Os bastidores da operação "secreta" da Brinks
Conhecer de perto a operação da companhia é algo raro para quem não trabalha lá. EXAME.com visitou a base da empresa em São Paulo. Confira:
Luísa Melo
Publicado em 29 de setembro de 2016 às 12h58.
São Paulo - Você provavelmente já se deparou com um carro-forte da Brinks ou até mesmo viu um funcionário da empresa abastecer ou coletar dinheiro em caixas eletrônicos. Mas sabia que, além de valores, a empresa transporta joias, pedras preciosas, medicamentos e produtos químicos perigosos até mesmo já entregou provas do Enem? Ou que fornece cofres para varejistas? Ver de perto a operação da companhia é algo raro para quem não trabalha lá. EXAME.com visitou sua principal base em São Paulo e observou como ela cuida dos bens que ficam sob sua responsabilidade e como treina os vigilantes. Nas fotos a seguir, conheça mais sobre a Brinks.
A Brinks foi a primeira empresa de transporte de valores a chegar ao Brasil e completa em 2016 meio século por aqui. A companhia norte-americana foi fundada há mais de 150 anos e está presente em mais de 100 países, com 70.000 funcionários.
No Brasil, ela tem uma equipe de 8.000 pessoas e é hoje a terceira maior do setor em termos de estrutura, atrás da Prosegur e da Protege, segundo a ABTV (Associação Brasileira das Empresas de Transporte de Valores). A empresa tem 69 bases em 3.000 cidades de quase todos os estados do país, com exceção do Tocantins e Acre. Na foto, está o "brucutu", primeiro carro-forte usado localmente.
Sua sede em São Paulo fica na região Norte da cidade e emprega 800 pessoas. Boa parte do prédio e das atividades que são realizadas lá não puderam ser fotografadas, por questões de segurança. Entrar na empresa também não é uma tarefa simples, mesmo para reportagem. O visitante precisa fornecer seus documentos e, durante alguns minutos, tem seus antecedentes checados. Permitido o "tour", a visita é acompanhada por um funcionário que possa liberar o acesso aos setores internos do prédio. Em algumas áreas estratégicas, há mais de uma porta de entrada e elas são abertas por etapas – como autorização remota por meio de câmeras e, na sequência, pela biometria do empregado responsável. Todo esse cuidado é para garantir que os bens operados ali estejam a salvo.
Na unidade de São Paulo, são ministrados todos os treinamentos da Brinks, desde os de liderança até os dos guardas que transportam valores. No país, a empresa tem 18 instrutores ou analistas. De janeiro a julho, eles treinaram mais de 10.000 funcionários (alguns passam por mais de um tipo de especificação), em 62.000 horas de cursos. A formação dos vigilantes não é feita pela Brinks. Ela precisa ser realizada em academias certificadas pela Polícia Federal e reciclada a cada dois anos. Na empresa, eles recebem orientações complementares. Um dos treinamentos ministrados no local é o de simulação de tiro (foto).
O treino com simulador funciona assim: a munição da arma do guarda é substituída por balas que possuem lasers acoplados. Na tela, diversos cenários e situações são projetadas (como assaltos à agência ou ao carro-forte) e o empregado precisa cumprir missões. Pelo laser, cada vez que ele aperta o gatilho, uma resposta na tela é ativada, numa espécie de videogame.
Os cursos de tiro real (foto) só podem ser feitos nas academias certificadas – e custam caro. Por isso, a empresa optou por comprar simuladores móveis. Hoje, ela tem 13 deles.
Com o equipamento, o funcionário pode atirar quantas vezes quiser, sem gastos. Cada um dos guardas passa pelo curso de duas a três vezes no ano. Além disso, no simulador, o vigilante pode usar sua própria arma, o que é proibido nas academias. A primeira coisa que se ensina aos agentes em um evento crítico é procurar abrigo, para só depois revidar, se necessário.
Apesar de ajudar bastante, o simulador não substitui os testes de tiro real, que a empresa também promove nas academias. Ela também organiza treinamentos com paintball (foto). Além de atirar, a Brinks também prepara os motoristas em cursos de direção defensiva, para fugir de situações perigosas.
Resumidamente, o transporte de valores (a atividade mais conhecida da Brinks) segue o seguinte roteiro: a empresa coleta o dinheiro nos caixas eletrônicos ou cofres dos clientes, o leva para sua base, confere a quantia e, depois, deposita tudo na tesouraria de algum banco (ou leva para outro destino, conforme o caso). Para abrir os caixas ou cofres, os agentes precisam ter uma senha. Ela é gerada somente no momento da retirada do dinheiro por uma central de suporte que recebe os pedidos (foto). É de lá que sai a ordem para os times das outras filiais buscarem ou levarem mercadorias para qualquer lugar.
Depois da coleta, o dinheiro é levado para uma unidade da Brinks para ser contado e separado. Os lotes são depositados em máquinas que fazem a contagem automaticamente, em segundos. O processo é realizado duas vezes. Os funcionários que trabalham no local não podem entrar lá com nenhum pertence. Tudo é guardado antes. Todo o processo de contagem é filmado por câmeras e o cliente pode pedir a gravação caso queira conferir como tudo foi feito.
Quando aparece alguma diferença entre a quantia que deveria ter sido entregue à Brinks e a que de fato chegou até lá, o momento exato onde o erro aconteceu pode ser identificado por meio de softwares instalados nos ATMs e nas máquinas que contam o dinheiro. Depois de tudo checado, as notas são separadas em lotes padronizados pelo Banco Central e seguem para o cofre da Brinks até ganharem novo destino. EXAME.com não pôde visitar o local onde ocorre a contagem de moedas. Por conta do peso que elas têm e do barulho que fazem quando se chocam, o processo acontece em um cômodo especial da unidade. A Brinks não revela quantos funcionários trabalham nesses setores, nem quantos equipamentos de contar cédulas tem, por segurança.
Os veículos e as equipes que transportam os valores também são controlados por uma central. Toda a frota é monitorada por rádio e GPS. Na base de São Paulo, há dezenas de carros-fortes (a Brinks não abre a quantidade exata). Por conta da blindagem e dos aparelhos de segurança, cada um deles pesa 6 toneladas.
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