Os negócios e as reviravoltas de Abilio Diniz em 31 fotos
Às vésperas de iniciar uma nova fase em sua trajetória como o candidato que deve comandar o conselho da BRF, empresário ajudou a desenvolver o varejo no país
Da Redação
Publicado em 5 de abril de 2013 às 12h12.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 15h40.
Abilio Diniz é um dos nomes mais conhecidos do empresariado brasileiro. E um caldeirão de fatores explica essa popularidade. Suas tacadas foram determinantes para transformar a pequena doceria fundada pelo pai na maior rede de varejo do país, o Grupo Pão de Açúcar. E nem as rixas travadas pelo caminho - algumas das quais ainda sem solução - mudaram a imagem que o empresário construiu junto à gente comum nesse meio tempo: a de um gestor incansável, devoto de Santa Rita de Cássia e aficionado pelas atividades físicas.
Aos 76 anos, Abilio ganha novamente os holofotes com a proximidade da assembleia geral da BRF que decidirá um novo presidente para o conselho da companhia. Abilio quer ser conduzido ao cargo - e a gigante de alimentos, que nasceu da fusão entre Sadia e Perdigão, já aprovou sua indicação em chapa única para o pleito, marcado para o dia 9 de abril.
Como o empresário também é presidente do conselho do Grupo Pão de Açúcar, o Casino, que é controlador da varejista, entende que ele deve renunciar à cadeira na empresa caso entre, de fato, na BRF. Na visão do grupo francês, Abilio enfrentaria conflitos de interesse na tomada de decisões estratégicas, já que a BRF é uma das principais fornecedoras do Pão de Açúcar. Abilio rebate que a participação de executivos no conselho de diferentes companhias seria uma prática comum, sendo que nesse caso específico não haveria dependência comercial na relação das duas empresas. O empresário também lembra que o próprio Casino é conselheiro e, ao mesmo tempo, fornecedor do Grupo Pão de Açúcar (GPA).
Caso vá para a BRF, Abilio irá adicionar mais um título ao currículo que começou a preencher ainda jovem. Na foto, ele aparece atrás do pai, Valentim dos Santos Diniz, na inauguração da primeira loja do Pão de Açúcar, em abril de 1959. Ao fundo, bem no centro, está sua mãe Floripes.
Imigrante português, Valentim deu seu passo inaugural no comércio 19 anos depois de chegar ao país. Em 1948, o patriarca da família abriu a Doceria Pão de Açúcar, batizando o empreendimento com o nome da primeira paisagem que avistou por aqui, logo que desembarcou no Rio de Janeiro.
A doceria foi instalada na avenida Brigadeiro Luís Antônio, na capital paulista. O sucesso na venda dos quitutes e na oferta de serviços de buffett acabou ensejando a inauguração de duas filiais, em 1952.
Na foto, um funcionário da loja responsável pela entrega em domicílio da primeira loja da Doceria Pão de Açúcar aparece com uma encomenda nas mãos, em frente ao veículo utilizado pelo estabelecimento.
Enquanto o pai tocava o negócio, Abilio terminava os estudos. No Mackenzie, ele foi o goleiro titular da equipe de futebol do colégio (na imagem, aparece de camiseta branca). Terminado o segundo grau, ele partiu para a recém-criada Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 1956.
De olho no modelo de auto-atendimento que despontara nos Estados Unidos, Valentim decidiu criar um supermercado por aqui. Abilio, que estava de malas prontas para fazer pós-graduação na universidade americana de Michigan, foi convencido pelo pai a ficar. Com um cargo executivo na empresa, ele assistiu à abertura de portas do Pão de Açúcar número um, construído ao lado da primeira doceria do pai.
Menos de uma década depois, o negócio já contava com 40 supermercados e mais de 1.600 funcionários. Dentro da companhia, Abilio galgou degraus até virar diretor. Em 1970, ano em que a foto foi tirada, o Pão de Açúcar inaugurou sua primeira loja no exterior, mais precisamente em Lisboa, Portugal.
