Petrobras: companhias parceiras da estatal estão anunciando paralisação de projetos e cortes de funcionários (REUTERS/Sergio Moraes)
Karin Salomão
Publicado em 23 de abril de 2015 às 17h03.
São Paulo - A desaceleração dos investimentos da Petrobras, causada pelo prejuízo recorde da companhia, pode ter um grande impacto em outras empresas brasileiras, segundo analistas ouvidos por EXAME.com.
Desde o estouro da Operação Lava Jato, companhias parceiras da estatal estão anunciando paralisação de projetos e cortes de funcionários.
Para Luciana Nazar, sócia da GO Associados especializada no setor de infraestrutura, “com menos investimentos, outras empresas do setor também terão menos projetos e menos contratações”.
Esses impactos ainda devem se intensificar nos próximos dois a três anos, segundo Daniel Marques, analista da Gradual Investimentos, “até a Petrobras botar ordem na casa e se normalizar”.
No ano passado, os investimentos foram de 35 bilhões de dólares, uma queda de 17% em relação a 2013, segundo balanço divulgado ontem, pela estatal. Já para este ano, a previsão é de investir apenas 29 bilhões de dólares. Em 2016, serão 25 bilhões de dólares.
Uma das empresas mais afetadas, segundo os analistas, é a Lupatech. A empresa, que fornece tubulação para plataformas e passou por processo de recuperação extrajucicial, registrou um prejuízo 67% maior em 2014 em comparação com 2013.
De acordo com Marques, os pedidos feitos pela Petrobras diminuíram e a companhia já começou a demitir. A Lupatech afirmou, em comunicado, que “a instabilidade gerada por esta situação tem um efeito negativo em toda a cadeia de fornecedores”.
As empresas ligadas à Petrobras também enfrentam rebaixamento de raiting e dificuldade para obter crédito, afirma Luciana.
A Sete Brasil é uma das que luta para não afundar. A empresa de sondas de águas ultraprofundas e parceira da Petrobras passou a ter dificuldade em obter financiamento de longo prazo.
Também não consegue pagar seus credores, tem atrasado pagamentos e enfrenta rebaixamento de raiting.
Criada em 2010 para produzir sondas para a estatal explorar o pré-sal, a Sete Brasil havia feito um pedido de 28 sondas, número que pode cair para 15 unidades.
Postergar obras e investimentos também “pode aumentar o desemprego em setores como indústria naval e construção civil”, segundo Luciana.
Como exemplo, ela cita as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). No fim de janeiro, a Petrobras rompeu o contrato com a empresa Alumini para esse projeto. Cerca de 2.500 devem ser demitidos do canteiro de obras.
Em outubro, outros 4.900 empregados da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, também haviam sido desligados após problemas com a principal cliente.
Inicialmente, as empresas de construção civil, indústria naval e que fornecem partes específicas serão as mais afetadas. “Esse é o primeiro momento. Mas não é só isso”, diz Marques.
“Quando a Petrobras anuncia a construção de uma plataforma ou refinaria, normalmente não há nada em volta”, afirma ele.
É aí que começa o investimento de diversas empresas que se preparam para criar uma estrutura, com hotéis, restaurantes, casas e hospitais, por exemplo.
“São lugares voltados às milhares de pessoas que trabalham na construção, como cidades feitas do zero”, diz Marques.
Quando a Petrobras cancela uma refinaria ou adia um investimento, “gera um problema em toda a cadeia ao redor da obra”, afirma o analista.
Porém, apesar dos impactos negativos em outras empresas, a redução nos investimentos “é mais do que necessária” para sair do fundo do poço, acredita o analista.
Segundo ele, o que a Petrobras tem em caixa não seria o suficiente para aumentar os investimentos, o que significa que a empresa precisaria pedir mais empréstimos e, consequentemente, aumentar sua dívida.
Para o analista, a proporção entre a dívida e o Ebitda está ruim. Hoje, ela é de 4,77, mas o mercado entende que o número adequado deveria ser de, no máximo, 3, diz ele.