Trabalhadores e frente parlamentar contra privatização dos Correios
Os Correios rejeitaram proposta do TST para acordo com trabalhadores, que podem entrar em greve ainda neste mês
Da Redação
Publicado em 4 de setembro de 2019 às 06h41.
Última atualização em 4 de setembro de 2019 às 07h14.
A quarta-feira 4 marca duas semanas desde que o governo anunciou uma lista com 17 empresas estatais a serem privatizadas. E as próximas horas vão mostrar alguns dos muitos desafios para tornar o plano uma realidade.
Primeiro, os funcionários dos Correios , uma das principais empresas na fila da privatização , estavam com greve marcada para a noite de hoje, embora devam adiar a paralisação, para, a princípio, o próximo dia 10 de setembro. Um ato também foi marcado para esta quarta-feira em frente à sede dos Correios no Rio de Janeiro .
Os trabalhadores querem um reajuste maior que os 0,8% propostos pela empresa e questionam sobretudo o fim da possibilidade de adicionar pais como dependentes no plano de saúde. O indicativo de greve veio depois que os Correios rejeitaram na última sexta-feira 30 uma proposta do Tribunal Superior do Trabalho que sugeria prorrogar por mais 30 dias o acordo coletivo com os funcionários, que manteria as condições anteriores.
No fim de julho, os Correios já haviam aceitado prorrogar o acordo até este mês, o que fez os funcionários cancelarem a greve naquele momento.
A privatização também é pauta dos questionamentos dos trabalhadores, embora as ações do governo sobre o tema devam ficar mais claras somente no início de 2020, segundo disse à rádio CBN Salim Mattar, secretário especial de Desestatização, Desenvolvimento e Mercados.
A privatização dos Correios ainda precisa passar por estudos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que deve apresentar modelos de desestatização para a empresa.
Os desafios são enormes. Os Correios fecharam os últimos dois anos no azul, mas passaram prejuízos entre 2013 a 2016 que fazem a empresa dever ainda 2,5 bilhões de reais. Para melhorar o serviço, a estatal tem necessidade de investimentos pesados, mas uma margem de lucro apertada, que em 2018 foi menor que 1%.
Enquanto isso, a oposição começa também nesta quarta-feira a se movimentar no Congresso para fazer frente às privatizações. Parlamentares lançam às 9h a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Soberania Nacional, durante um seminário para debater a situação das estatais e empresas de economia mista. O movimento é encabeçado pelo deputado Rogério Correia (PT-MG).
O objetivo é conseguir engajar parte relevante dos parlamentares e eleitores nos próximos anos, o que pode ser um entrave ao governo, uma vez que eventuais privatizações precisam passar pelo Congresso.
Além disso, no caso dos Correios, a participação de uma empresa do setor privado na operação precisaria ser bem regulada a ponto de fazer com que o serviço postal hoje oferecido pela estatal continue chegando a todas as mais de 5.500 cidades brasileiras (muitas delas pouco lucrativas para uma empresa privada).
No Rio e em Brasília teremos, nesta quarta-feira, duas amostras das dificuldades reais de levar privatizações a cabo.