Rodízio caro: rede de restaurantes Red Lobster pede recuperação judicial com dívida de US$ 1 bilhão
A gota d'água na crise da empresa foi um rodízio de camarão que trouxe prejuízos na casa dos 12 milhões de dólares
Repórter de Negócios
Publicado em 20 de maio de 2024 às 16h48.
Uma das mais conhecidas redes de restaurantes de frutos do mar dos Estados Unidos, a Red Lobster entrou com um pedido de recuperação judicial — o Chapter 11, na legislação norte-americana. A dívida passa de 1 bilhão de dólares, segundo a imprensa norte-americana. Enquanto isso, no caixa da companhia, há menos de 30 milhões de dólares. A conta, no final do dia, não fecha.
Com 578 restaurantes em 44 estados e no Canadá, a Red Lobster atende 64 milhões de clientes por ano e tem um faturamento na casa dos 2 bilhões de dólares.
Apesar do sucesso, que fez muitos norte-americanos terem acesso a frutos do mar como lagostas, as dívidas começaram a se acumular nos últimos anos. O entendimento é que houve má gestão, aumento de concorrência e questões setoriais, como inflação. Também houve subinvestimento em marketing, qualidade dos alimentos e atualizações dos restaurantes.
A cereja do bolo, porém, foi um rodízio de camarão que trouxe, consigo, uma dívida de até 12,5 milhões de dólares para a rede norte-americana.
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Uma das promoções mais conhecidas da rede norte-americana era o Endless Shrimp (algo como “Camarão Sem Fim”, na tradução literal). Nela, consumidores pagavam 20 dólares e poderiam comer o tanto de camarão que quisessem.
Até 2023, a promoção era válida nas segundas-feiras. Mas as coisas mudaram em 2023. Para atrair novos (e mais) clientes, decidiram transformar a Endless Shrimp numa promoção diária. O resultado foi um desastre.
A inflação e o aumento do custo dos frutos do mar criaram um mar agitado para a rede. Ao longo do último ano, a marca chegou a aumentar o preço da promoção duas vezes, chegando a 25 dólares, mas não foi suficiente.
A rede relatou perdas operacionais de 11 milhões e de 12,5 milhões de dólares nos dois últimos trimestres seguintes ao lançamento diário. Em 2024, a oferta voltou a valer apenas para as segundas-feiras.
Quais outros motivos levaram à crise da Red Lobster
A queda do poder de compras dos norte-americanos está afetando diversas cadeias de restaurantes nas terras do Tio Sam. As redes Tijuana Flats e Sticky’s Finger Joint, por exemplo,também pediram recuperação judicial nos últimos meses. Outras, como a Dom’s Kitchen e a Foxtrot Market encerraram suas operações.
A Red Lobster foi fundada em 1968 por Bill Darden. Na época, havia uma lacuna no mercado de frutos do mar a preços acessíveis, especialmente em áreas sem litoral. Dois anos depois, a General Mills se interessou pelo restaurante, mas Darden, que também criou a Olive Garden, ficou na chefia da operação. Em 15 anos, a Red Lobster se tornou uma rede com mais de 400 operações.
Ao longo dos anos 1990, a marca lançou seus produtos mais famosos, como um biscoito de cheddar que existe até hoje.
Em 2014, Darden vendeu a Red Lobster para a Golden Gate Capital, uma empresa de private equity, por 2,1 bilhões de dólares. Desde 2020, o distribuidor de frutos do mar Thai Union Group, com sede na Tailândia, é o maior acionista da Red Lobster, com 49% da empresa.
Nos últimos anos, porém, o número de clientes começou a cair. Ex-funcionários da Red Lobster dizem que os esforços de corte de custos e os erros estratégicos da Thai Union prejudicaram a cadeia. Um ex-executivo alega, por exemplo, que a Thai fez cortes que acabaram prejudicando as vendas.
A partir daí, começou a tempestade. Novos executivos assumiram os negócios e a promoção do camarão infinito virou a dor de cabeça que virou na companhia. Sob um CEO nomeado pela Thai Union, a Red Lobster eliminou dois de seus fornecedores de camarão empanado, deixando a Thai com um acordo exclusivo para fornecer o fruto do mar para a rede, aponta o pedido de recuperação judicial. De acordo com o documento, isso gerou custos mais elevados e não cumpriu o processo típico de tomada de decisão da empresa de escolher fornecedores com base na demanda projetada.
A concorrência também pesou. O crescimento e a popularidade de redes fast-casual como Chipotle e redes de fast-service como Chick-fil-A nas últimas duas décadas também pressionaram a Red Lobster.
No Brasil, a Red Lobster chegou a ter duas unidades, uma na Avenida Faria Lima, em São Paulo, e outra no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Ambas estão fechadas.