em SC, uma franquia funciona dentro da Penitenciária Industrial de Joinville / Divulgação

ÚNICO ASFALTO: em SC, uma franquia funciona dentro da Penitenciária Industrial de Joinville / Divulgação

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Da Redação

Publicado em 28 de abril de 2016 às 12h55.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h27.

Funcionário de uma grande indústria de tubos e conexões, Marcos Rossi perdeu o emprego no fim de 2014. O administrador de empresas, então com 48 anos, se viu diante de um dilema comum a trabalhadores de sua idade: esperar uma nova oportunidade de emprego — que, ante o recrudescimento da crise financeira, poderia durar meses ou até alguns anos — ou usar boa parte de suas economias e partir para um empreendimento próprio? Rossi não só escolheu a segunda opção como decidiu seguir por um caminho pouco usual, desenvolvendo seu novo negócio: uma unidade da franquia Único Asfalto dentro da Penitenciária Industrial de Joinville, em Santa Catarina.

“Um dos galpões do presídio era um espaço sem utilidade nenhuma. Estamos transformando esse local em algo que gera riquezas e, ao mesmo tempo, aproveita a mão de obra dos detentos”, diz Rossi. “Eles [os presos] têm, na prática, uma oportunidade de ganhar algum dinheiro enquanto estão lá dentro e ainda diminuir a pena.” Pela legislação brasileira, a cada três dias trabalhados, o detento tem um dia a menos de pena a cumprir. Rossi também faz contas. Ele espera bater em breve a marca de 2.000 toneladas de asfalto produzidas por mês e se tornar um dos maiores fornecedores da região.

A Único Asfalto, empresa que vende asfalto em sacos, como os de cimento, foi fundada em 2005 pelo empresário Jorge Coelho, que decidiu transformar seu negócio em franquia quase dez anos depois, em 2014, com o objetivo de expandir a marca. São 55 unidades em operação no país, com faturamento médio de 150.000 por mês. Segundo Rossi, o lucro médio é alto porque o maquinário para a produção de asfalto é próprio (o investimento inicial inclui uma usina de pequeno porte) e todos os insumos são fornecidos pela franqueadora. Construtoras, concessionárias de serviço público, condomínios, estacionamentos, pátios de empresas e pessoas físicas que precisam fazer reparos em propriedades particulares estão entre os principais clientes.

Para Edson Nakajima, diretor executivo da Único Asfalto, o exemplo de gestão adotada por Rossi não só é bem-vindo como deveria servir de inspiração para outros futuros franqueados da rede, principalmente pelo custo-benefício. “A renumeração da mão de obra está abaixo da média do mercado na medida em que os presos não têm um vínculo empregatício com o franqueado — tudo é formalizado por um convênio firmado entre a empresa e o complexo penal”, afirma Nakajima. Ele lembra que o franqueado também não tem custo com aluguel, já que o galpão é cedido pelo presídio por um contrato de cinco anos, renovável por mais cinco. “Temos de bancar somente as despesas com água, energia elétrica, telefone e internet.” Por enquanto, Rossi é o único franqueado da rede com esse modelo de atuação.

“É uma iniciativa totalmente alinhada com os conceitos atuais de gestão, os quais pregam a necessidade de as empresas apoiarem a comunidade onde estão inseridas, com censo de colaboração e um propósito que vá além do lucro”, diz Juarez Leão, consultor e administrador de empresas, diretor do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar). Para o consultor Luis Henrique Stockler, especializado em estratégia para varejo e distribuição, o franqueado da Único Asfalto assumiu alguns riscos ao decidir montar uma unidade dentro de um sistema prisional. “Se a produtividade aumentar, ele precisará investir em treinamento e obter o comprometimento da equipe. E não conseguirá isso pagando mais”, diz. Para Rossi, os benefícios compensam o risco com as sobras.

(Tom Cardoso)

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