Negócios

O (premiado) negócio milionário de queijo de SC criado pelos fundadores da Eisenbahn

Irmãos fundadores da cervejaria criaram a queijaria artesanal e usaram lições do primeiro negócio para fazer a marca de queijos decolar

Juliano e Bruno Mendes, da Pomerode: "Começamos a perceber que o consumidor brasileiro passou a valorizar o que é daqui” (Raphael Günther/Exame)

Juliano e Bruno Mendes, da Pomerode: "Começamos a perceber que o consumidor brasileiro passou a valorizar o que é daqui” (Raphael Günther/Exame)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 2 de dezembro de 2023 às 09h34.

Qual a relação entre cerveja e queijo? Num primeiro momento, é difícil encontrar conexão entre as duas coisas - a não ser, talvez, que ambas são o alimento e a bebida predileta de muita gente por aí. E que você pode encontrar os dois na mesa de um bar: a cerveja para beber, o queijo, para beliscar.

Para os irmãos Juliano e Bruno Mendes, os dois produtos significam negócio. E mais: a possibilidade de chacoalhar o mercado. 

Os irmãos Mendes são os fundadores da Eisenbahn, cervejaria de Blumenau, em Santa Catarina, que foi vendida em 2008 para o grupo paulista Schin, hoje parte da holandesa Heineken

Cinco anos depois, compraram um laticínio e criaram a Pomerode, uma queijaria artesanal localizada na cidade de mesmo nome, a 175 quilômetros da capital Florianópolis. 

Nos dois negócios, algo em comum: a tentativa de popularizar produtos artesanais, criando um mercado para disputar com os itens comerciais. 

“Quando a gente começou a cerveja, as marcas comerciais que estavam no supermercado eram suaves, sem aromas, com pouco sabor. Nós trouxemos uma amarga, aromatizada, lembrando café”, diz Mendes. “Isso chocou muito. Mas hoje, a IPA é uma das mais vendidas. Com o queijo, a mesma coisa. O queijo artesanal tem um sabor mais forte, assim como seu cheiro. E o consumidor vai se acostumando”. 

A Pomerode está trabalhando para fechar 2023 com um leve crescimento frente a 2022, quando enfrentou uma dificuldade setorial. Em meados do ano passado, o litro do leite chegou a passar de 10 reais em algumas regiões. “Como o queijo é, basicamente, leite, teve um impacto direto no nosso resultado”.

 As receitas da empresa neste ano devem fechar em 15 milhões de reais. O crescimento estimado é de 30%. O foco para o próximo ano é lançar novos produtos originais, um diferencial da Pomerode e que fez ela ser reconhecida mundialmente. 

Como a Pomerode ganhou prêmios internacionais

Quando os irmãos Mendes compraram a queijaria em 2013 para fazer queijo, tinham um objetivo: criar queijos no Brasil com a mesma fama dos europeus. Era algo que já tinham tentado fazer (com êxito) na cervejaria. 

“Queríamos quebrar a imagem de que, só porque a cerveja é alemã é melhor do que a brasileira, ou só porque o queijo é francês, é melhor do que o do Brasil", diz Juliano. “Não é porque é estrangeiro que é melhor”.

No início, a empresa até focou sua produção em queijos do tipo europeu, como os de mofo branco (feitos pelo fungo da família dos Penicillium, como o Brie e o Camembert) e do tipo Raclette (parecida com o founde). 

No final de 2019, porém, resolveu fazer o primeiro queijo com receita totalmente local. É o queijo Morro Azul. A ideia foi dar o nome de um local conhecido da cidade, algo já tradicional no universo de queijos. Brie, por exemplo, é uma comuna francesa a 28 quilômetros de Paris. Gouda, uma cidade holandesa. 

E Morro Azul? É um dos principais pontos turísticos de Pomerode. 

“O que é produzido no Brasil evoluiu muito, e começamos a perceber que o consumidor brasileiro passou a valorizar o que é daqui”, diz Mendes. 

O reconhecimento não foi só interno. O Morro Azul foi eleito, em outubro, o melhor queijo da América Latina pela organização do 35º World Cheese Awards, que elege os melhores queijos do mundo. Com esse, já são mais de 30 prêmios para a marca catarinense. 

O queijo, nas especificidades técnicas, passa por um processo de produção voltado para a retenção de umidade, com o objetivo de dar alta cremosidade. Depois, ele é salgado e posteriormente envolto em uma cinta de madeira, que garante estrutura e ajuda na composição do aroma e sabor. 

