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Você delata, eu financio: a polêmica proposta da CCR vai a votação

Companhia planeja pagar 78 mil reais mensais durante cinco anos para 15 ex-executivos; e quer saber antes o que eles vão delatar

CCR: concessionária perdeu 24% do valor de mercado em 2018 (CCR/Divulgação)

CCR: concessionária perdeu 24% do valor de mercado em 2018 (CCR/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 22 de abril de 2019 às 05h59.

Última atualização em 22 de abril de 2019 às 11h37.

A CCR – concessionária de sistemas de infraestrutura que opera desde as rodovias paulistas Anhanguera e Bandeirantes até o sistema de metrô de Salvador – tem nesta segunda-feira uma assembleia extraordinária cercada de polêmica. Os acionistas devem votar um plano da companhia de pagar 78 mil reais mensais durante cinco anos para cada um dos seus 15 ex-executivos que colaborarem com investigações de corrupção, em um total de 71 milhões de reais.

A proposta é inédita no país. A CCR foi envolvida em diversas investigações de corrupção nos últimos meses. Mas justamente quando surgiu a melhor chance de esclarecer a participação na Lava-Jato a companhia resolveu criar as próprias regras para a delação premiada de executivos, aumentando as suspeitas sobre a sua atuação.

Além de socializar o custo com investidores que nada tiveram a ver com os malfeitos, o chamado programa de incentivo à colaboração, já aprovado pelo conselho de administração da companhia, dá a entender que os gestores tenham que avisar antecipadamente à concessionária o que pretendem contar para os procuradores. Os minoritários vêm no pacote um grande estímulos para que os executivos sejam bastante seletivos nos seus depoimentos, preservando a companhia que está pagando por sua crise de consciência.

As desconfianças quanto ao seu papel em esquemas ilícitos vêm custando caro à CCR. A concessionária, que conta entre seus maiores sócios os grupos Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, também enrolados na Lava-Jato, perdeu 24% do valor de mercado em 2018, caindo para cerca de 24 bilhões de reais. Em fevereiro do ano passado, o lobista Adir Assad disse em delação premiada que recebeu da CCR propina destinada ao ex-presidente da Dersa Paulo Vieira de Souza, ligado ao PSDB. Em setembro, a sede da companhia, na capital de São Paulo, foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal. A cada denúncia mal explicada, um tombo na bolsa.

Os investidores passaram a acreditar que a CCR poderia colocar todas as dúvidas em pratos limpos neste ano, quando a empresa sinalizou que está disposta a fechar um acordo com o Ministério Público Federal em Curitiba, responsável pela Lava-Jato, assim como já havia feito em outros processos estaduais. O papel da concessionária chegou a subir 20% em janeiro. Os termos da negociação levantaram a ira dos acionistas minoritários, entretanto, e desde então a ação já perdeu tudo que tinha avançado.

O banco Santander Brasil projeta uma alta de 13,3% nas receitas da empresa neste ano ante 2018, para 10 bilhões de reais, com aumento de 22% nos lucros, para 1,9 bilhão de reais. A contínua falta de transparência em relação aos potenciais prejuízos com multas e compensações relativas a crimes cometidos no passado, porém, coloca essa perspectiva positiva em xeque.

Nota da CCR, publicada às 11h30 de 22/4:

Em relação à matéria “Você delata, eu financio: a polêmica proposta da CCR vai a votação”, o Grupo CCR esclarece os seguintes pontos:
1) Não procede a afirmação de que os ex-executivos teriam de avisar antecipadamente à empresa o conteúdo de suas colaborações à Justiça. Tal afirmação não faz sentido pelo fato de que todas as informações prestadas pelos ex-administradores são sigilosas e que somente as autoridades do Ministério Público têm acesso.

A Companhia esclarece ainda que tem adotado todas as medidas para elucidação dos fatos. O Plano de Incentivo à Colaboração tem o objetivo de garantir que os ex-executivos possam contar tudo o que sabem para as autoridades.

A Companhia avalia que esta é a forma mais efetiva para o Ministério Público ter todos os dados para concluir a sua investigação, e dessa forma não restar nenhuma dúvida sobre as ilicitudes cometidas.

2) O Acordo de Leniência com o Ministério Público Federal do Paraná foi assinado e anunciado no dia 06/03/19, conforme Fato Relevante, e homologado pela 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal no dia 28/3.

3) O Grupo CCR tem adotado total transparência em relação aos custos para a empresa gerados pelos acordos feitos com a Justiça, conforme todos os documentos publicados na CVM e no site da Companhia, detalhando os termos destes acordos. A empresa reafirma que esses acordos são fundamentais para a continuidade dos seus negócios.

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