O impacto do governo Bolsonaro nas vendas da Taurus
As vendas de armas para civis já estão em alta por conta da campanha presidencial, mas efeitos dos decretos deve demorar
Karin Salomão
Publicado em 15 de maio de 2019 às 06h00.
Última atualização em 15 de maio de 2019 às 06h00.
A fabricante brasileira de armas Taurus divulgou seu primeiro resultado trimestral do governo Bolsonaro, conhecido por incentivar a posse de armas. Mesmo com dois dois decretos para simplificar o mercado, o impacto para a Tauris deve demorar a chegar.
Os números da fabricante brasileira de armas vieram positivos no trimestre. Ela atingiu lucro bruto de 92 milhões de reais, com alta de 9,1% na receita operacional, que chegou a 252,1 milhões de reais. No entanto, segundo o presidente Salesio Nuhs, a melhora nos números veio principalmente por conta da reestruturação da companhia feita no último ano, desde que ele assumiu o comando.
Além das melhorias operacionais, a companhia ganha valor no mercado por conta do cenário político. O presidente Jair Bolsonaro já emitiu dois decretos para facilitar a posse de armas. O primeiro, de janeiro, facilita a aquisição e registro de armas.
O segundo, assinado no início de maio, simplifica o registro de novos locais de venda de armas, amplia as categorias profissionais que têm direito à posse e aumenta a quantidade de munição que pode ser comprada anualmente. Também libera a importação de armas, hoje proibida quando existem similares no Brasil. Além disso, amplia as permissões para equipamentos até então restritos às Forças Armadas.
No entanto, Consultores da Câmara dos Deputados e do Senado apontaram, em análises técnicas, inconstitucionalidades no decreto presidencial. Segundo eles, o decreto“extrapolou os limites legais” ao desrespeitar o Estatuto do Desarmamento.Parlamentares ameaçam sustar os efeitos do decreto de Bolsonaro.
Para a Taurus, uma das vantagens dos decretos é poder oferecer todo o seu arsenal aos consumidores brasileiros. "Não somos uma fábrica apenas de revólveres, temos fuzis, metralhadoras, armas esportivas, portfólio agora mais acessível no Brasil", afirma Nuhs.
A empresa tem cerca de 500 itens diferentes no portfólio. No ano passado, lançou 50 novos produtos e, no primeiro semestre deste ano, fez 14 lançamentos. Por enquanto, as novidades não estarão disponíveis tão cedo para o mercado, por conta da burocracia para registrar novos produtos.
No entanto, os dois decretos ainda não tiveram impacto nos resultados da Taurus, já que o processo para adquirir uma arma é demorado, diz o presidente. "O protocolo é perfeito, concordo que é necessário ter exigências técnicas e psicológicas para a compra, mas é muito moroso, então ainda não vimos aquecimento do mercado por esse motivo", responde o executivo.
As vendas de armas para civis brasileiros já estão em alta, mas por conta da campanha presidencial e não como resultado das últimas resoluções, diz o presidente da empresa. Como a posse de armas foi um assunto muito discutido durante as eleições, houve aumento do interesse da população.
No Brasil, as vendas caíram de 31 mil unidades no último trimestre do ano passado para 25 mil unidades este ano. Nuhs explica que a queda é sazonal e por conta de instituições de defesa, que não costumam fechar negócios no início do ano. Em relação ao primeiro trimestre do ano passado, as vendas aumentaram 13,6% no país.
As novas políticas não mudam o cenário regulatório, visto como essencial pela fabricante brasileira. Até então, a Taurus detinha virtualmente o monopólio no Brasil, por conta das barreiras de importação. Com a abertura do mercado, ela deve enfrentar concorrentes fortes, mas em condição desigual. Segundo o presidente, há mais barreiras e requisitos para a produção nacional do que para a importação dos produtos.
Mesmo assim, Nuhs afirma não se preocupar com a concorrência estrangeira. "Hoje, conseguimos entregar o produto em até três dias, temos uma equipe de pós-vendas e estoque de peças de reposição. Por isso, a abertura para a importação não nos assusta", diz.
O aquecimento do mercado no Brasil deve ter impacto limitado para a empresa, já que grande parte das vendas da companhia são feitas no exterior. Apenas 14,4% da receita vem do Brasil, enquanto mais de 80% vem dos Estados Unidos. O restante vem de outros países.A grande mudança deve vir com a inauguração de uma nova fábrica nos Estados Unidos, na Georgia, que deve dobrar a capacidade instalada de produção para 800 mil armas por ano.