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Quem é Sandeep Mathrani, novo CEO da WeWork vindo do mercado imobiliário

Após um 2019 para esquecer, o executivo tem a seu favor o fato de ser mais mundo real do que as antigas lideranças da WeWork

Mathrani, novo presidente da WeWork: 20 anos no mercado imobiliário (LinkedIn/Reprodução)

Mathrani, novo presidente da WeWork: 20 anos no mercado imobiliário (LinkedIn/Reprodução)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 3 de fevereiro de 2020 às 11h40.

Última atualização em 12 de maio de 2020 às 14h02.

Após meses de comando direto do Softbank, a empresa de compartilhamento de espaços de escritório WeWork anunciou neste fim de semana um novo presidente.

O escolhido foi Sandeep Mathrani, executivo de ascendência indiana com experiência não em tecnologia, mas no mercado imobiliário. Mathrani era presidente do braço de varejo do grupo Brookfield Property, gigante do ramo imobiliário global com imóveis em segmentos tão diversos como escritório, varejo, industrial, galpões de armazenamento e residência estudantil.

Com mais de 20 anos de carreira no setor, Mathrani será quase o extremo oposto do antigo presidente e fundador Adam Neuamnn, que fundou a WeWork em 2010 e deixou a empresa em setembro passado.

A escolha faz sentido dentro do modelo de negócio da WeWork: embora a startup tenha escrito em seu prospecto que é uma "empresa de tecnologia", boa parte da operação consiste em alugar em contratos de longos períodos e depois sublocar salas de escritórios para outras companhias. Nada muito além do bom e velho mercado imobiliário.

A escolha de Mathrani deixa claro que a WeWork deve focar, a partir de agora, menos em planos mirabolantes e mais em fazer a empresa diminuir o exorbitante prejuízo que apresentou até aqui. Em alguns prédios alugados pela WeWork no longo prazo, o preço para pagar a locação ao proprietário e manter o lugar funcionando -- com regalias que vão de happy hours a chope grátis aos locatários -- é maior do que o faturamento gerado pela operação.

Mathrani deve assumir nas próximas semanas. Até agora, a empresa vinha sendo comandada por um misto entre antigos diretores da WeWork e o Softbank, maior investidor. Os co-presidentes Artie Minson e Sebastian Gunningham, diretores na gestão do fundador Adam Neumann, assumiram no ano passado após a saída do antigo presidente. Além dos co-presidentes, está à frente da empresa o boliviano Marcelo Claure, executivo do Softbank que foi designado pelos japoneses para tornar a empresa rentável.

Claure, agora, vai continuar sendo presidente do conselho de administração da WeWork. Segundo o jornal The Wall Street Journal, o executivo deve se mudar de Miami para Nova York, e ficar permanentemente perto da sede da WeWork.

Wework

WeWork: prejuízo de 1,9 bilhão de dólares em 2018 (Kate Munsch/Reuters)

O IPO que não aconteceu

2019 foi um ano para esquecer na WeWork. A prometida oferta inicial de ações (IPO) começou a gerar dúvidas nos investidores depois que a empresa abriu seus números, que mostraram prejuízo de 1,9 bilhão em 2018 (o dobro do que já havia sido perdido em 2017).

Assim, o valor de mercado passou de mais de 40 bilhões de dólares para 8 bilhões de dólares, o IPO não aconteceu, e a empresa precisou ser resgatada pelo Softbank, que fez um aporte adicional, antes que a empresa ficasse completamente sem caixa -- uma vez que dependia do dinheiro a ser levantado no IPO. A startup queima cerca de 700 milhões de dólares por trimestre, segundo a média dos números divulgados no prospecto e, nessa toada, poderia ficar sem caixa já no começo deste ano.

Ao todo, o Softbank deixou mais de 10 bilhões de dólares na companhia. Em evento com jornalistas em dezembro passado, o representante do Softbank no Brasil, André Maciel, disse que, por ora, o dinheiro no Softbank está "perdido", mas os executivos do grupo japonês trabalham para reestruturar a empresa. “A gente tem uma missão lá [na WeWork] de tentar fazer a companhia viável”, disse Maciel na ocasião. “Tem muito trabalho lá pra recuperar o capital investido — por enquanto capital perdido”.

Neste cenário, Mathrani tem em seu favor o fato de ser mais mundo real do que a média da WeWork, fazendo parte de um grupo que faturou 7,2 bilhões de dólares em 2018 (seis vezes maior que o da WeWork no mesmo período). Antes do Brookfield, Mathrani também foi presidente do grupo GGP, justamente em um período em que o grupo acabará de sair de uma quase falência. O executivo reestruturou o GGP a tal ponto que a empresa foi oito anos depois adquirida pelo próprio Brookfield.

A dúvida será como complementar a cultura do mercado imobiliário tradicional ao dia-dia de uma grande startup como a WeWork. Se o movimento der certo, a WeWork pode sonhar novamente em chegar à bolsa -- e, o Softbank, em recuperar os bilhões investidos.

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