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Amiga de Beyoncé, Saint John é esperança de salvar o Uber

A nova chefe de marca traz humanidade e um toque de Chanel para uma empresa contra a parede

Saint John, a amiga da maior cantora do mundo, é a encarregada de salvar o aplicativo de transporte (Justin Kaneps/The New York Times)
EH

EXAME Hoje

Publicado em 2 de agosto de 2017 às 12h27.

Última atualização em 2 de agosto de 2017 às 15h52.

Um pouco mais de um ano antes de Bozoma Saint John se tornar a primeira chefe de marca do Uber , a maior esperança da empresa de transporte para reabilitar sua imagem manchada, ela chamou um carro no hotel Four Seasons em Austin, no Texas, para ir a um jantar ali perto. O que apareceu foi um desastre.

“Ei, não vai acontecer nada comigo nesse carro, certo?”, perguntou Saint John meio de brincadeira para o motorista. “Você sabe dirigir, não é?”

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Ela esperava que ele brincasse de volta. Mas, ao invés disso, o motorista contou que um grupo de taxistas do aeroporto havia vandalizado seu veículo e ele precisava do dinheiro dessa corrida para consertá-lo.

Ele também mencionou que havia guardado dinheiro para assistir ao show de Iggy Pop, o roqueiro favorito de seu irmão falecido, no festival South by Southwest, ao qual Saint John também iria como chefe de marketing de consumo global do iTunes e da Apple Music.

Ela ficou sem ar. Estava indo jantar com Iggy Pop. O motorista, talvez, gostaria de ir com ela.

Seguem-se as lágrimas (e a classificação de cinco estrelas para a passageira).

“Todo mundo estava pensando: ‘O que está acontecendo? É seu companheiro? Não entendo. Por que esse sujeito está aqui?’”, conta Saint John. “Foi um momento tão humano e bonito”, que acabou em sua conta do Instagram, @badassboz, onde tem mais de 40 mil seguidores.

“Estamos sempre correndo em nossa vida, eu estava tão preocupada de ir daqui para lá, e se não fosse por esse momento de humanidade onde apenas conversamos, essa conexão nunca teria acontecido. Teria sido uma grande perda. Uma perda!”

Essa história foi parte do que convenceu Arianna Huffington, fundadora do The Huffington Post e membro importante do conselho do Uber, de que Saint John era a pessoa certa para tirar a empresa do recente emaranhado de escândalos legais e éticos.

As duas se conheceram em janeiro em um jantar em Las Vegas oferecido por Kristin Lemkau, diretora de marketing da JPMorgan Chase. “Tivemos uma conexão instantânea”, conta Huffington.

Naquela noite, ela publicou uma foto de si mesma com os braços em volta de Saint John no Instagram com a hashtag #thecoolkidsdinner. No mês seguinte, Huffington compareceu à festa de 40 anos de Saint John em Los Angeles.

“Algumas vezes, leva meses até a gente conhecer alguém”, diz Huffington. “Senti que ela possui essa incrível capacidade para a intimidade e para compartilhar sua história e as dos outros.”

E, diz Huffington: “Ela é incrível nas redes sociais”.

Enquanto as mulheres há tempos têm medo de colocar fotos de família em suas mesas de trabalho, achando que isso poderia impedir sua escalada corporativa, Saint John não se intimida: tem fotos posando de biquíni com os seus amigos “malvados” em uma praia; tirando uma selfie enquanto marca sua filha, que hoje tem oito anos, em uma viagem de negócios; e a última imagem no tapete vermelho que tirou com o marido Peter Saint John, que morreu de linfoma de Burkitt em 2013.

“Já me disseram que eu compartilho coisas demais. Algumas vezes me criticam por isso, mas o que mais eu seria se não eu mesma?”, diz ela.

Saint John sabe que pode parecer um ato excessivamente calculado do Uber, que foi acusada de ser um ambiente de trabalho hostil para mulheres, contratar uma mãe solteira afro-americana para tomar conta de sua imagem pública. Mas ela não liga.

