Exame Logo

Vale perderá foco e lucros se investir mais em siderurgia

Segundo analistas, as maiores chances de crescer ainda estão na mineração, apesar da pressão do governo

Carregamento da Vale, no Porto de Tubarão, Espírito Santo: a companhia é a maior produtora de minério de ferro do mundo (AGÊNCIA VALE)
DR

Da Redação

Publicado em 1 de abril de 2011 às 13h25.

São Paulo – A Vale vive uma crise dupla: de gestão e de identidade. A primeira delas se confirmou nesta quinta-feira (31/3) com o anúncio oficial de que o atual presidente Roger Agnelli deixará o cargo na mineradora. Mineradora? A Vale é a maior produtora de minério de ferro do mundo, mas as constantes pressões do governo sobre a atuação da companhia já deixam dúvidas sobre o rumo que ela seguirá.

O governo Dilma quer a Vale mais atuante em siderurgia, um setor em que a empresa ainda engatinha. A lógica é simples: diminuir a exportação de minério de ferro e aumentar a de aço, que tem maior valor agregado (o que aliviaria as contas públicas do governo sempre disposto a diminuir os gastos, mas que ainda não se mostrou eficaz nessa questão).

Atualmente, a Vale tem quatro projetos siderúrgicos em andamento que totalizam 21 bilhões de dólares. São eles: Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), no Rio de Janeiro; Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), no Ceará; Aços Laminados do Pará (Alpa), no Pará; e Companhia Siderúrgica Ubu (CSU), no Espírito Santo.

Briga de gigantes - Apesar da grandiosidade dos projetos, a Vale retoma investimentos num mercado competitivo e com gigantes já estabelecidas no setor. A ArcelorMittal, maior grupo siderúrgico do mundo, planeja investir nos próximos quatro anos 5 bilhões de dólares somente no Brasil – um dos 25 países em que atua. Segundo o presidente do grupo, o indiano Lakshmi Mittal, o ritmo vai depender da demanda do mercado e dos investimentos do governo em infraestrutura. A Gerdau – 13ª maior produtora de aço do mundo e a brasileira mais bem posicionada no ranking da World Steel Association– vai investir 10,8 bilhões de reais entre 2011 e 2015 nas operações brasileiras, da América do Norte e da América Latina.

O setor passa por uma consolidação em todo o mundo. Depois de uma retração no mercado de siderurgia e minério de ferro, o setor retomou crescimento e somou 27 bilhões de dólares em fusões e aquisições em 2010 – um salto de 78% em relação ao ano anterior segundo o relatório Forging Ahead – 2010 Annual Review, elaborado pela consultoria PriceWaterhouseCoopers. Para forçar a Vale a entrar com mais força na siderurgia, o governo avisou que pode sobretaxar a venda de minério de ferro. “Essa medida não é boa para o governo, porque a balança comercial tem superávit apenas por conta do minério de ferro e da soja”, afirma o analista Pedro Galdi. “Dependendo da taxação, a Vale pode perder competitividade.”


A Vale afirma, no entanto, que continuará a incentivar o desenvolvimento de novos projetos siderúrgicos no Brasil através de participações minoritárias e temporárias em joint-ventures com o objetivo de ser fornecedora exclusiva de minério de ferro. A presidente Dilma Rousseff quer essa estratégia elevada à máxima potência, o que desviaria o foco principal da Vale – a mineração. O mercado já não recebeu bem as especulações. “Uma mudança pode significar um impacto negativo na estratégia de crescimento da empresa”, diz o analista Tony Robson, da consultoria americana BMO Capital Markets. “No curto prazo, as consequencias podem ser mínimas, mas com grande potencial de prejuízos no longo prazo se as decisões de investimentos ficarem baseadas numa agenda nacionalista.”

Foco - A atuação da Vale na siderurgia começou no início dos anos 90. Na época, o então presidente Fernando Collor de Mello extinguiu a holding Siderurgia Brasileira (Siderbras) e deu início a um processo de privatizações no setor. A primeira delas, entre outras, foi a Usiminas, da qual a Vale participou até 2009. Em outros casos, a Vale entrou apenas como fornecedora de minério de ferro.

Na opinião de Francisco Schettino, que presidiu a Vale entre 1992 e 1997, a empresa tem de manter o foco. “Na época em que a Vale era estatal, a política era ficar fora da produção de aço e acho que assim que deve continuar”, disse ele a EXAME.com. “A empresa precisa focar em minério para melhorar a qualidade e o preço. Fica uma situação muito ruim e pode prejudicar os negócios caso a Vale decida investir mais pesado no setor. Ela seria fornecedora e concorrente.” Sem dúvida, um papel tão ambíguo para a Vale, quanto ser uma empresa privada e acabar atuando como uma estatal. Haja crise de identidade.

