"A Petrobras não teria condições para continuar investindo 45 bilhões de dólares todo ano”, diz analista (Paulo Whitaker/Reuters)
Karin Salomão
Publicado em 30 de junho de 2015 às 10h48.
São Paulo - Os cortes de 37% nos investimentos anunciados hoje, 29, pela Petrobras foram uma medida necessária, afirmaram analistas à EXAME.com, considerando a situação atual da empresa.
À primeira vista, um corte de quase 40% de investimentos da maior empresa do Brasil não é uma notícia boa. Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura, o corte “é uma má notícia que todos esperavam”.
No entanto, “é uma medida extremamente necessária, pois a empresa não teria condições nem dinheiro para continuar investindo 45 bilhões de dólares todo ano”, diz Pires.
Os analistas afirmaram que o que chamou a atenção foram as premissas usadas pela companhia, mais alinhadas com o mercado do que de costume.
Segundo Daniel Marques, analista da Gradual Investimentos, nos planos e relatórios anteriores, a “Petrobras usava números e parâmetros que eram longe da realidade”. Desta vez, os números anunciados foram mais realistas.
O preço médio do barril de petróleo, de 60 dólares em 2015 e 70 dólares entre 2016 a 2019, está próximo do esperado pelos analistas. Já o câmbio, avaliado em 3,10 reais em 2015, está um pouco mais distante das estimativas do mercado, mas mais razoável do que no passado.
Apesar dos parâmetros mais realistas que nos planos anteriores, Pires está incrédulo em relação às perspectivas de desinvestimento até 2016 – a Petrobras afirmou que irá desinvestir cerca de 15,1 bilhões de dólares no período.
Segundo o analista, o mercado está “mais para vender do que para comprar” e ele acredita que será um desafio conseguir arrecadar esse valor em pouco menos de dois anos.
Além disso, surpreende o analista que a empresa tenha anunciado desinvestimentos de 42,6 bilhões de dólares até 2019, que é quase o valor total de mercado da Petrobras.
Os especialistas afirmaram que, a curto prazo, os cortes serão suficientes para reorganizar a estrutura da empresa.
A empresa irá investir 83% do total anunciado na área de exploração e produção de petróleo. Esse é o segmento mais produtivo e “leva a empresa nas costas”, diz Marques.
“Com uma quantidade limitada de capital para investir, focar nesse segmento é uma escolha inteligente”, afirma ele.
Apesar de ter divulgado suas diretrizes tão aguardadas – e adiadas algumas vezes – a Petrobras não divulgou exatamente onde os cortes serão feitos, quais projetos serão priorizados e quais serão paralisados. “Continuamos no escuro, sem saber o que vai acontecer”, disse Marques.
Sobre a proposta da companhia, de reduzir a relação entre endividamento líquido e o EBITDA a número inferior a 3,0 vezes até 2018 e a 2,5 vezes até 2020, Marques afirmou que “não acho que seja difícil”.
A empresa, que fechou o ano passado com uma relação de 4,8, já conseguiu diminuir o número para 3,8 no primeiro trimestre deste ano.