Ideias na cabeça: a regra para se manter no mercado é abandonar o senso comum (Thinkstock)
Mariana Fonseca
Publicado em 21 de julho de 2015 às 06h00.
São Paulo - Inovação, vendas, finanças, marketing e gestão: todas as áreas da empresa possuem alguns pensamentos conhecidos, mas que nem por isso levam ao sucesso. Pior: mantê-los pode matar o seu negócio. EXAME.com entrevistou especialistas para saber quais são essas ideias equivocadas que podem atrapalhar seu empreendimento.
O sucesso e o fracasso dependem mais de uma postura que o empreendedor assume do que de fatores externos, afirma Ana de Oliveira, consultora do Sebrae de São Paulo. "O contexto econômico, por exemplo, pode afetar o negócio. Mas, se o empreendedor ficar parado diante disso, ele será engolido pela crise”.
Para Solange Castro, professora do curso de pós-graduação CBA Gestão de Pessoas do Ibmec/DF, é preciso afastar objetivos genéricos ao começar um negócio. "Muitos pensam 'vou fazer o máximo'. Máximo em relação ao quê? Não ter objetivos claros e mensuráveis é um problema", afirma.
"Na hora em que o empreendedor para de buscar coisas novas, ele começa a morrer", afirma Alessandro Saade, professor do Master em Empreendedorismo e Novos Negócios da Business School São Paulo (BSP). A nova geração já entende melhor que não pode ficar parada, já que vê tendências e informações por diversos meios, segundo o docente.
Por isso, a regra para se manter no mercado é abandonar o senso comum. Veja, a seguir, 20 pensamentos conhecidos, mas que podem levar seu empreendimento à ruína:
Nenhum negócio é garantia de sucesso ou de fracasso, ao menos a princípio. Isso porque um empreendimento não é feito só de ideia, mas também de execução. "O que faz com que o empreendedor ganhe dinheiro é como ele vai operar o negócio, tendo uma boa estratégia e sabendo qual a necessidade do cliente que ele quer sanar", diz Ana.
"Essa é uma frase que atrapalha muito. O grande risco é o empreendedor se apaixonar pelo própria ideia", afirma Saade. Muitas vezes, outros podem ter feito a mesma junção de informações e só não terem executado a ideia porque ela não é tão boa assim. Estar animado pela ideia não pode significar deixar de prestar atenção na sua real possibilidade de ser bem sucedida.
Mesmo que você tenha a sorte de ter uma ideia original, ela se manterá assim por pouco tempo. "Com certeza você tem uma visão boa. Caso contrário, você não estaria no mercado. Mas saiba que essa visão não é livre de cópia", afirma Saade. Para Ana, o que fica depois é o diferencial, que é o que o empreendedor vai fazer para manter seu cliente.
Você pode até pensar grande, mas mantenha os pés no chão, aconselha Solange. "Não dê um passo maior do que as pernas. Veja qual o recurso que você tem hoje, como equipamentos e capacidade de endividamento".
Pode até ser que você seja o único que oferece um produto ou serviço em uma região. Mas, olhando melhor, você verá que outros vendem a mesma solução que você, ou seja, um substituto para seu negócio.
"O empreendedor sempre tem que fazer a divulgação do produto e destacar qual seu diferencial. Um erro é achar que não há concorrência e então parar com a comunicação. Em pouco tempo, seu negócio é esquecido e outro assume sua função", afirma Saade.
O que trouxe o empreendedor até aqui não o levará adiante necessariamente, afirma Saade. "O ambiente muda, junto com a forma de consumir o produto ou serviço. Nessas horas, não adianta fazer igual". Para Ana, "o empreendedor precisa manter a essência do negócio, mas também precisa olhar para a gestão dele e saber se precisa administrar de forma diferente".
Uma característica do empreendedorismo é o pioneirismo: ou seja, buscar uma necessidade que ainda não foi atendida. Quem hoje ganha dinheiro com um negócio pode não ter começado tão bem assim, afirma Solange. "Você pode até entrar no mesmo mercado, mas veja qual o valor que você está agregando, aquilo que quem já ganha muito dinheiro na área não oferece".
O empreendedor precisa conhecer e executar seu modelo de gestão, mas também deve torná-lo público. "O negócio tem que funcionar e ser claro a qualquer pessoa que entra no estabelecimento, seja funcionário ou cliente", diz Ana. Caso contrário, a própria equipe pode desconhecer qual o objetivo da empresa, por exemplo.