Veja também

São Paulo – A Vale vive uma crise dupla: de gestão e de identidade. A primeira delas se confirmou nesta quinta-feira (31/3) com o anúncio oficial de que o atual presidente Roger Agnelli deixará o cargo na mineradora. Mineradora? A Vale é a maior produtora de minério de ferro do mundo, mas as constantes pressões do governo sobre a atuação da companhia já deixam dúvidas sobre o rumo que ela seguirá.

O governo Dilma quer a Vale mais atuante em siderurgia, um setor em que a empresa ainda engatinha. A lógica é simples: diminuir a exportação de minério de ferro e aumentar a de aço, que tem maior valor agregado (o que aliviaria as contas públicas do governo sempre disposto a diminuir os gastos, mas que ainda não se mostrou eficaz nessa questão).

Atualmente, a Vale tem quatro projetos siderúrgicos em andamento que totalizam 21 bilhões de dólares. São eles: Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), no Rio de Janeiro; Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), no Ceará; Aços Laminados do Pará (Alpa), no Pará; e Companhia Siderúrgica Ubu (CSU), no Espírito Santo.

Briga de gigantes - Apesar da grandiosidade dos projetos, a Vale retoma investimentos num mercado competitivo e com gigantes já estabelecidas no setor. A ArcelorMittal, maior grupo siderúrgico do mundo, planeja investir nos próximos quatro anos 5 bilhões de dólares somente no Brasil – um dos 25 países em que atua. Segundo o presidente do grupo, o indiano Lakshmi Mittal, o ritmo vai depender da demanda do mercado e dos investimentos do governo em infraestrutura. A Gerdau – 13ª maior produtora de aço do mundo e a brasileira mais bem posicionada no ranking da World Steel Association– vai investir 10,8 bilhões de reais entre 2011 e 2015 nas operações brasileiras, da América do Norte e da América Latina.

O setor passa por uma consolidação em todo o mundo. Depois de uma retração no mercado de siderurgia e minério de ferro, o setor retomou crescimento e somou 27 bilhões de dólares em fusões e aquisições em 2010 – um salto de 78% em relação ao ano anterior segundo o relatório Forging Ahead – 2010 Annual Review, elaborado pela consultoria PriceWaterhouseCoopers. Para forçar a Vale a entrar com mais força na siderurgia, o governo avisou que pode sobretaxar a venda de minério de ferro. “Essa medida não é boa para o governo, porque a balança comercial tem superávit apenas por conta do minério de ferro e da soja”, afirma o analista Pedro Galdi. “Dependendo da taxação, a Vale pode perder competitividade.”


A Vale afirma, no entanto, que continuará a incentivar o desenvolvimento de novos projetos siderúrgicos no Brasil através de participações minoritárias e temporárias em joint-ventures com o objetivo de ser fornecedora exclusiva de minério de ferro. A presidente Dilma Rousseff quer essa estratégia elevada à máxima potência, o que desviaria o foco principal da Vale – a mineração. O mercado já não recebeu bem as especulações. “Uma mudança pode significar um impacto negativo na estratégia de crescimento da empresa”, diz o analista Tony Robson, da consultoria americana BMO Capital Markets. “No curto prazo, as consequencias podem ser mínimas, mas com grande potencial de prejuízos no longo prazo se as decisões de investimentos ficarem baseadas numa agenda nacionalista.”

Foco - A atuação da Vale na siderurgia começou no início dos anos 90. Na época, o então presidente Fernando Collor de Mello extinguiu a holding Siderurgia Brasileira (Siderbras) e deu início a um processo de privatizações no setor. A primeira delas, entre outras, foi a Usiminas, da qual a Vale participou até 2009. Em outros casos, a Vale entrou apenas como fornecedora de minério de ferro.

Na opinião de Francisco Schettino, que presidiu a Vale entre 1992 e 1997, a empresa tem de manter o foco. “Na época em que a Vale era estatal, a política era ficar fora da produção de aço e acho que assim que deve continuar”, disse ele a EXAME.com. “A empresa precisa focar em minério para melhorar a qualidade e o preço. Fica uma situação muito ruim e pode prejudicar os negócios caso a Vale decida investir mais pesado no setor. Ela seria fornecedora e concorrente.” Sem dúvida, um papel tão ambíguo para a Vale, quanto ser uma empresa privada e acabar atuando como uma estatal. Haja crise de identidade.

Acompanhe tudo sobre:EmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEstratégiagestao-de-negociosGoverno DilmaIndústriaMineraçãoSiderurgia e metalurgiaSiderúrgicasVale

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Negócios

Mais na Exame