A escola do empreendedorismo
O empresário e professor Oriovisto Guimarães fala do processo de diversificação do grupo Positivo
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Com faturamento de 1,85 bilhão de reais em 2006, o Grupo Positivo, fundado em 1972, está presente em todos estados brasileiros e na Ásia, América do Sul, África, Europa e Oriente Médio, além dos Estados Unidos. É líder de mercado na venda de computadores. A informática é o segmento mais conhecido do Grupo, que, 35 anos atrás, começou como escola, depois criou uma gráfica e, hoje, conta também com uma editora. Oriovisto Guimarães, um dos fundadores e presidente do Positivo, conta um pouco da história da empresa, que tem como matéria-prima a educação. Guimarães foi palestrante do Fórum EXAME PME.
Como foi o começo do Grupo Positivo e a transição na carreira de professor para empresário?
Foi uma transição gradual. Eu fiz o curso de Economia, e isso me ajudou muito. A escola surgiu do sonho de fazer algo diferente, ainda não existia. A gráfica foi uma conseqüência. Veio para suprir a necessidade que tínhamos de produzir o material das aulas rapidamente - o que não se encontrava no mercado 35 anos atrás. Naquela época, o investimento para se montar uma gráfica não era tão grande. Já para as escolas, tivemos que nos endividar bastante. Fiquei um bom tempo recebendo apenas o essencial. O importante mesmo era honrar o pagamento dos funcionários.
Como foi a expansão nas outras frentes, como a editora e o setor de informática?
Uma coisa levou à outra. Assim como no caso da gráfica, a parte de informática veio de uma necessidade interna. Precisávamos de computadores para os alunos. Na época, a questão era complicada. Havia barreiras impostas pelo próprio governo para a importação. Resolvemos montar os nossos próprios computadores. Depois, surgiram necessidades em outros setores das escolas, e a produção aumentou. A partir daí, começaram a surgir encomendas, e tivemos que abrir as portas para o mercado externo.
Com a editora foi a mesma coisa?
Sim. A editora surgiu de uma necessidade gerada pela gráfica. Além do nosso material, que é utilizado por 2400 estabelecimentos de ensino em todo o país, produzimos conteúdos por encomenda para escolas, além do Dicionário Aurélio e a revista de educação Aprende Brasil.
Na questão da diversificação dos segmentos de atuação, como isso foi feito sem perder o foco principal do Grupo?
Apesar de atuarmos em diferentes áreas, o nosso foco nunca deixou de ser a educação. Todos os nossos segmentos surgiram e continuam ligados à educação. Na área de informática, além do hardware, produzimos muitos softwares de educação, além dos portais educativos. Como disse, a diversificação foi algo natural. Aproveitamos as oportunidades de negócios que apareceram. No caso do material didático, diretores de outras escolas bateram na nossa porta querendo comprar o que produzíamos para nossos alunos. A princípio, recusamos veementemente. Porém, logo percebi que se não vendêssemos, eles iriam copiar, ou pior, produzir o próprio material, que poderia ser melhor que o nosso.
O senhor poderia dar alguns conselhos para que os empreendedores possam enfrentar dificuldades?
Sobre dificuldades, o conselho que dou aos pequenos e médios empresários é sempre pensar em um plano B, uma saída honrosa caso tudo dê errado. Isso ajuda a diminuir o medo do fracasso. Mas é preciso acreditar nos sonhos, apesar do sonho ser condição necessária, mas não suficiente. Para evitar o fracasso, algumas medidas preventivas podem ser úteis, como ter sempre uma planilha, onde todas as despesas e receitas estejam calculadas. Deve-se te consciência de que a despesa é uma certeza, e a receita, uma pretensão.
Por fim, qual é a postura que um empreendedor deve adotar ser bem sucedido?
Ele é o único que tem uma visão global do negócio, e não deve nunca perdê-la. Tem que conhecer questões tributárias, jurídicas e contábeis. Um conhecimento básico para poder gerir a empresa sem depender da ajuda de especialistas, que têm, apenas, uma visão parcial da empresa. É importante ser humilde na justa medida, sem ser ditador e nem perder a confiança, o amor próprio. Deve respeitar sua empresa, seu sonho que se tornou real. Citando Goethe, "A ação é tudo, a glória é nada". O que resume que mesmo que haja um fracasso, o importante é ter tentado. Na verdade, o maior perigo é tudo dar certo.