Pior do que esconder o planejamento é dizer a frase só para esconder o fato de que não há um projeto. Para Solange, muitos brasileiros não têm cultura de planejamento. "No mundo dos negócios, se você não planeja, você não prospera".
Esse tipo de pensamento é uma desculpa para quem não consegue ter uma performance melhor dentro do seu segmento, diz Ana. Ao invés de se preocupar com a concorrência, olhe mais para dentro do seu negócio. "Pergunte-se como você avalia sua gestão e também suas finanças".
Quem acha que seu consumidor pode ser todo mundo é porque não conhece seu cliente de verdade. "O empreendedor tem que definir seu público-alvo em poder econômico, acesso cultural, faixa etária e gênero, por exemplo. Assim, ele sabe quem é o alvo do marketing da empresa", afirma Ana.
Um negócio não é apenas feito de vendas. "É preciso olhar para dentro de casa, ter gestão", afirma Solange. Por isso, não simplifique na hora de definir os objetivos do seu empreendimento: analise seu fluxo de caixa, contrate e treine funcionários, faça orçamentos e precifique, por exemplo.
Precificar seu produto ou serviço não combina com seguir regrinhas genéricas, explica Ana. "O empreendedor precisa olhar todos os custos e despesas da sua empresa e, partir daí, saber se aquele valor que ele quer aplicar é suficiente para cobrir os gastos". Assim, cada empreendimento tem um preço, que leva em consideração fatores como orçamento, oferta de itens similares e demanda.
Se você acha que épocas de crise pedem um atendimento reduzido, um produto com material inferior ou a cobrança por um serviço que era gratuito, saiba que isso pode afugentar o consumidor e afundar o negócio em uma crise ainda maior. "O consumidor percebe essas mudanças, então todas devem ser para melhor. Na primeira vez que vê algo ruim, ele releva. Na segunda, ele some", diz Saade.
Na hora de vender um produto, você sabe quanto de fato ganhou? Alguns empreendedores desconsideram as taxas de administração da máquina de cartão de crédito ou então a porcentagem de desconto sobre a venda que esse tipo de pagamento tem, por exemplo. "Essa confusão financeira do que é entrada e o que é saída faz com que ele não saiba se está em um bom negócio ou não", diz Ana.
Ser empreendedor exige um comprometimento ainda maior do que quando se é funcionário. "O dono deve agir como se sempre tivesse que prestar contas. É preciso ter compromisso com a consciência e a qualidade, porque, afinal, o seu negócio é seu ganha-pão", afirma Solange.
Lembre-se: o que sobra na empresa é da empresa. "Os ganhos do empreendedor devem estar descritos dentro do planejamento financeiro do negócio. O dinheiro que eventualmente sobra é para reinvestir no negócio", alerta Ana.
A forma de consumir o que sua empresa oferece irá mudar, uma hora ou outra. Foi o que aconteceu com as locadoras de filme, trocadas por serviços como o Netflix. "Você tem que estar sempre estudando o mercado e ter a humildade de reconhecer que nunca irá saber tudo", recomenda Saade.
Competências de relacionamentos que já eram exigidas de um funcionário são ainda mais importantes para um empreendedor, diz Solange. "Como dono de um negócio, você deve usar a política para persuadir fornecedores e clientes. Sua rede de relacionamentos será ainda mais fundamental para o sucesso".
Achar que ter seu próprio negócio significa trabalhar menos não vale para todos os casos. Muitas vezes, o empreendedor trabalha muito mais do que o funcionário. "Quem define o tempo, na verdade, é o próprio ritmo do negócio. Não ache que vai tirar férias quando quiser", alerta Solange.
Saade chama esse tipo de pensamento de "síndrome do eu também". O empreendedor pega carona no que faz sucesso, mas não sabe comprar matéria-prima, precificar ou vender de acordo. "Ele vê que todos falam sobre isso, mas não sabe como jogar. Com isso, ele pode até quebrar".
Muitos empreendedores de sucesso já quebraram. A diferença é que eles não desistem. "É preciso ter resiliência, porque você vai perder dinheiro. O mercado é assim”, afirma Solange. Segundo a professora, o empreendedor precisa saber correr riscos calculados, com base na busca constante de informações, no monitoramento do mercado, no planejamento e no controle da empresa.