Wesley Batista: "O compromisso do BNDES é de justamente manter a empresa eficiente e moderna e não parar" (Paulo Fridman/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 26 de maio de 2017 às 16h45.
Última atualização em 26 de maio de 2017 às 18h37.
São Paulo - A diretoria da tradicional Sociedade Rural Brasileira (SRB) pediu ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que pressione pela saída dos irmãos Joesley e Wesley Batista do conselho de administração da empresa de alimentos JBS, disse nesta sexta-feira o diretor da SRB, Frederico d'Avila.
A direção da entidade representante dos agricultores e pecuaristas avalia que o BNDESPar, braço de investimentos do banco de fomento, na condição de acionista da JBS, deveria pressionar pela saída dos Batista para que a empresa possa continuar a operar em uma melhor situação. De acordo com o diretor, essa posição foi unânime em reunião da diretoria da SRB.
"O compromisso do BNDES é de justamente manter a empresa eficiente e moderna e não parar. Se parar, é igual bicicleta, vai cair", afirmou o diretor da SRB, acrescentando que a JBS passa por uma crise de confiança, na qual muitos pecuaristas temem negociar boi com a empresa e não receber o pagamento.
O BNDESPar tem participação de 21,32 por cento na JBS, maior empresa de carnes do mundo, segundo informação da empresa, atualizada em fevereiro deste ano.
Em uma carta enviada na véspera à Maria Silvia Bastos Marques, que renunciou à presidência do BNDES nesta sexta-feira citando motivos pessoais, a SRB diz que é "essencial que o BNDES saia na frente na defesa dos interesses econômicos de maneira independente aos acionistas hoje controladores".
Na carta assinada pelo presidente da SRB, Marcelo Vieira, a instituição também diz que o "porte da empresa e a sua predominância no mercado em determinadas regiões do pais criam dificuldades para o agronegócio".
De acordo com Frederico d'Avila, a crise de confiança relacionada à JBS --após virem à tona as delações dos irmãos Batista que apontaram corrupção com conhecimento do presidente Michel Temer-- tem levado pecuaristas em muitas regiões a buscarem vender boi antecipadamente à JBS.
"Começou a ter um movimento de produtores querendo vender à vista, mas nem isso... O pessoal quer que pague para carregar (o boi para o frigorífico), com medo de não receber", disse o diretor da SRB.
Questionado, ele disse que não há registro de que a JBS tenha faltado com algum pagamento aos pecuaristas. "Mas com medo de eles (JBS) não terem caixa, então (pecuaristas) estão pedindo para pagar antes de carregar", revelou.
Nesta semana, a Reuters reportou com base na informação de consultores do setor que pecuaristas estavam querendo negociar somente à vista com a JBS, em um movimento de aversão à risco. Aempresa anunciou antes das delações dos Batista que passaria a negociar apenas na modalidade a prazo, em oposição ao que querem os produtores.
Segundo o dirigente, a preocupação da SRB é para que o problema da JBS não afete a cadeia produtiva e consumidores. "Se tiver um colapso de pagamento, aí é um problema gravíssimo."
Uma vez que o BNDESPar colocou "dinheiro público" na JBS, disse o diretor da SRB, o "BNDES tem muita responsabilidade", e não pode se "dar ao luxo de que a companhia corra o risco de ir por água abaixo".
De acordo com Frederico d'Avila, a empresa "não pode ser prejudicada pela má postura" dos irmãos Batista.
A preocupação é que a grande concentração da JBS no mercado bovino possa acentuar o problema, no caso de pagamentos eventualmente não serem honrados.
Dados citados pelo dirigente apontam que a empresa controlada pelos Batista tem quase 40 por cento de participação na compra de bois do Centro-Oeste, maior polo de produção de gado do país.
"Eles têm um oligopsônio... Tem 50 por cento do mercado de Mato Grosso...40 do mercado de Mato Grosso do Sul", disse.
Segundo o diretor da SRB, essa crise da JBS também seriauma oportunidade de reduzir a concentração de mercado da JBS, e que isso também favoreceria o consumidor.
"A carta ao BNDES tem preocupação de um lado com o pecuarista e de outro com o consumidor."
Procurados, JBS e BNDES não responderam imediatamente pedidos de comentários.