A Avianca Holdings não é a primeira e não será a última a pedir socorro em meio à pandemia (Avianca/Divulgação)
Karin Salomão
Publicado em 11 de maio de 2020 às 15h16.
Última atualização em 11 de maio de 2020 às 15h34.
A Avianca Holdings, companhia aérea de passageiros mais antiga das Américas, pediu recuperação judicial ontem, 10, e diz que está enfrentando a maior crise de sua história centenária. Com 5,3 bilhões de dólares em dívidas e obrigações contratuais, a empresa busca renegociar esses pagamentos em meio à crise criada pela pandemia do novo coronavírus.
Ela é a segunda maior companhia aérea das Américas, tendo transportado 30 milhões de passageiros e 600 milhões toneladas de carga em 2019. Ela tem 21.000 funcionários na América Latina, sendo 14.000 na Colômbia, e opera em mais de 27 países na região.
Sua irmã brasileira, a Avianca Brasil, pediu recuperação judicial em dezembro de 2018. As histórias das duas, no entanto, vêm de contextos diferentes: a crise da colombiana é reflexo de desafios globais para o setor, enquanto a brasileira quebrou em um momento de recuperação das companhias aéreas no país.
A colombiana andou enfrentando sérias dificuldades financeiras no ano passado. Quando divulgou um prejuízo de 67,9 milhões de dólares no primeiro trimestre do ano, levou os outros acionistas da empresa como a United Airlines e a empresa de participações salvadorenha Kingsland Holdings a pedir o afastamento do então acionista majoritário Germán Efromovich do conselho de administração.
Em troca de um empréstimo de 250 milhões de dólares para dar fôlego à empresa, os sócios minoritários no começo de outubro exigiram que Efromovich, que tinha participação de 51,5% na Avianca Holdings, se afastasse do dia a dia da companhia.
Com mais de 90% dos voos cancelados por causa da pandemia do novo coronavírus, as companhias aéreas estão enfrentando dificuldades em todo o mundo. A pandemia as atacou em um momento de expansão do setor. A demanda e o número de passageiros transportados cresciam, o custo do barril de petróleo diminuiu e as aéreas faziam novos pedidos de aeronaves.
Grandes crises como essa afetam especialmente companhias aéreas por causa de sua estrutura financeira. De acordo com Felipe Bonsenso, especialista em direito aeronáutico, empresas aéreas de um modo geral trabalham com margens apertadas, sem uma grande reserva de caixa.
Como as aéreas não detêm suas aeronaves e as arrendam de empresas de leasing, também têm altas despesas fixas, que continuam precisando pagar mesmo com os aviões em solo e que podem chegar a centenas de milhares de dólares por avião.
As companhias que não estão alocadas na Europa ou nos Estados Unidos também sofrem com a variação do dólar em relação a suas moedas locais, que impacta grande parte de seus custos, como valor do arrendamento e do combustível.
Assim, com a pandemia, seu balanço apertado fica ainda mais insustentável. O exemplo da Avianca Holdings é o mais recente, mas não o único. Uma das primeiras vítimas no setor foi a Flybe, companhia aérea britânica regional que encerrou suas atividades no início de março. Em 20 de abril, a companhia aérea de baixo custo Norwegian Air Shuttle anunciou a falência de quatro filiais na Suécia e na Dinamarca. A American Airlines e a Southwest Airlines apresentaram os primeiros prejuízos trimestrais em muitos anos de ganhos.
Nesse momento, muitas aéreas buscam ajuda do governo, seja em forma de empréstimos, seja a emissão de ações ou de debêntures. O Tesouro dos Estados Unidos já distribuiu 12,4 bilhões de dólares em ajuda do governo federal a companhias aéreas, de um pacote que pode chegar a 25 bilhões de dólares. No Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está desenhando um pacote de ajuda de 4 bilhões a 7 bilhões de reais para o setor aéreo.
Uma crise semelhante ocorreu após o ataque às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, em Nova York. A demanda por voos também encolheu significativamente e muitas companhias aéreas americanas pediram proteção contra a falência ou recuperação judicial, conhecido como o Chapter 11 na lei americana.
Segundo Bonsenso, a maior parte das companhias se recuperou depois de dois ou três anos do ataque e algumas empresas compraram outras menores, em um momento de consolidação do mercado em grandes grupos. A mesma tendência de aquisições já começa a ser vista por aqui e o especialista acredita que as empresas devem se recuperar. A principal companhia aérea da Argentina, a Aerolíneas Argentinas, e sua subsidiária Austral deram início a um processo de fusão para reduzir custos, por exemplo.
O pedido de recuperação da Avianca Holdings remota à recuperação de sua irmã brasileira. Há pouco mais de um ano e meio, a Avianca Brasil pediu recuperação judicial, seus aviões foram devolvidos às empresas de arrendamento e seus slots, horários de pouso e decolagem em aeroportos disputados, divididos pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
As duas empresas eram controladas pelos irmãos Efromovich: enquanto a colombiana estava nas mãos de Gérman, José controlava a brasileira. As duas também têm a mesma marca, o Synergy Group como controlador, e fazem parte da mesma aliança global, a Star Alliance, mas operam de forma distinta.
No entanto, a história das duas é diferente, diz Bonsenso. Quando a brasileira pediu recuperação judicial, ela estava sendo pressionada por alguns credores, as empresas de leasing, a devolver as aeronaves arrendadas. Essas empresas redistribuíram esses aviões a outras aéreas com maior demanda.
Agora, todas as aéreas estão em dificuldades e não há demanda. "Os credores não têm o mesmo poder nem interesse de retomar as aeronaves, porque não há um mercado para realocação. A Avianca colombiana está em uma posição mais privilegiada e pode ter mais sucesso no seu plano", diz o especialista.
No quarto trimestre do ano, a empresa reportou lucro operacional de 98,6 milhões de dólares. No ano, o lucro operacional foi de 181 milhões de dólares.
A Avianca Holdings não é a primeira e não será a última a pedir socorro em meio à pandemia.