7 empreendedores que transformaram seu hobby em negócio
O que acha de trabalhar com aquilo que mais gosta de fazer? Esses empreendedores fizeram isso, e contam agora como conseguiram:
Mariana Desidério
Publicado em 19 de agosto de 2015 às 09h25.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h35.
São Paulo - Que tal trabalhar com algo que você faz por prazer? Os sete empreendedores desta galeria fizeram exatamente isso, e contaram a EXAME.com como conseguiram transformar em negócio algo que antes era apenas um hobby. Dentre as histórias, há casos de quem estava infeliz na carreira e viu no hobby a possibilidade de um trabalho mais motivador. Para outros, a transformação do passatempo em negócio ocorreu quase por acaso. De um jeito ou de outro, todos são unânimes num ponto: trabalhar fica muito mais interessante quando você faz algo de que gosta. Navegue pelas fotos e conheça a trajetória desses empreendedores.
Cinema sempre foi uma paixão para Irene Nagashima. “Eu estava em todas as mostras, ia ao cinema de duas a três vezes por semana”, conta. Até que ela virou mãe do Max e, com um bebê pequeno no colo, se viu privada de seu principal passatempo. “Meu filho mamava no peito, e eu não tinha babá”, lembra. “Desabafei com outras mães, e uma delas propôs de irmos a uma sessão junto com os bebês. Foi maravilhoso.” O encontro foi em 2008, e marcou o início de uma nova relação entre maternidade e cinema para ela. Irene se uniu a outras mães e começou a “invadir” salas de cinema no período da tarde, em São Paulo. “Íamos toda semana”, lembra a ex-consultora de Recursos Humanos. Os encontros ocorreram durante seis meses, até que Irene se viu diante de um dilema. “Ou eu abandonava os encontros para voltar a trabalhar, ou eu assumia aquilo como um trabalho. Foi o que aconteceu.” Sete anos depois, o que era apenas um encontro de mães solitárias em São Paulo tomou outra proporção e tornou-se uma ONG presente em 38 cidades do país. O projeto é patrocinado pela Natura Mamãe e Bebê e pela RiHappy Baby, além de receber auxílio de redes de shoppings interessadas na presença dessas mães em suas unidades. “O CineMaterna é uma forma de ressocialização dessa mulher, que está num período muito delicado. Nosso foco é o lazer da mulher, e permitir que ela conheça outras pessoas no mesmo momento de vida”, afirma Irene. As sessões adaptadas para as mães têm o som mais baixo que o de costume, ar condicionado regulado para não incomodar os bebês e estacionamento para os carrinhos. Além de Irene e sua sócia Taís Viana, a ONG emprega hoje outras oito mulheres e conta com o trabalho voluntário de cerca de 250 mães. Todas as funcionárias da entidade têm filhos e trabalham de casa, para poderem estar mais perto dos pequenos. O CineMaterna não divulga seu faturamento. Hoje, o Max está com 7 anos, e a cinéfila Irene Nagashima já está no segundo filho. A primeira sessão de cinema do caçula Eric foi com apenas 2 dias de vida, numa mostra de cinema em São Paulo. “Jamais pensei em trabalhar com isso. Hoje é muito gratificante.”
