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Volkswagen se prepara para o futuro do carro, mas chefe faz menção nazista

O chefe Herbert Diess tem muitas das qualidades necessárias para gerenciar a transição, mas parece não ter uma habilidade essencial: sensibilidade humana

Os esforços da gigante automotiva alemã para deixar o escândalo do diesel para trás com um enorme giro em direção aos veículos elétricos foram colocados em risco na semana passada (Divulgação/Reprodução)

Os esforços da gigante automotiva alemã para deixar o escândalo do diesel para trás com um enorme giro em direção aos veículos elétricos foram colocados em risco na semana passada (Divulgação/Reprodução)

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Da Redação

Publicado em 24 de março de 2019 às 08h00.

Última atualização em 24 de março de 2019 às 09h06.

A Volkswagen se prepara para a transformação mais abrangente a afetar o setor automotivo desde a invenção do automóvel. É um momento que exige que os líderes empresariais façam apostas tecnológicas ousadas, derrubem as estruturas estabelecidas e considerem novos modelos de negócios e parcerias. Significa também que milhares de empregos bem pagos na produção desaparecerão.

O chefe da VW, Herbert Diess, tem muitas das qualidades necessárias para gerenciar a transição, incluindo visão de longo prazo, olho para encontrar custos desnecessários e determinação obstinada. Mas ele parece não ter pelo menos uma habilidade essencial para quem administra mudanças dolorosas: sensibilidade política e humana.

Os esforços da gigante automotiva alemã para deixar o escândalo do diesel para trás com um enorme giro em direção aos veículos elétricos foram colocados em risco na semana passada quando Diess disse algo incrivelmente estúpido e ofensivo: “Ebit macht frei”. (Algo que pode ser traduzido como “O lucro liberta”).

Todo alemão conhece a insensível e falsa mensagem “Arbeit macht frei” (O trabalho liberta) que os prisioneiros que entravam nos campos de concentração nazistas eram obrigados a respeitar. As ligações históricas da Volkswagen com o partido nazista fazem com que o dever da empresa de falar e de se comportar de maneira responsável seja maior do que o das outras empresas. Diess afirma que estava tentando motivar os gerentes a entregar lucros melhores e, assim, garantir a autonomia da empresa. Não há motivos para pensar que ele tivesse algum motivo sinistro, mas ele deveria ser consciente da ofensa que suas palavras causariam.

Alguns investidores estão furiosos e acham que ele deve renunciar, informou o Financial Times nesta semana. Mas esse ponto de vista está longe de ser unânime. Diess se tornou chefe da principal marca da VW em 2015 e assumiu o cargo no grupo no ano passado. Em comunicado no qual buscou se distanciar dos comentários, o conselho de supervisão da VW afirmou que “toma nota” do pedido de desculpas de Diess, o que parece significar que foi aceito.

O conselho inclui representantes das famílias Porsche e Piech e dos trabalhadores, além de políticos locais (o estado da Baixa Saxônia tem 20 por cento dos direitos de voto e as famílias controlam 53 por cento). Se eles não quiserem expulsar Diess, então seu emprego estará garantido, independentemente do que os gerentes de fundos pensam.

O que mais preocupa é a credibilidade dele diante da enorme força de trabalho da VW. A estratégia de Diess prevê que os carros movidos a bateria representarão 40 por cento das vendas da VW até 2030, um compromisso muito maior do que o da maioria de seus pares. A fabricação de veículos elétricos demanda muito menos mão de obra do que a de um modelo com motor de combustão, de forma que os funcionários da VW já têm razões suficientes para ter ressentimentos em relação a ele.

Bernd Osterloh, o poderoso chefe do conselho dos trabalhadores, entrou em choque com Diess muitas vezes, inclusive sobre a possibilidade de novas demissões. Os atrasos no desenvolvimento e na certificação de veículos importantes da VW, no ano passado, foram um presente para Osterloh, porque deram a impressão de que a inépcia da diretoria, e não a intransigência dos trabalhadores, era o principal motivo para a baixa rentabilidade da empresa. Diess cometeu um erro ao tomar uma atitude que mina ainda mais sua autoridade.

No entanto, a última coisa de que a empresa precisa é de outra divergência entre os trabalhadores e a diretoria. O fato de Osterloh não ter usado publicamente as declarações de Diess contra ele faz com que pareça mais provável que os dois lados venham a acertar suas diferenças. Altos funcionários da VW deverão se reunir na sexta-feira para tentar reconciliações sobre vários assuntos, noticiou o Der Spiegel na quarta-feira.

Apesar das nuvens de tempestade sobre o setor, os analistas ainda acreditam que a VW será capaz de gerar surpreendentes 44 bilhões de euros de lucro líquido nos próximos três anos, cerca de 60 por cento de sua capitalização de mercado. Os investidores continuam não acreditando que a enorme aposta de Diess nos veículos elétricos compensará ou que ele fará muito progresso combatendo a inchada base de custos e desbloqueando valor do extenso leque de marcas da empresa. A decisão de adiar o IPO da unidade de caminhões da VW não ajudou.

A notícia de que os clãs Porsche e Piech gastaram 400 milhões de euros na compra de mais ações com direito a voto é mais encorajadora. Diess precisa provar que o voto de confiança se justifica. Ele pode começar escolhendo suas palavras com mais cuidado.

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