Hoje, o Morro Azul já não é o único queijo local feito pela Pomerode. Recentemente, lançaram o queijo Vale do Testo, com o nome do rio que corta a cidade catarinense. 

Como surgiu a oportunidade de trabalhar com queijo 

Juliano Mendes, sócio e queijeiro da Pomerode, lembra que o empreendedorismo está enraizado em sua família há muito tempo.

O avô era um homem de vários negócios: madeireira, curtume, imobiliária, construtora. O pai herdou a veia empreendedora e também tocou os negócios da família. Os netos - Juliano e Bruno -, de certa forma, também seguiram o espírito empreendedor.

Quando terminaram a faculdade, os dois foram para os Estados Unidos estudar. Lá, viram um movimento de popularização de cervejas artesanais como a Samuel Adams. O ano era 2002. Ao voltarem para o Brasil, passaram a estudar a abertura da cervejaria e criaram a Eisenbahn. 

“Um dos trabalhos que fazíamos com cerveja era harmonizar com a comida”, diz Mendes. “Bruno e meu pai foram para um congresso de cervejaria, e a palestra toda foi voltada para harmonização de cerveja com queijo. Foi nosso primeiro contato com o mundo dos queijos”.

Em 2008, venderam a marca para o grupo Schincariol, hoje pertencente à Heineken. Nos anos seguintes, passaram a cuidar de alguns restaurantes e consultorias na região de Blumenau e a estudar mais sobre o universo de queijos, até comprarem o laticínio em 2012 para abrir a Pomerode no ano seguinte. 

Quais os próximos passos da Pomerode

Hoje com uma atuação mais forte no B2B e com uma loja física na cidade, a queijaria estuda como ganhar novos mercados e aproveitar também a raíz turística do município de Pomerode para seguir crescendo. 

“Pomerode é a cidade mais alemã do Brasil”, diz. “A cidade vem se transformando num destino turístico muito forte por conta disso, assim como aconteceu em Gramado. Há eventos importantes que atraem muitas pessoas, e nossa loja está no centro da cidade. Temos que aproveitar isso”.

Na visão macro, já há boas diferenças da época na Eisenbahn. “Lá, começamos quase sozinho, com uma concorrência pequena”, diz. “Hoje, com queijo, não é assim. Temos várias queijarias artesanais pelo Brasil, num movimento que ganha força. E já há queijos regionais bem conhecidos, como os queijos da Serra da Canastra”.

O desafio, mesmo, agora é fazer com que esses queijos cheguem ao consumidor final e disputem espaço na gôndola com os queijos industriais. Processo que, aos poucos, vêm sendo superado. Quando compraram a queijaria em 2013, ela faturava 400.000 reais anuais. Agora, já passa dos 15 milhões de reais. 

Como deram esse salto?

  • Melhorando a parte comercial, abrindo novos clientes. "Estruturamos um time comercial que ia até os supermercados e apresentava o produto para nosso parceiro varejista", afirma Mendes.
  • Investindo em marketing, usando os aprendizados da época da cervejaria. “Cerveja tem um dos melhores marketings do Brasil, e tivemos que aprender para entrar no jogo”, diz Mendes. “Usamos esse aprendizado com o queijo”.
  • Investindo na qualidade do produto. Também usando o aprendizado que tiveram com a Eisenbahn, entenderam que para o público que consome produtos artesanais, a qualidade é tópico fundamental para crescimento do negócio, porque gera recomendações e vontade das pessoas de voltarem a consumir.
  • Focando na expansão. “Resolvemos retomar o investimento, estamos estruturando equipe comercial”, afirma. “Estamos abrindo distribuidores, e voltando produtos voltados para food service, como restaurantes, que a gente atua muito pouco. Vamos crescer nos próximos anos”.
Acompanhe tudo sobre:QueijosCervejasSanta Catarina

Mais de Negócios

Empreendedor produz 2,5 mil garrafas de vinho por ano na cidade

Após crise de R$ 5,7 bi, incorporadora PDG trabalha para restaurar confiança do cliente e do mercado

Após anúncio de parceria com Aliexpress, Magalu quer trazer mais produtos dos Estados Unidos

De entregadores a donos de fábrica: irmãos faturam R$ 3 milhões com pão de queijo mineiro

Mais na Exame