Roberto Civita deixa legado de independência no jornalismo
Presidente do conselho de administração do Grupo Abril e criador de VEJA, Civita faleceu neste domingo
Da Redação
Publicado em 27 de maio de 2013 às 11h59.
São Paulo – Roberto Civita , presidente do conselho de administração do Grupo Abril , faleceu neste domingo, aos 76 anos. Um de seus maiores legados, a criação da revista Veja, em 1968, simboliza a dedicação de sua vida à construção de um jornalismo independente e que contribua para a discussão das questões relevantes do país e do mundo.
Ele assumiu a presidência do grupo Abril em 1990, após a morte de seu pai e fundador do Grupo, Victor Civita. Sob seu comando, a Abril diversificou os negócios, tornando-se um dos maiores conglomerados de comunicação da América Latina.
O início
Atualmente, o grupo opera nas áreas de mídia (revistas, conteúdo e serviços online, TV segmentada, e-commerce e database marketing), educação (livros didáticos e sistemas de ensino, entre outros), serviços gráficos, distribuição e logística.
O primeiro marco de sua trajetória na Abril, porém, foi a criação da revista Veja, hoje a maior e mais influente revista semanal de informação do país. Em depoimento ao Canal Ideal, do Grupo Abril, Civita relembrou as dificuldades para mantê-la nos primeiros anos.
A primeira edição teve os 700.000 exemplares esgotados, mas o que parecia ser um sucesso mostrou-se, nas semanas seguintes, um projeto preocupante. Com as vendas em queda e a percepção de que o público brasileiro ainda não estava preparado para uma publicação inspirada nas americanas Time, Newsweek e People Weekly, Civita resistiu às propostas de adotar uma linha editorial mais popular.
“A revista está certa. Os leitores é que ainda não perceberam que esta é a revista que querem”, afirmou Civita, em seu depoimento ao Canal Ideal, ao se lembrar da reposta que costumava dar a quem sugerisse mudanças em Veja nos primeiros tempos.
Sem concessões
Manter a independência editorial das publicações da Abril foi uma bandeira defendida incondicionalmente por Civita, e vários momentos de sua vida exemplificam esta determinação.
Ainda na mesma série de depoimentos ao Canal Ideal, Civita afirma que o “momento mais dramático” que viveu foi a série de capas publicadas por Veja, que denunciaram o esquema de corrupção montado no governo do então presidente da República Fernando Collor. “Foi dramático, porque a imprensa não queria entrar na história por medo, e só se referiam ao que Veja publicava, sem apurar nada mais”.
“As pessoas que eu conhecia passaram a não me cumprimentar, a não me reconhecer na rua. Virei um pária em São Paulo”, afirmou, no vídeo. Em outra série de depoimentos em vídeo, dados a Veja.com para comemorar as 2.000 edições da revista, Civita conta que foi ameaçado de chantagem pelo então presidente do Banco do Brasil do governo Collor, Lafayete Coutinho.
Por meio de dois jornalistas de Veja, Coutinho mandou um recado claro ao então presidente do Grupo Abril e editor da revista: ou parava com as denúncias, ou Coutinho revelaria fatos da vida de Civita. Comunicado, o empresário respondeu que, se Coutinho tinha algo a publicar, que o fizesse. Ao mesmo tempo, publicou uma capa (O Pistoleiro do Planalto) de Veja denunciando a tentativa de intimidação.
Foco nas pessoas
“É assim que se faz uma boa revista. Não pode aceitar pressão, chantagem ou ameaça”, resumiu Civita no vídeo, com sua característica voz pausada. “Uma capa precisa definir a posição da revista; dizer a que veio”, afirmou. Sem medo de assumir posições firmes, o único julgamento que aceitava era o dos leitores. “Os leitores que gostarem compram; os que não gostarem não compram”, arrematou.
Além da defesa irredutível da independência jornalística, Civita também se firmou como um empresário empreendedor. A diversificação da Abril, em sua gestão, transformou-a em um grande conglomerado de negócios.
Uma de suas preocupações, como gestor, foi investir na qualidade de seus colaboradores. “Pessoas competentes escolhem pessoas competentes”, afirmou ao Canal Ideal. “O melhor indicador da qualidade de alguém, é se a pessoa escolhe um profissional melhor do que ela para a sua equipe”, disse. “Quem tem medo de perder o posto para alguém mais competente só atrapalha”, observou.
