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Pandemia tira R$ 1 bi dos clubes brasileiros e eleva dívida para R$ 10 bi

Estádios vazios escancararam dificuldade crônica dos 20 maiores times do país em equilibrar as finanças, mostra estudo exclusivo

Estádios vazios durante a pandemia (Ricardo Moraes/Reuters)

Estádios vazios durante a pandemia (Ricardo Moraes/Reuters)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 3 de maio de 2021 às 08h02.

Se causou estragos em empresas dos mais variados setores, a pandemia da covid-19 foi especialmente cruel com os clubes brasileiros de futebol. Com finanças frágeis, estruturas de gestão em geral antiquadas e pouco investimento em negócios digitais, os times mais tradicionais do país foram presas fáceis em 2020. A crise acabou por escancarar fragilidades e pôs um ponto de interrogação sobre o futuro de instituições com milhões de torcedores.

O tamanho do baque é revelado em levantamento inédito da consultoria Sports Value. A perda somada de receita em 2020, na comparação com 2019, dos 20 maiores clubes do país chegou a 1 bilhão de reais -- o faturamento caiu de 6,1 bilhão para 5,1 bilhão. As maiores reduções foram vistas em cota de TV e premiações (menos 636 milhões de reais), bilheteria (menos 384 milhões de reais) e social e amador (117 milhões de reais). As perdas de receita variaram de 19,5% a 26% entre os clubes.

Pior: a queda no faturamento ampliou o rombo financeiro. O déficit dos 20 maiores times brasileiros somou 1,03 bilhão de reais em 2020, ampliando um problema crônico, as dívidas, que agora somam 10 bilhões de reais. O ranking de dívidas é liderado pelo Atlético-MG, que deve 1,2 bilhão de reais.

O mar vermelho nos balanços de 2020 é puxado pelo Cruzeiro, que em 2020 estreou na Série B do campeonato brasileiro: prejuízo de 227 milhões de reais. Palmeiras (menos 151 milhões), Botafogo (menos 139 milhões), São Paulo (menos 130 milhões) e Corinthians (menos 123 milhões), completam o top 5 dos piores balanços. Até o Flamengo, campeão brasileiro e modelo recente de boa gestão financeira, teve prejuízo de 107 milhões de reais em 2020.

O rubro-negro carioca, por sua vez, puxa a fila de clubes que mais perderam faturamento, afetado por fatores como menos premiações e queda na bilheteria: queda de 282 milhões de reais na receita. Cruzeiro (menos 166 milhões), Internacional (menos 160 milhões), Santos (menos 160 milhões) e Fluminense (menos 71 milhões) completam o time dos cinco que mais perderam faturamento.

(Sports Value)

O esperado fim da pandemia e a volta a alguma normalidade tende a aliviar a barra dos clubes, mas há pontos de atenção para o futuro, aponta Amir Somoggi, fundador da Sports Value. O principal deles é uma esperada redução consistente na cota de televisão -- tanto no Brasil quando na Europa, aponta Somoggi, os clubes terão que se adaptar a um "novo normal".

Enquanto empresas dos mais variados setores precisaram adaptar seus custos à nova realidade, os clubes não foram eficientes em cortar na mesma proporção. Por causa disso, fecharam 2020 com os custos com futebol correspondendo a 87% da receita, ante 79% de 2019. Muitos clubes gastaram mais com futebol do que faturaram no ano, um indicador claro de má gestão -- no Cruzeiro, os custos com futebol chegaram a 151% da receita, e não foram o bastante para levar o time de volta à primeira divisão.

Qual a saída? Somoggi aponta que uma solução comumente apontada, um projeto de lei para transformar clubes em empresa, tem desafios de largada. Como contemplar as dívidas? Separar a parte podre dos clubes de uma nova estrutura, leve e saudável, é uma saída moralmente criticada por Somoggi e por especialistas em finanças.

Um projeto do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), atual presidente da casa, e outro do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), tentam viabilizar a transformação dos clubes em empresas sem que para isso deixem as dívidas pelo caminho. Para além do modelo de gestão, porém, a solução demanda uma mudança de postura mais profunda.

"O futebol brasileiro não poderia ter custos tão elevados, com salários fora da realidade. Se não cortarem os custos, os clubes vão perder mais 1 bilhão de reais em 2021", afirma Somoggi. "Outro ponto urgente é a transformação digital. Patrocínios e programas de sócios estão estagnados, e os clubes seguem dependentes da venda de jogadores".

A pandemia acelerou transformações em empresas e instituições de todos os tamanhos – e, infelizmente, levou os menos preparados à lona. Os números da Sports Value mostram que os times de futebol também precisam mudar.

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