Tarifas levam GM e Fiat Chrysler a cortar previsão para lucro em 2018
GM compra a maior parte de seu aço das produtoras norte-americanas, que elevaram preços em reação às tarifas sobre importações impostas pelo governo Trump
Reuters
Publicado em 25 de julho de 2018 às 17h03.
Detroit - As tarifas de importação foram parcialmente responsáveis por previsões mais baixas da General Motors e da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) para o ano, levando as ações das montadoras a recuar nesta quarta-feira, com investidores temendo que as crescentes disputas comerciais prejudiquem as margens e as vendas.
A GM citou custos mais elevados do aço e alumínio para o corte na previsão de lucro em 2018, como resultado das tarifas impostas pelo governo do presidente Donald Trump , levando as ações a cair 7 por cento.
O vice-presidente financeiro, Chuck Stevens, disse que a GM apresentou um "desempenho sólido" no segundo trimestre, "apesar de alguns ventos contrários significativos que foram construídos ao longo do ano".
Stevens disse a analistas que a GM vai compensar parcialmente o aumento da commodity por meio de negociações com fornecedores, aumento em preços de modelos mais populares e redução de custos.
No caso da FCA , a demanda chinesa caiu no trimestre antes do corte das tarifas de importação em julho, resultando em maiores gastos com descontos e aumento dos estoques de veículos não vendidos que "afetaram particularmente a Maserati", disse o novo presidente-executivo Mike Manley em teleconferência.
Manley afirmou que "os consumidores chineses, muito conscientes dos custos", ficaram à margem durante o segundo trimestre, esperando os preços baixarem.
As ações da FCA caíam cerca de 13 por cento na Bolsa de Nova York.
Os resultados da montadora foram ofuscados pela notícia de que o ex-CEO Sergio Marchionne morreu após sofrer complicações da cirurgia.
A FCA informou que tem contratos de preços fixos para a maioria do aço bruto até o fim de 2018, mas vê aumentos em 2019 com base nos preços atuais.
As advertências de ambos os fabricantes de automóveis vêm em meio a crescentes temores sobre uma guerra comercial.
Economistas consultados pela Reuters disseram que a agora robusta economia dos EUA perderá força com o aumento das taxas de juros e com a escalada das disputas comerciais.
A GM disse que os custos das commodities e o câmbio desfavorável no Brasil e na Argentina vão gerar um impacto líquido de 1 bilhão de dólares em seus resultados de 2018. Anteriormente, a GM esperava que esses custos totalizassem cerca de 500 milhões de dólares.
A maioria dos custos afeta a América do Norte, o principal motor de lucro da GM. A margem ajustada antes de impostos de 2018 agora deve ficar entre 9 e 10 por cento, abaixo da previsão anterior de 10 por cento.
A GM compra a maior parte de seu aço das produtoras norte-americanas, que elevaram os preços em reação às tarifas sobre o aço importado impostas pelo governo de Donald Trump.
As vendas da GM nos Estados Unidos tiveram um bom desempenho no segundo trimestre e a montadora disse que suas fábricas de picapes estão operando com mais de 100 por cento da capacidade para acompanhar a demanda. A GM começará a vender suas novas picapes para os clientes no próximo mês.
Tanto a GM quanto a FCA estão apostando em picapes redesenhadas para elevar as vendas nos EUA. Cerca de 80 por cento do lucro do segundo trimestre da FCA veio do mercado norte-americano e a montadora disse que as novas picapes devem ajudar a elevar a margem norte-americana ajustada antes dos impostos para 10 por cento no segundo semestre de 2018.
Apesar das tarifas, o diretor financeiro da GM afirmou que a recente mudança tributária nos EUA e o baixo desemprego devem ajudar a manter as vendas de veículos novos nos EUA em um nível robusto, um pouco abaixo ou igual às vendas de 2017.
"O que acontece depois de 2018, há muita incerteza nesta área neste momento", disse ele.
A GM também informou que os custos mais altos reduziriam o fluxo de caixa livre automotivo ajustado em cerca de 1 bilhão de dólares, para 4 bilhões de dólares.
A FCA disse que seu fluxo de caixa industrial líquido em 2018 cairá para 3 bilhões de euros (3,50 bilhões de dólares), ante uma previsão anterior de 4 bilhões de euros.
A GM disse que agora espera lucrar cerca de 6 dólares por ação, abaixo da previsão anterior de 6,30 a 6,60 dólares.
"A magnitude é maior que a esperada e os ventos contrários poderiam ter sido melhor comunicados com antecedência", disse o analista do Citi Itay Michaeli, em nota que descreve a perspectiva da GM como "decepcionante".
A FCA informou que espera uma receita líquida entre 115 bilhões e 118 bilhões de euros em 2018, ante previsão anterior de 125 bilhões de euros, enquanto o lucro ante de juros e impostos (Ebit) ajustado deve se situar entre 7,5 bilhões e 8 bilhões de euros, ante pelo menos 8,7 bilhões de dólares.
A Ford Motor divulgará os resultados após o fechamento do pregão da quarta-feira.