No ano seguinte, foi a vez de a marca Jumbo ser lançada em Santo André, em São Paulo. Aqui, Abilio é fotogrado em frente à fachada do estabelecimento, primeira investida do Pão de Açúcar no segmento de hipermercados.
Combinando uma grande oferta de produtos com espaço amplo e estacionamento, o modelo cairia nas graças dos consumidores brasileiros. Na foto, visão do interior de um hipermercado com a bandeira.
Foi nessa época que Abilio se voltou para outra paixão no mundo dos esportes. O empresário conquistou o tricampeonato brasileiro de motonáutica no final dos anos 60. Junto com o irmão Alcides, ele também levantou o troféu das Mil Milhas de Interlagos, em 1970, a bordo do carro 25 da equipe Jolly, o alfa-romeo GT-AM que aparece na foto.
Os negócios do Pão de Açúcar, no entanto, falaram mais alto e o empresário costurou de vez sua teia de contatos no mundo corporativo. Em 1979, ele recebeu a Comenda de Mérito Comercial.
Foi também em 79 que Abilio ingressou no Conselho Monetário Nacional, a convite do banqueiro e então ministro do planejamento Mário Henrique Simonsen. Abilio participou das reuniões do órgão máximo de deliberação do Sistema Financeiro Nacional até 1989.
Na foto, o empresário aparece com o então presidente José Sarney em evento da posse de Bresser Pereira no Ministério da Fazenda, em 1987.
A chegada da década de 90 foi sinônimo de uma reviravolta retumbante na vida e nos negócios do empresário. O primeiro imbróglio foi familiar. Valentim dos Santos Diniz, que aparece na imagem com o empresário, distribuiu ações a seus filhos em 88. O primogênito Abilio ficou com a maior fatia, e seus irmãos, insatisfeitos, resolveram brigar por um novo rearranjo. A contenda só terminou no começo de 94. Abilio assumiu a presidência e tornou-se dono de 51% das ações do Grupo Pão de Açúcar (GPA). Quatro dos outros cinco filhos venderam suas participações nesse meio tempo. Com dois deles, Abilio passou anos sem conversar.
Ainda em 1989, o empresário foi sequestrado e passou sete dias em um cubículo subterrâneo. O grupo de sequestradores - formado por chilenos, argentinos, canadenses e um brasileiro - pediu um resgate de 30 milhões de dólares. Todos pertenciam ao MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária). A Polícia Federal acabou encontrando o cativeiro, cercando o local por 36 horas antes da rendição dos criminosos. Na imagem, Abilio foi flagrado com Luiz Furquim e Bresser Pereira, pouco tempo depois de ser libertado.
Para manter-se de pé, o Pão de Açúcar também teve que passar por uma grande reestruturação: acossada por uma crise de liquidez, a rede de supermercados beirou a falência. Com o intuito de reverter a situação, o GPA fechou quase metade de suas lojas e demitiu milhares de funcionários.
Depois de perder a liderança do mercado para o Carrefour, em 1991, a companhia passou a investir na melhoria da rentabilidade, abrindo o capital em 95 e buscando um sócio para crescer.
O Casino foi o nome encontrado. Em 1999, o GPA vendeu uma participação ao grupo francês. Seis anos depois, a companhia recebeu um novo aporte de capital, se comprometendo, em troca, a entregar o controle da rede em 2012. A injeção de dinheiro mostrou a que veio. Desde a primeira aposta do Casino, o faturamento da companhia pulou de 6,9 bilhões de reais para mais de 50 bilhões cravados no ano passado.
Mas as relações com o sócio francês não seguiram a mesma toada, indo para o vinagre a partir de 2010. Na época, Abilio propôs a união do Pão de Açúcar com as operações brasileiras do Carrefour, contando com assessoria do BTG Pactual e financiamento do BNDES. A ideia era expandir os negócios, consolidando a presença do GPA fora do país. Mas Jean Charles Naouri, presidente do Casino, rechaçou o negócio e chegou a classificá-lo como hostil e ilegal. Desde então, a comunicação entre as partes nunca mais foi a mesma, apesar da entrega de controle para o Casino ter transcorrido exatamente como acordado por contrato. Além de ser contra a entrada de Abilio na BRF, o grupo francês riscou a verba destinada à segurança de Abilio dos gastos do GPA.