Durante seis anos, o designer Érico Borgo, 39 anos, teve dois empregos: um deles pagava as contas do mês, o outro bancava o projeto dos seus sonhos – o site Omelete, especializado em quadrinhos, games, cinema e o que mais couber no que muitos chamam de “cultura nerd”. Nos idos de 1999, o site era apenas uma ideia (quase) fracassada de ganhar dinheiro com o boom da internet. Hoje, é uma das principais referência do mundo pop no Brasil, com nada menos que 6 milhões de acessos por mês, e outros braços como o evento Comic Con Experience e a loja Mundo Geek. Borgo conta que o Omelete nasceu de um reunião de brainstorming na agência de publicidade em que ele trabalhava. “Queríamos aproveitar a primeira onda da internet, e sugeri que fizéssemos um site sobre quadrinhos”, lembra. O projeto foi aprovado e chegou a ir ao ar. Porém, o dinheiro esperado pela agência não chegou, e o designer decidiu deixar a empresa para continuar com a página por conta própria. “Eu já estava apaixonado pelo site e fiz dele meu terceiro emprego. Mantivemos o projeto durante seis anos numa dedicação diária, trabalhando de madrugada. Era um trabalho que exigia muita dedicação”, lembra. Hoje, a empresa emprega cerca de 50 pessoas e teve um faturamento de 14 milhões no ano passado. Para Borgo, além de não precisar mais se desdobrar em vários empregos, o sucesso do Omelete permitiu momentos memoráveis para um fã de quadrinhos e cinema. “Hoje posso viver coisas que jamais imaginei. Outro dia estava no set de filmagens do novo Star Trek. Quando eu tinha 11 anos, ficava fascinado com o filme, e há três dias eu pude entrevistar todo o elenco. Tudo o que cresci lendo, e que era tido como inútil, hoje é meu meio de vida”, comemora o empreendedor.
Insatisfeitos com suas profissões, o publicitário Emerson Viegas, 32 anos, e a tradutora Jaqueline dos Santos Barbosa, 26 anos, resolveram ganhar dinheiro com algo que interessa a todos: sexo. Viegas conta que era o conselheiro oficial de seus amigos, e sempre se interessou em ler sobre relacionamentos, vida sexual e novas formas de viver a dois. “Me interesso por autores como Regina Navarro, Flávio Gikovate e pelo mestre indiano Osho”, conta. Há pouco mais de cinco anos, ele e a namorada decidiram escrever um livro sobre o assunto. “Desistimos quando percebemos que, com um livro, ia demorar muito para termos certeza de que aquilo alcançaria as pessoas”, lembra. Foi então que nasceu a ideia de um espaço na internet que falasse sobre os temas “tabus”. Assim nasceu o site Casal Sem Vergonha, em 2010. Com a promessa de tratar de sexo de forma irreverente, o site tem textos como “Atrizes pornôs dão aula de como mandar bem no sexo oral” ou “O que aconteceu quando decidi encarar um curso de massagem tântrica”. Hoje, a empresa tem outros dois endereços na web: o Nômades Digitais, sobre viagens e tecnologia, e o Hypeness, sobre inovação. Todos os espaços falam de temas de interesse do casal empreendedor. Juntos, os três sites somam cerca de 10 milhões de usuários por mês, e geraram um faturamento de 2,5 milhões de reais em 2014. Para Viegas, trabalhar com o que lhe dá prazer (literalmente) é ótimo, mas tem seus pontos negativos. “As pessoas têm uma expectativa de que, ao trabalhar com algo de que gostam, não vão se sentir trabalhando. Não é assim. A gente acorda cedo, tem de trabalhar muitas horas por dia, e tem de fazer coisas como gestão de pessoas e planejamento financeiro”, pondera o empresário.
