Sob ameaça, varejistas fogem do "conforto" com aquisições bilionárias
Desde a semana passada, começou a ficar claro que não existe mais como uma empresa querer dominar apenas no seu "quadrado"
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de abril de 2021 às 15h04.
Mesmo em um cenário em que o Magazine Luiza se diversificou, apostou no online e vinha trabalhando fortemente para virar um "super app", parecia haver certa resistência entre as demais varejistas brasileiras em mudar. Pelo que se viu na semana passada, o período de inação ficou para trás. Segundo apurou o Estadão, executivos do ramo viveram dias estressantes e de rápidas definições: de repente, caiu a ficha de que é necessário fazer alguma coisa. Em meio a um cenário de crise, agravado pela pandemia, as empresas parecem ter acordado para a dura realidade: é a hora de crescer ou morrer.
Na semana passada, começou a ficar claro que não existe mais como uma empresa querer dominar apenas no seu "quadrado". O movimento da Arezzo, que fez oferta agressiva pela Hering, mostra o interesse da calçadista em migrar para as confecções - e não em um negócio especializado, como a Reserva (que já adquiriu), mas com uma grande marca. Ofereceu R$ 3 bilhões à Hering, que considerou a oferta baixa. Mas as negociações seguem apurou o Estadão.
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Ao mesmo tempo, a Renner contratou bancos para uma oferta de ações para arrecadar até R$ 6,5 bilhões. O alvo seria o e-commerce Dafiti - que é forte na internet, meio no qual a todo-poderosa Renner ainda engatinha.
"É um movimento simples. Agora, ou a empresa vai ser a consolidadora ou vai ser consolidada", define Marcos Gouvêa de Souza, fundador da consultoria em varejo Gouvêa. Para o presidente do banco americano Morgan Stanley no País, Alessandro Zema, a tendência é que as empresas busquem no mercado negócios para reforçar setores em que ainda não são fortes, e não a busca de escala em áreas que já dominam. O raciocínio se encaixa tanto no caso de Arezzo e Hering quanto na aproximação de Renner e Dafiti.
Mas não só. Na semana passada, a Lojas Americanas colocou para dentro de casa a Uni.co, dona de marcas como Puket (moda) e Imaginarium (decoração). Ainda em 2019, o Magazine Luiza comprou a Netshoes em uma disputa acirrada com a Centauro - e fincou bandeira nas áreas de moda e esportes.
Tendo o Magalu como exemplo a ser seguido, um grupo de empresas se movimenta para dominar um mundo multicanal e multissetorial - para não acabarem engolidas por quem teve coragem de partir para o ataque primeiro. "A diferença do Magalu para as outras é que há muito tempo ela não é uma empresa de eletrodomésticos", diz um executivo de banco.
O desafio também envolve acrescentar tecnologia a negócios de varejo. "A guinada para a tecnologia está ocorrendo em todos os setores, com adequação ao e-commerce e ao delivery", diz Diogo Aragão, responsável pela área de fusões e aquisições do Bank of America. "As empresas podem decidir entre comprar ou construir, mas, por vezes, é mais vantajoso para a empresa comprar."
E adquirir um negócio já pronto economiza algo que as empresas hoje não têm: tempo. "Há percepção de que a agenda digital precisa ganhar velocidade no pós-pandemia", diz Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese. "Um negócio isolado é mais vulnerável a ser comprado por um ecossistema, como o do Magalu."
"Emergentes"
Se em tese toda empresa quer crescer e se tornar o próximo Magalu ou Amazon, o que determina quais são nomes "emergentes" nesse movimento? Em duas palavras: resultado e credibilidade. Três nomes aparecem com força. A Arezzo está com o caixa cheio para ir às compras; a Renner, que há anos entrega resultados, tem cacife para captar bilhões para aquisições. Já Americanas é uma gigante que está integrando digital e lojas físicas, antiga demanda de investidores.