Washington Post: fundado em 1877, jornal esteve sob controle da família Graham desde 1933 (Andrew Harrer/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2013 às 22h26.
Washington - A venda, divulgada nesta segunda-feira, de um dos mais prestigiados jornais dos Estados Unidos, o "The Washington Post", ao fundador do portal de vendas na internet Amazon, Jeffrey Bezos, põe fim a 80 anos ininterruptos de propriedade da família Graham, um modelo familiar de empresa jornalística que mal sobrevive no país.
"Este é um momento que minha família e eu jamais achamos que chegaria. A Washington Post Company (até agora proprietária do jornal) vendeu o jornal que possuiu e nutriu durante oito décadas", publicou em comunicado Katharine Weymouth, editora do jornal e membro da quarta geração dos Graham.
Seu tio, Donald Graham, é o atual diretor-executivo da companhia e principal responsável pela venda ao milionário Bezos, que, em apenas 20 anos, conseguiu levar ao topo um modelo de empresa criado do nada, a Amazon, e tornar-se o 11º dos americanos mais ricos, segundo a revista "Forbes".
"O "Post" poderia ter sobrevivido sob propriedade da família e voltar a ser rentável em um futuro imediato. Mas queríamos mais que a mera sobrevivência. Não digo que isto garanta o sucesso, mas nos dá uma possibilidade muito maior de alcançá-lo", afirmou Graham em declarações ao próprio jornal.
Fundado em 1877, "The Washington Post" esteve sob controle da família Graham desde 1933, o que o transformava, até esta segunda-feira, em um dos últimos jornais de propriedade familiar em EUA, um modelo que alcançou o apogeu no século 20, mas que parece condenado ao desaparecimento no mercado contemporâneo.
Com a explosão da internet e a grande crise do setor jornalístico, várias famílias com longa tradição na imprensa local, que se tornaram o modelo de organização dos meios de comunicação impresso americanos, organizado desde o início em torno de povoados e cidades, se viram obrigadas ou optaram por vender suas propriedades a ricos investidores.
Foi o caso dos Chandlers ("Los Angeles Times"), os Cowles ("Mineapolis Star Tribune"), os Copleys ("San Diego Union-Tribune"), os Taylor ("The Boston Globe") e os Bancrofts ("Wall Street Journal").
Entre os poucos jornais "familiares" que ainda sobrevivem está o "New York Times", propriedade da família Sulzberger.
Após 90 anos esplêndidos, nos quais o "Post" alcançou números jamais antes registrados, o principal jornal de Washington viu durante os últimos seis anos a receita da companhia cair 44% e a circulação de sua edição caiu 7% no primeiro semestre de 2013.
Esse foi um dos principais sintomas do futuro incerto de um dos jornais de maior credibilidade dos EUA, que alcançou máxima notoriedade na década de 1970 quando, sob a direção de Katharine Graham, o "Post" deixou seu marca na história americana com a publicação dos papéis do Pentágono - junto ao "New York Times" - e do escândalo Watergate, que forçou a renúncia do presidente Richard Nixon.
Katharine Graham, mãe do atual diretor-executivo, foi uma pioneira em um campo até então reservado aos homens e, segundo o próprio jornal, sobrepôs-se tanto a isso como a sua inexperiência e levou o periódico a "um de seus períodos mais coloridos e de maior expansão".
"Kay (Katharine) assumiu as responsabilidades da companhia em 1963 com dor, insegura de si mesma, mas totalmente segura de seus princípios", escreveu o grande amigo e prestigiado investidor Warren Buffett, quarto homem mais rico do mundo.
A venda do "Post", apesar de tudo, não vai significar um desenlace definitivo entre os herdeiros de Graham e o jornal, já que o novo proprietário, Bezos, já garantiu que o conselho diretor será o mesmo, motivo pelo qual a atual editora, Katharine Weymouth, seguirá à frente do jornal de sua avó.