“Para mim, não me parece ser só simbólico porque posso fazer o que é preciso – estou qualificada para o cargo, sou capaz de fazer um excelente trabalho”, afirma ela.

“Estar presente como uma mulher negra – apenas presente – já é o suficiente para conseguir alguma das mudanças necessárias e algumas das que estamos querendo.”

Ela amplifica essa presença com conjuntos que são verdadeiras declarações como a saia lilás irregular da Marni com um top, bolsa Chanel com incrustações de ouro e salto stiletto que usava em uma manhã recente no escritório do Uber em San Francisco. “Esse é meu assunto pessoal”, explica sobre seu interesse por moda.

Ela se destacou da multidão desde que sua família se mudou para Colorado Springs quando estava com 12 anos, depois de uma infância itinerante em Connecticut, Washington, Quênia e Gana, onde seu pai foi membro do parlamento de 1979 até o golpe de estado de 1981.

Sua mãe desenhava e vendia roupas para garantir que Saint John e suas três irmãs mais novas estivessem sempre conectadas com sua cultura.

Ela frequentou a Universidade Wesleyan, preparando-se com afinco para se tornar médica, mas ao mesmo tempo conseguia dar uma aula sobre Tupac Shakur, com a supervisão de um professor, no tempo livre.

Ela entrou na faculdade de Medicina, mas pressionou os pais para conseguir um ano de folga. “Eles concordaram, o que foi seu erro”, conta.

Ela se mudou para Nova York e, por meio de uma agência de empregos temporários, conseguiu uma vaga como garçonete e recepcionista de um pet shop. Também começou a frequentar boates, onde ficou amiga de influenciadores como Rene Mclean, que tinha um campo de treinamento de DJs.

Depois, sua agência de empregos temporários a mandou para a SpikeDDB, a empresa de publicidade de Spike Lee. Lee havia demitido sua assistente e queria alguém para atender o telefone enquanto procurava uma nova ajudante.

“Ela entrou e conseguiu o emprego”, conta ele. “Era evidente que iria longe.”

Saint John passou de encarregada do café a ajudante de Lee nas ideias para as campanhas, como contratar Beyoncé, que havia acabado de deixar o Destiny’s Child, para ser Carmen em um comercial da Pepsi.

“Esse foi um momento de virada. Eu descobri que podia usar minhas informações sobre cultura popular, coisas que vejo ao andar pela rua com meus amigos, conhecendo os meandros das coisas, para ajudar a tomar boas decisões de negócios”, explica. Ela também conheceu o futuro marido, um executivo de propaganda, na cafeteria da empresa.

Depois de um tempo vendendo produtos para parar de fumar na GlaxoSmithKline, conseguiu um emprego no marketing da Pepsi, inventando projetos como “Pepsi DJ Division”, que incluiu o DJ Khaled.

Em 2013, organizou o show de intervalo da Pepsi no Super Bowl com Beyoncé. Quatro meses depois, a doença de seu marido foi diagnosticada. A filha tinha apenas quatro anos.

“No final de sua vida, quando tudo começava a falhar, ele foi inflexível na ideia de que eu não podia parar o que estava fazendo. Ele me dizia para segurar suas mãos, porque não podia mais, dizendo: ‘Prometa que você vai continuar indo em frente’.”

No 13o aniversário de seu primeiro encontro, Saint John publicou uma mensagem no Facebook dizendo, “refletimos sobre nossos anos juntos enquanto ele toma um coquetel de quimio e eu bebo vinho tinto em um copo de papel”. Peter Saint John morreu em dezembro de 2013. Bozoma Saint John, fiel a sua palavra, continuou em frente.

Depois de ouvir a história da corrida em Austin, “Tive uma visão – ‘Uau, ela vai se dar muito bem no Uber’”, afirma Huffington. “Achei que seria uma ótima pessoa para contar essas histórias incríveis dos nossos motoristas, para tocar o coração das pessoas, trazer mais humanidade para a marca.”

“Por que eles não a contratariam?”, pergunta Lee. “Ela é exatamente a prescrição do médico para o que eles estavam passando. Ela é uma dádiva divina para o Uber.”

Sheila Marikar © 2017 | New York Times News Service

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