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O Brasil está pegando fogo. Esta empresa tem uma solução — e já combateu 25.000 incêndios

Queimadas em florestas nacionais já afetaram 15,4 milhões de pessoas e ocasionaram prejuízos de R$ 1,3 bilhão à economia do país

Rogério Cavalcante, da Umgrauemeio: temos tecnologia e ambiente para mostrar ao mundo como cuidar da natureza (André Noboa/Divulgação)
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 27 de setembro de 2024 às 11h25.

Fazia pelo menos duas décadas que o Brasil não queimava tanto como em agosto e setembro de 2024. Incêndios na Amazônia, no Pantanal, no Cerrado e no estado de São Paulo fizeram com que 60% da área do país ficasse debaixo de uma densa fumaça que mudou a paisagem de centenas de cidades.

Um levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM) divulgado na última quinta-feira, 26, aponta que as queimadas em florestas nacionais já afetaram 15,4 milhões de pessoas e ocasionaram prejuízos de 1,3 bilhão de reais à economia do país.

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Agora, se é verdade que as queimadas nestes últimos dois meses assustam pelo tamanho e pelo estrago, também é verdade que as mudanças climáticas têm ligado o alerta para maiores picos de incêndios há anos no Brasil e no mundo.

O empreendedor Rogério Cavalcante sabe bem disso. Numa conversa despretensiosa num avião no final de 2016, ele descobriu sobre incêndios em canaviais. Também soube que praticamente não havia tecnologia no Brasil para prevenir esse fogo.

“Sou um empreendedor serial. Naquela época, já tinha uma vida financeira resolvida, mas faltava algo que fizesse brilhar os olhos”, diz. “Quando soube que havia pouca tecnologia para prevenir incêndios, entendi que dali poderia surgir um novo negócio”.

Esse novo negócio viria a ser a Umgrauemeio, cujo nome é uma referência à meta global de limitar o aquecimento do planeta a 1,5 grau Celsius.

A climate tech usa câmeras de alta resolução para encontrar focos de incêndio. “Essas câmeras ficam girando 360 graus e detectam qualquer sinal de fumaça em menos de 3 segundos”, diz Cavalcante.

A tecnologia monitora mais de 17,5 milhões de hectares atualmente, entre florestas, áreas nativas e lavouras. Desde o começo, detectou e ajudou a combater mais de 25.000 focos de incêndio pelo país, evitando a emissão de 18 milhões de toneladas de CO₂ e prejuízos estimados em 100 milhões de reais.

“Todo incêndio, quando começa, pode ser apagado por um único pé”, diz o empreendedor. “Todo incêndio começa pequeno. Quanto mais rápido você detecta um princípio de incêndio, menor vai ser o esforço de combate. Não vamos ter como evitar os focos de incêndio, eles vão ocorrer. O que precisamos evitar é que o foco se torne incêndio”.

Veja imagens dos incêndios em diversas cidades de São Paulo

Como está o trabalho da Umgrauemeio agora

Os principais clientes da empresa são produtores, principalmente da silvicultura e da indústria da cana de açúcar, preocupados com os danos de incêndios em seus negócios. Há também uma frente de empresas que contrataram os serviços da Umgrauemeio em suas frentes de ESG.

“Acreditamos que, ao invés de empresas comprarem crédito de carbono, também podem investir diretamente em ações contra o desmatamento”.

Um exemplo é o projeto Abrace a Floresta, liderado pela JBS, que contrata a Umgrauemeio para monitorar 2,5 milhões de hectares de área no Pantanal.

Ao ver os incêndios devastando regiões inteiras da Floresta Amazônica, do Cerrado e de São Paulo, a primeira sensação de Rogério foi de tristeza.

“Tristeza em ver o que está acontecendo e saber que temos uma tecnologia pronta que pode evitar isso. Que podemos fazer mais pelas florestas”, diz. “Isso não é novidade. Sabemos que pode acontecer por mais de sete anos. Causas e condições ocorreram. Tivemos a junção da tempestade perfeita”.

No Pantanal, por exemplo, dentre aqueles 2,5 milhões de hectares monitorados pela startup, as únicas áreas que pegaram fogo foram nos casos em que o incêndio já tinha começado em regiões fora do monitoramento.

“Existe uma definição que o monitoramento por satélite pode identificar focos de incêndio em quarenta minutos, mas isso se ele estiver alinhado com o local do fogo”, afirma. “Numa média, levam de três a seis horas para saber que um lugar tem foco de incêndio. É um tempo fatal”.

No entendimento do empreendedor, a definição por satélite é boa para áreas de baixo risco. Já aquelas que precisam ser monitoradas no detalhe, principalmente por causa da recorrência, é importante que haja investimentos em tecnologias que detectem o quanto antes.

Do tamanho de área protegida pela empresa, 10 milhões de hectares são em florestas e matas nativas, e outros 7,5 milhões de hectares no agronegócio.

Dedicar o tempo para não correr atrás do tempo

O cenário triste visto nos últimos dois meses pode servir de alerta para que mais empresas apostem em tecnologias como a da Umgrauemeio para se proteger do fogo.

“Em 2019, eu vendi todas as minhas outras empresas para me dedicar a esse negócio. Fazer algo que gere um valor positivo para humanidade, e essa é a maior prova de esperança que tenho que a sociedade vai olhar com mais atenção para esse assunto”, afirma.

“Os tempos estão mudando. Os incêndios acontecem mais rapidamente. Precisamos trabalhar para que o tempo do incêndio não supere o nosso próprio tempo”, diz. “É para isso que estou dedicando meu tempo. Para dar uma pequena contribuição e para não precisarmos correr atrás do tempo no futuro”.

Acompanhe tudo sobre:StartupsIncêndios

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