São Paulo – Roberto Civita , presidente do conselho de administração do Grupo Abril , faleceu neste domingo, aos 76 anos. Um de seus maiores legados, a criação da revista Veja, em 1968, simboliza a dedicação de sua vida à construção de um jornalismo independente e que contribua para a discussão das questões relevantes do país e do mundo.
Ele assumiu a presidência do grupo Abril em 1990, após a morte de seu pai e fundador do Grupo, Victor Civita. Sob seu comando, a Abril diversificou os negócios, tornando-se um dos maiores conglomerados de comunicação da América Latina.
O início
Atualmente, o grupo opera nas áreas de mídia (revistas, conteúdo e serviços online, TV segmentada, e-commerce e database marketing), educação (livros didáticos e sistemas de ensino, entre outros), serviços gráficos, distribuição e logística.
O primeiro marco de sua trajetória na Abril, porém, foi a criação da revista Veja, hoje a maior e mais influente revista semanal de informação do país. Em depoimento ao Canal Ideal, do Grupo Abril, Civita relembrou as dificuldades para mantê-la nos primeiros anos.
A primeira edição teve os 700.000 exemplares esgotados, mas o que parecia ser um sucesso mostrou-se, nas semanas seguintes, um projeto preocupante. Com as vendas em queda e a percepção de que o público brasileiro ainda não estava preparado para uma publicação inspirada nas americanas Time, Newsweek e People Weekly, Civita resistiu às propostas de adotar uma linha editorial mais popular.
“A revista está certa. Os leitores é que ainda não perceberam que esta é a revista que querem”, afirmou Civita, em seu depoimento ao Canal Ideal, ao se lembrar da reposta que costumava dar a quem sugerisse mudanças em Veja nos primeiros tempos.
Sem concessões
Manter a independência editorial das publicações da Abril foi uma bandeira defendida incondicionalmente por Civita, e vários momentos de sua vida exemplificam esta determinação.
Ainda na mesma série de depoimentos ao Canal Ideal, Civita afirma que o “momento mais dramático” que viveu foi a série de capas publicadas por Veja, que denunciaram o esquema de corrupção montado no governo do então presidente da República Fernando Collor. “Foi dramático, porque a imprensa não queria entrar na história por medo, e só se referiam ao que Veja publicava, sem apurar nada mais”.
“As pessoas que eu conhecia passaram a não me cumprimentar, a não me reconhecer na rua. Virei um pária em São Paulo”, afirmou, no vídeo. Em outra série de depoimentos em vídeo, dados a Veja.com para comemorar as 2.000 edições da revista, Civita conta que foi ameaçado de chantagem pelo então presidente do Banco do Brasil do governo Collor, Lafayete Coutinho.
Por meio de dois jornalistas de Veja, Coutinho mandou um recado claro ao então presidente do Grupo Abril e editor da revista: ou parava com as denúncias, ou Coutinho revelaria fatos da vida de Civita. Comunicado, o empresário respondeu que, se Coutinho tinha algo a publicar, que o fizesse. Ao mesmo tempo, publicou uma capa (O Pistoleiro do Planalto) de Veja denunciando a tentativa de intimidação.
Foco nas pessoas
“É assim que se faz uma boa revista. Não pode aceitar pressão, chantagem ou ameaça”, resumiu Civita no vídeo, com sua característica voz pausada. “Uma capa precisa definir a posição da revista; dizer a que veio”, afirmou. Sem medo de assumir posições firmes, o único julgamento que aceitava era o dos leitores. “Os leitores que gostarem compram; os que não gostarem não compram”, arrematou.
Além da defesa irredutível da independência jornalística, Civita também se firmou como um empresário empreendedor. A diversificação da Abril, em sua gestão, transformou-a em um grande conglomerado de negócios.
Uma de suas preocupações, como gestor, foi investir na qualidade de seus colaboradores. “Pessoas competentes escolhem pessoas competentes”, afirmou ao Canal Ideal. “O melhor indicador da qualidade de alguém, é se a pessoa escolhe um profissional melhor do que ela para a sua equipe”, disse. “Quem tem medo de perder o posto para alguém mais competente só atrapalha”, observou.