Quando começou a produzir camisetas estampadas, há 12 anos, tudo o que o publicitário Rafael D’Ávila queria era se vestir bem. Ele conta que trabalhou durante cerca de três anos como vendedor em lojas de marcas como Triton e Colcci. Com isso, conseguia as peças dessas marcas por preços bem mais acessíveis. “Quando parei de vender, queria continuar me vestindo bem, mas não tinha dinheiro para comprar aquelas roupas”, lembra D’Ávila, que está com 33 anos. A solução foi simples: ele passou a fazer as próprias peças. D’Ávila criava as estampas de suas camisetas e mandava fazê-las numa estamparia perto de sua casa, em Florianópolis (SC). Para conseguir pagar pela produção, vendia algumas peças aos amigos da faculdade. “O negócio começou de forma bem descompromissada. Eu gostava muito de desenhar, de criar estampas, e gostava muito de moda. Então uni essas duas linhas, e foi assim que eu comecei”, conta. Logo a marca de D’Ávila começou a aparecer em lojas multimarcas e a vender pela internet. “Começamos na internet numa época em que e-commerce no Brasil vendia praticamente só eletrônicos. De certa forma, fomos pioneiros”, afirma. Hoje, a Korova é a queridinha de famosos como a cantora Anitta, que já apareceu na TV exibindo a marca. D’Ávila garante que a marca não patrocina os artistas, apenas envia as peças para que eles usem se quiserem. Além dos desenhos feitos pela marca, a Korova também oferece ao comprador a possiblidade de criar sua própria estampa. O serviço é justamente o que o empreendedor D’Ávila buscava quando começou a criar suas roupas, há 12 anos. “Se existisse um serviço como esse naquela época, talvez eu não tivesse entrado nesse negócio”, afirma. Com cerca de 40 funcionários, 3 lojas próprias e 2 franquias – uma em Curitiba e outra recém-aberta em São Paulo --, a Korova tem dobrado seu faturamento nos últimos sete anos. A empresa, porém, não divulga valores. Agora, a marca se prepara para inaugurar sua fábrica e aposta na expansão via franqueados. Para D’Ávila, apesar de não ser mais uma produção caseira, a marca ainda mantém a mesma filosofia. “Continuo criando peças que eu usaria. Se quero uma calça com uma cor diferente, mando fazer e vendo. O princípio é o mesmo do início”, afirma.
O advogado Paulo Cesar Fernandes, 47 anos, nunca se envolveu muito com sua profissão, mas sempre adorou praticar atividade física. “Sou faixa preta no judô, ando de bicicleta e pratico musculação”, conta. Para dar conta de tantos exercícios, Fernandes consome suplementos alimentares desde a época em que eles não eram muito conhecidos aqui no Brasil. “As pessoas achavam que eu tomava bomba”, lembra. Aos 34 anos, numa tentativa de encontrar um trabalho em que se sentisse mais realizado, Fernandes abriu uma loja de suplementos no centro de São Paulo. “Era um box de 2 metros por 1. Hoje vamos para 300 metros quadrados”, comemora o empresário. O sucesso veio, mas a mudança não foi fácil, lembra. Ele ficou um ano conciliando o novo negócio com o emprego anterior como advogado. Além do esforço extra, precisou lidar com a frustração da família. “Meu pai ainda me apresenta para as pessoas como advogado, e de vez em quando me pede uma consultoria jurídica. As pessoas gostam mais de carreiras tradicionais”, afirma. A Dr. Shape hoje tem 21 lojas franqueadas e ampliou sua gama de produtos. “O carro chefe são os suplementos, mas vendemos luvas, pesos, acessórios para crossfit, quimonos etc”, diz. Para Fernandes, que nunca abandonou os exercícios físicos, “é uma alegria poder unir o útil ao agradável”. “Eu sentia que, na carreira jurídica, eu mesmo limitava minha evolução. Quando você trabalha pra uma empresa, tem que defender os interesses dela, e nem sempre esses interesses são os mesmos que os seus. Agora não tenho mais aquela tristeza no domingo à noite, não tenho aquele sentimento de ‘hoje é segunda-feira’”, resume o empresário.
