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Para as gigantes de tecnologia, o desafio não está nos balanços

Com resultados em alta, as grandes empresas de tecnologia têm o desafio de superar o escrutínio público, e uma crescente competição entre elas

Facebook: se hoje as pessoas postam no Facebook de graça, no futuro pode não ser assim (Dado Ruvic/Illustration/Reuters)
TL

Thiago Lavado

Publicado em 31 de janeiro de 2018 às 18h32.

Última atualização em 31 de janeiro de 2018 às 18h32.

Com as cinco maiores empresas do setor de tecnologia — Apple, Alphabet (companhia mãe do Google), Amazon, Facebook e Microsoft — divulgam seus resultados do último trimestre do ano passado entre quarta e sexta-feira. É uma oportunidade para analisar a quantas andam as empresas e para onde vai o setor num momento de recordes nas ações e de uma competição cada vez maior entre elas.

O índice S&P 500, um dos mais importantes dos Estados Unidos subiu 19,4% em 2017 acumula alta de 7,45% em janeiro. A marca de 2.800 pontos,  já alcançada, só era esperada por analistas de Wall Street no final do ano. Abolsa de tecnologia Nasdaq, que reúne as grandes empresas do setor, subiu 28% no ano passado e mais 7,2%. O lucro e o faturamento das empresas bateram recordes nos três primeiros trimestres de 2017, e os balanços de fechamento do ano devem confirmar o ótimo momento.

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Mas, por trás euforia, há uma série de questões em aberto sobre o futuro das companhias. Google e Facebook enfrentam problemas com o posicionamento político em propagandas, a divulgação das famigeradas “fake news” e erros de medição de dados de usuários. Na semana passada, no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, o investidor George Soros afirmou que ambas as empresas são “ameaças” à sociedade. O presidente da empresa de computação em nuvem Salesforce, Marc Benioff, comparou o Facebook à indústria do tabaco, afirmando que a rede social também precisa de regularização.

Até a recente mudança no funcionamento do algoritmo da plataforma de rede social, que agora deve focar mais em posts pessoais do que em páginas e empresas, deve ter impacto nas medições de público que o Facebook irá divulgar nesta quarta-feira. Segundo analista do banco Deutsche Bank as mudanças irão incidir na relação do Facebook com a sociedade, depois do “ano de melhora” na tecnologia da empresa. “A companhia muda o foco do comercial para o bem-estar social e podemos ver isso com as mudanças do Feed de Notícias e nas perspectivas de longo-prazo, à medida que o Facebook está sob escrutínio de políticos, reguladores e da sociedade”, escreveu Lloyd Walmsley, analista do Deutsche.

Apesar das recentes mudanças e das críticas, que impactariam fortemente as ações de qualquer outra empresa, o Deutsche elevou seu preço-alvo para as ações do Facebook de 220 para 225 dólares. É esperado que o faturamento da empresa suba para 12,6 bilhões de dólares quando o resultado for anunciado nesta quarta-feira, uma alta de 43,3% em relação ao mesmo trimestre de 2016, quando o Facebook faturou 8,8 bilhões de dólares. Já a Alphabet, que divulga o balanço na quinta-feira, espera um faturamento de 31,9 bilhões de dólares, 22,7% acima do mesmo trimestre do ano passado.

“As ações do setor [de propaganda digital] aparentam ser imunes às preocupações das notícias recentes, porque o crescimento do faturamento tem continuamente encompassado as expectativas dos investidores. Até agora, não esperamos de um impacto negativo para marcas que divulgam propagandas nessas plataformas”, afirmou Brian Wieser, analista do grupo de pesquisa Pivotal Research, em seu relatório sobre o setor.

Para a Apple, que também está na fila da divulgação, as notícias não são das melhores. Esta semana, a empresa afirmou que cortou pela metade a meta de produção do iPhone X, seu último lançamento, de 40 milhões de unidades para 20 milhões. Para o analista Toni Sacconaghi, da empresa de pesquisas Bernstein, a produção de iPhones deve fechar o trimestre com 53 milhões de unidades vendidas, abaixo dos 62 milhões esperados pela mediana dos analistas. O número é bem abaixo do que a empresa apontou no mesmo período em janeiro de 2017, quando o relatório incluiu a venda de 78,3 milhões de aparelhos.

Segundo a analista do Deutsche Bank, Sherri Scribner, os dados apontam que o “super ciclo” de celulares da empresa para o ano fiscal não irá se completar. “Os celulares eram caros demais para adoção em massa, consumidores estão mantendo seus aparelhos por mais tempo por causa do elevado custa de troca, e as novidades do iPhone X não foram suficientes para levar os consumidores a comprar novos celulares”, afirmou em relatório. Scribner também afirmou que “o consenso do mercado para os números de março e junho permanece ainda muito alto”. A estimativa é que o faturamento trimestral da Apple, divulgado na próxima quinta-feira, seja de 87 bilhões de dólares, acima dos 78,2 bilhões um ano atrás — alta de 11,25%. Investidores esperam que o lucro do trimestre seja o maior registro na história de uma empresa de capital aberto — um recorde atualmente detido pela própria Apple.

Já a Amazon, atual queridinha do mercado, tem menos notícias ruins pela frente e mais grandes desafios. Na terça-feira, a empresa afirmou que entraria no mercado de planos de saúde, junto da investidora Berkshire Hathaway e do banco JPMorgan. O mero anúncio da empreitada fez as companhias de seguros de saúde perderem mais de 30 bilhões de dólares em valor de mercado.

E essa é só a mais nova área para onde a Amazon tenta estender seus tentáculos. A empresa tem uma operação forte em serviços de computação em nuvem, mas no ano passado tentou abrir lojas físicas de livros e este ano inaugurou o primeiro mercado sem caixas, chamado de Amazon Go. O varejo de alimentos, com a compra da rede de supermercados Whole Foods no ano passado, também é uma aposta da empresa. A varejista também sustenta uma entrada no mercado de produção de conteúdo, bancando a produção de séries e filmes originais em seu serviço Amazon Prime.

Mas enquanto se mantém estável em seus negócios mais tradicionais — varejo digital, computação em nuvem e automatização de residências — a empresa tem grandes concorrentes para enfrentar nas novas empreitadas. O desafio da Amazon nesta quinta-feira, quando divulga seus resultados, é mostrar que pode superar as expectativas de Wall Street: há 8 anos a empresa decepciona no último trimestre do ano, com uma média de resultados 2,1% abaixo do esperado. A expectativa da vez é que a empresa apresente um faturamento de 59,8 bilhões de dólares, com um lucro 19% maior do que aquele apresentado há um ano, especialmente porque analistas estimam que a temporada de vendas no final do ano foi positiva para os varejistas digitais.

Em Wall Street, os faturamentos bilionários se sobrepõem à cobrança sobre as grandes empresas e à crescente competição entre elas. Os índices estão em níveis recordes e as ações sobem. Resta saber quando a festa vai acabar.

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