Essa não foi a única batalha pública travada por Abilio. Depois de costurar a fusão com a Casas Bahia, em 2009, o empresário viu-se no mesmo ringue que Michael Klein, fundador da rede de eletroeletrônicos, em diversas ocasiões. Os Klein quiseram rediscutir os termos da transação pouco tempo depois de fecharem o negócio. Os pontos foram revistos e o GPA fechou um novo acordo. Também pediram, no ano passado, uma indenização em função de supostos erros no cálculo do valor das empresas na época da fusão.
Antes de se unir à Casas Bahia, o crescimento do Grupo Pão de Açúcar já havia sido vitaminado pela compra do Ponto Frio, também em 2009. Com a tacada, o GPA retomou a liderança no varejo brasileiro. Mas não passou incólume pelos questionamentos posteriores à transação. A Morzan Empreendimentos, veículo de investimento de Lily Safra, ex-dona do Ponto Frio, pediu arbitragem na Câmara de Comércio Internacional (CCI) no ano passado, contestando os valores recebidos no negócio.
Neste ano, um herdeiro do Sendas também alegou na Justiça que não recebeu o que lhe era devido. Em 2003, o Pão de Açúcar comprou 60% do grupo. Em 2011, depois de uma série de batalhas judiciais, o GPA levou os 40% restantes da varejista por 377 milhões de reais.
Pendengas corporativas à parte, Abilio é rotineiramente lembrado pela forma como imprimiu seu estilo de vida e seus valores pessoais à cultura do Pão de Açúcar. Estampada no auditório do Grupo, uma de suas frases prediletas prega que é preciso buscar qualidade de vida para ter a capacidade de servir qualidade de vida. O esporte surge, para o empresário, como um pilar importante dessa jornada.
Não por acaso, os funcionários da companhia contam com uma academia, um grupo de corrida e quatro quadras de squash nas dependências da empresa. Na companhia de Abilio, um corredor contumaz, alguns participam de uma maratona anual em Nova York.
Com experiência de décadas à frente do GPA, o executivo entrou em contato com a Fundação Getúlio Vargas, onde estudou, com o intuito de compartilhar aprendizados de gestão. A instituição topou a empreitada. Desde 2010 turmas semestrais têm ensinamentos sobre liderança com base na trajetória do executivo. São 15 sessões semanais - e Abilio costuma aparecer em até quatro delas.
Torcedor apaixonado do São Paulo, o empresário não se limita a dar pitacos sobre o time no Twitter quando o assunto é futebol. Abilio criou um projeto social ligado ao esporte em 2003. Na primeira peneira do Pão de Açúcar Futebol Clube, 71.000 jovens nascidos entre 1987 e 1990 participaram da seleção. Hoje, o time tem como meta chegar à série A do Campeonato Paulista. O GPA também é dono do Sendas Futebol Clube, fundado no Rio de Janeiro em 2005.
Da união com a primeira esposa, Auri, Abilio teve quatro filhos: Ana Maria, João Paulo, Pedro Paulo e Adriana. Depois do segundo casamento, celebrado com a economista Geyze Marchesi em 2004, o empresário voltou a ser pai. Em 2006 nasceu Rafaela, a primeira filha do casal. O caçula Miguel veio depois - e completa quatro anos em novembro. A família costuma aparecer junta em eventos esportivos promovidos pelo GPA.
Na lista de bilionários da Forbes, Abilio ganhou a 16ª posição entre os afortunados brasileiros e a 363ª colocação entre os mais ricos do mundo. Seus ativos são avaliados pela publicação em 3,7 bilhões de dólares, colocando-o à frente de empresários como Antonio Luiz Seabra, da Natura (US$ 3,2 bilhões), e Rubens Ometto, da Cosan (US$ 2,6 bilhões).