O negócio de Lindolfo Paiva, 50 anos, nasceu da união entre o gosto pela cozinha e uma amizade internacional. Paiva estava numa missão da igreja mórmon no Sul do país, quando conheceu o americano Jay Cheney. Os dois se tornaram grandes amigos, e Cheney ensinou ao brasileiro uma valiosa receita de cookies americanos. Amantes da cozinha, Paiva e sua esposa Elida passaram a preparar o doce para a família e os amigos. Imediatamente, os cookies se tornaram um sucesso. “Os elogios eram muitos, as pessoas pediam para fazermos de novo, tinha até gente que queria comprar. Aí percebemos que era uma oportunidade interessante”, conta o empreendedor. A primeira loja do casal foi aberta em 2005, na Casa Verde, zona norte de São Paulo. O nome: Mr. Cheney, em homenagem ao amigo americano. Enquanto Paiva cuidava da parte financeira do negócio, Elida garantia que os cookies fossem cozidos com perfeição e o toque caseiro que os define até hoje. Os cinco filhos do casal se especializaram em verificar a qualidade – “eles são fãs e sabem se o cookie está no ponto certo”, conta Paiva. Quando cresceram, também passaram a ajudar na loja. Trabalhando como gestor de empresas, Paiva ficou dois anos dividido entre o emprego e o negócio próprio. Depois, ainda continuou investindo na marca de cookies durante bons anos. “Até 2014 eu ainda estava colocando dinheiro no negócio. Agora chegamos a um ponto de equilíbrio. Não sei quanto investi, mas foram alguns milhões. Chegamos a vender uma casa”, lembra o empresário. O investimento e a paciência valeram a pena. Hoje a Mr. Cheney tem 45 lojas, sendo seis próprias, além de uma fábrica. O faturamento mensal da rede é de 2,5 milhões de reais. Agora, a Mr. Cheney quer expandir também para o exterior, começando pelos Estados Unidos, onde os cookies já são conhecidos. A amizade com o americano Jay Cheney continua, mas, segundo Paiva, o amigo não tem interesse em entrar no negócio dos cookies. “Ele sempre nos auxiliou por amizade mesmo. Cheney é professor de golfe e gosta da vida que leva”, conta.
O mineiro Leonardo Marques, 44 anos, já trabalhou em banco, na indústria farmacêutica e passou boa parte da vida como vendedor. Apesar de gostar do ofício, chegou uma hora em que ele cansou de vender. Mas de uma coisa Marques não cansava: ele sempre adorou cozinhar para os amigos e era o mestre cuca oficial dos encontros. “Eu estava em todas, era igual o dono da bola”, diverte-se. Em meio às dúvidas profissionais, Marques resolveu ouvir um amigo. “Ele me disse: ‘Se você está insatisfeito com as vendas, e é tão bom de cozinha, que tal montarmos um restaurante?’”, lembra. Foi assim que, em 2006, nasceu o Boteco da Carne, em Belo Horizonte, Minas Gerais. O empresário e cozinheiro admite que o início do negócio não foi fácil. “Tive problemas de gestão e fiquei mal das pernas. Também aprendi a deixar meu gosto um pouco de lado. Afinal, nem sempre o seu gosto é o mesmo do cliente”, afirma. Apesar dos revezes, o lugar continuou de pé e deu origem a outros três restaurantes: Bartiquim Gonzaga, Monjardim Costelaria e o Restaurante Santa Rita – todos eles com foco nas carnes. “Sempre gostei demais de carne: churrasco, peixada, galinhada. Nunca fui de uma cozinha muito refinada. Minha cozinha é a do dia a dia. É elaborada, mas sem muita frescura”, define. Hoje, Marques afirma que só entra na cozinha para “apagar incêndio”. No entanto, o cozinheiro não abre mão de criar todos os pratos de seus restaurantes. “Adoro criar esses pratos. Num restaurante, se você não muda o cardápio, cai na mesmice, e o cliente chia na hora”, ensina. Marques se diz satisfeito com o trabalho nos restaurantes, mas afirma que, no fim das contas, nunca deixou de ser vendedor. “Restaurante é venda diária”, afirma. Hoje, as casas de Marques empregam 110 pessoas e servem cerca de 900 refeições por dia durante a semana – aos sábados essa conta aumenta para 1.500. O faturamento ele não revela, mas conta que deve crescer até 20% em 2015. Agora, o empresário se prepara para abrir o seu quinto restaurante. Assim como seus negócios, Marques garante que seu gosto pela cozinha também está em crescimento: “Se quando fazia de graça era bom, ganhando dinheiro com isso é melhor ainda”, brinca.